![© LÍGIA TRIGO](ilustras/p10a.jpg)
Todos os que viajam para atividades
do Núcleo de Extensão
em Medicina Tropical (Numetrop)
da Faculdade de Medicina
da USP recebem um documento de
orientação preparado pela Divisão
de Clínica de Moléstias Infecciosas e
Parasitárias do Hospital das Clínicas
da faculdade. O núcleo recebe para
as atividades não apenas alunos da
USP: estudantes de outras escolas
médicas do País e também alunos
estrangeiros buscam o estágio.
O documento é um excelente guia
de sobrevivência: traz informações,
referências, indicações. A partir dele,
tenho desde a noção dos custos de
um táxi até os roteiros de chegada
de avião ou barco, passando pelas
informações sobre os produtos que
encontro facilmente lá (rede, corda
para rede, mosquiteiro) ou que devo
levar daqui (tênis e/ou botas, principalmente
para os homens, já que em
Santarém é difícil achar numeração
maior que 40). Tenho convicção de
que qualquer estudante que escolher
o estágio terá, nesse documento, todas
as informações necessárias. A viagem
começa a fi car mais real para mim.
Para viajar para a região, a vacina
fundamental é a contra febre amarela,
que deve ser tomada pelo menos
dez dias antes da viagem e que tem
validade de dez anos. Também é aconselhável tomar as vacinas contra
febre tifóide e hepatite A.
Santarém, 27.7.07 – Santarém é
uma cidade grande, a segunda maior
do Pará, com população estimada
de 300 mil pessoas. Está a mais de
1.300 quilômetros da capital do Estado,
Belém. Chamada de Pérola do
Tapajós, Santarém, na verdade, fi ca
no encontro entre os rios Amazonas
e Tapajós – um raro espetáculo de
beleza, quando as águas barrentas
do Amazonas se misturam às transparentes
do Tapajós. Embora esteja
no Pará, utiliza o fuso horário do
Amazonas: uma hora menos que o
horário de Brasília.
A temperatura é bem elevada
mesmo nesta época do ano e o clima
é bem úmido. A população local tem
grande orgulho da cidade e é comum
ver, nos veículos, adesivos defendendo
a criação do Estado do Tapajós.
Vou até o Hospital Municipal
de Santarém conhecer o trabalho
da Faculdade de Medicina da USP.
Quem me acompanha é uma das
coordenadoras do ambulatório,
doutora Melissa Mascheretti. Ela
divide a coordenação com outra
médica, doutora Mariana Quiroga.
Além delas, três médicos (doutores
Ligia Figueiredo, Paulo Abati e
Pasesa Quispe) supervisionam os
estagiários, que vêm de diversas e são supervisionados pelo Departamento
de Moléstias Infecciosas
e Parasitárias da faculdade e já
ultrapassou a área de infectologia:
o Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina tem oferecido
treinamento para profi ssionais de
saúde do município em diversas
áreas, colaborando, inclusive, para a
implantação da UTI do hospital.
Nas atividades de enfermaria, eles
são responsáveis pelo atendimento
de cerca de 20 pacientes por dia.
No Ambulatório Geral, atendem
de 600 a 800 casos por ano, no de
Leishmaniose, 300 casos por ano e
no de HIV, 700 casos.
![© LÍGIA TRIGO](ilustras/p10b.jpg)
No Hospital de Santarém: apoio da USP para levar saúde ao Amazonas
Primeiro dia: Monte Alegre – Saímos
às 11 horas de Santarém. Surpreendo-
me com a forma como as
redes são montadas: um emaranhado
de cores e tecidos. Ganchos que
cruzam com outros ganchos. Redes por cima e pelos lados. Nossa expedição
será a bordo do São Tomé III,
um barco a motor de três pisos que
lembra as gaiolas do rio São Francisco
e que, no Baixo Amazonas, é
conhecido como barco de recreio.
O rio Amazonas impressiona não
só por suas dimensões, mas também
por sua força. Navegamos em trechos
em que não é possível avistar
uma das margens. Durante todo o
percurso, montes de vegetação de
grande dimensão – alguns maiores
que os barcos – passam por nós
arrastados pelo rio. Também são
comuns troncos de madeira, um risco
para os barcos menores e canoas
que trafegam pelo rio.
Por causa da força e intensidade
do Amazonas, há um imenso respeito
por parte das populações que
vivem na região e, muitas vezes, os
barcos acabam preferindo navegar
pelos seus braços menores. Bastaram
poucas horas de contato para que eu
fi casse totalmente fascinada pelo rio
Amazonas, o rio que é um mar.
![© LÍGIA TRIGO](ilustras/p10c.jpg)
Chegamos em Monte Alegre
no final da tarde. Uma reunião de
abertura, na parte superior do barco,
serviu para que todos se apresentassem
e para que soubéssemos
sobre as atividades e metas de cada
um. Teremos no grupo trabalhos
de identifi cação de animais peçonhentos,
larvas de mosquitos de
malária e leishmaniose, morcegos
hematófagos, plantas medicinais
locais e, é claro, grupos de atendimento
médico. A reunião da noite é
uma das práticas mantidas durante
toda a expedição. É a chance de
todos trocarem informações e se
inteirarem dos rumos do trabalho
de cada equipe. Da USP, estão os
professores Ivete e Marcos Boulos,
ambos do Departamento de Moléstias
Infecciosas e Parasitárias da Faculdade
de Medicina. Além de mim,
uma equipe da TV Record também
acompanhará a expedição.
![© LÍGIA TRIGO](ilustras/p10j.jpg)
Segundo dia: arqueologia – Enquanto
a maior parte do grupo
se dirige para a comunidade de
Serra das Pedras, um grupo menor,
do qual faço parte, visita os
sítios arqueológicos de Monte
Alegre, que estão entre os mais
antigos das Américas: mais de 11
mil anos. A datação foi feita pela
antropóloga Anna Roosevelt,
bisneta do presidente americano
Theodore Roosevelt.
Os sítios arqueológicos de Monte
Alegre estão distribuídos em seis
pontos diferentes dentro de um parque
estadual, criado em novembro
de 2001. Visitamos três deles. Começamos
o percurso pela Serra da
Lua, onde está concentrado o maior
número de pinturas rupestres. As
pinturas são basicamente em vermelho
e amarelo e trazem fi guras
indefi nidas ao lado de desenhos de
animais e homens. Para chegar até
elas, subimos por uma trilha íngreme,
no meio da vegetação.
Ver as pinturas tão de perto
causa uma forte emoção em todo
o grupo. É incrível pensar que estamos
próximos de ancestrais de
mais de 11 mil anos. A descida é
ainda pior que a subida: as pedras
do chão deslizam quando apoiamos
os pés e não há onde segurar.
De lá vamos à Serra do Ererê,
com suas pedras irregulares e um
mirante de tirar o fôlego, e depois a
uma caverna denominada Itatupaoca
– a Casa de Pedra de Deus.
Terceiro dia: atendimentos – A
comunidade que visitamos é chamada
de Km 11. As equipes se
dividem em função de suas áreas
de atuação e objetivos científi cos.
No dia anterior havia uma certa
frustração em parte da equipe por
não ter sido possível ajudar todos
que buscavam atendimento. A falta
de assistência médica periódica
faz com que as visitas sejam, para
muitos, um evento social. Famílias
inteiras vão para as consultas.
Não se trata apenas da falta de
uma medicina especializada. O
problema é ainda anterior: são
comunidades que não dispõem, em
sua área, nem mesmo da atenção
primária em saúde. Somado ao
isolamento natural de algumas
localidades, esse fato transforma a
expedição na única oportunidade
daquelas pessoas de se fazerem ouvir.
Lembro-me da professora Ivete contando sobre a mãe que, numa
expedição anterior, levou seu filho
até o consultório e disse: “Ele não
tem nada não, doutora, só queria
que ele conhecesse um médico”.
Desta vez, logo na chegada, a professora
Ivete propõe à população
que espera que se divida em dois
grupos: um para atendimento e outro
para orientação. Incrivelmente,
um grupo, ainda que menor, aceita
ficar na parte de orientações. São
oferecidas palestras sobre temas
variados, entre eles, sexualidade,
métodos contraceptivos e animais
peçonhentos. Esta última reúne
muitas crianças, que ouvem da bióloga
Lorena Loureiro Coelho, das
Faculdades Integradas do Tapajós,
e da médica Fun Hui Wen, do Instituto
Butantan, orientações sobre
o comportamento dos animais e
como proceder em caso de acidente.
A desmistifi cação é celebrada com
as crianças aprendendo a fazer uma
cobra em origami.
Quarto dia: caçando escorpiões – Procurar escorpiões é um exercício
de paciência e persistência,
me diz Joaquim Martins da Silva,
biólogo da Fundação Nacional de
Saúde (Funasa). Ele faz parte da
equipe que participa da expedição
para capturar animais peçonhentos.
Com ele estão a também bióloga
Andria de Paula Santos da Silva e o
médico e professor da UFPA Pedro
Pereira de Oliveira Pardal. Eles
querem identifi car quais os gêneros
mais comuns e as áreas onde estão
mais presentes. Para auxiliá-los, um
equipamento de GPS identifi ca cada
um dos pontos mapeados e transfere
os dados para a central.
O grupo está particularmente
interessado no Tityus paraense, por
aqui conhecido como lacrau, um
escorpião cuja ferroada é muito
dolorida e, segundo os moradores
locais, provoca choques.
![© LÍGIA TRIGO](ilustras/p10f.jpg)
Neste dia nem precisamos de muita
paciência: logo no primeiro local
visitado, encontramos o primeiro,
um Brotheas que, segundo me explicam
os pesquisadores, é, muitas
vezes, confundido pela população
com um Tityus. Olho para o bicho
capturado e concluo que eu também
seria capaz de fazer a confusão.
Pouco depois da primeira captura,
os pesquisadores encontram, em
outro local, uma cobra e uma fêmea
de escorpião ainda com fi lhotes. A
cobra, não peçonhenta, é devolvida
à mata. Já os escorpiões vão ser estudados. A fêmea do escorpião
ainda está com fi lhotes grudados às
costas, o que indica que são recémnascidos,
já que ela só costuma carregá-
los por uma ou duas semanas.
Depois disso, eles já estão maduros
para continuar sozinhos.
Para alguém como eu, cujo único
contato com cobras e escorpiões se
deu numa visita ao Museu do Instituto
Butantan, resolver acompanhar
uma caçada como essa foi uma
decisão difícil. No entanto, depois
de acompanhar o grupo durante
o dia, a decisão de segui-lo à noite
foi natural, ainda que recheada de
apreensão e muita adrenalina.
Caçar escorpiões à noite requer,
além de paciência e de persistência,
uma boa dose de coragem e improvisação.
No caminho até a pedreira
onde nos disseram que há muitos
escorpiões, o professor Pardal me
fala das difi culdades de manter as
pesquisas na área pela absoluta falta
de investimentos. A prova está nos
equipamentos que levamos: ao invés
dos infra-vermelhos para visualizar
movimentos, temos apenas duas
lanternas comuns.
Os pesquisadores vão iluminando
o chão para tentar identifi car movimentos.
Eu, que não tenho lanterna
nenhuma, adoto a estratégia de
seguir os pesquisadores, repetindo
todo o trajeto que estão fazendo. No
início, apenas aranhas, mas, depois
de entrar um pouco mais na pedreira,
Joaquim me diz para prestar
atenção no barulho dos escorpiões.
– Mas escorpião faz barulho?
O som dos escorpiões é produzido
com o animal esfregando partes
do corpo uma contra a outra ou
vibrando estruturas anatômicas.
Há quem relacione esses sons à
intimidação de agressores ou ao
chamamento para acasalamento.
Não encontramos o Tityus,
mas nossa ida à pedreira não
foi em vão. Ouvi, pela primeira
vez, o som dos escorpiões e os
pesquisadores capturaram um
escorpião Rophalurus.
![© LÍGIA TRIGO](ilustras/p10g.jpg)
A Amazônia e seus habitantes: “O rio Amazonas impressiona não só por suas dimensões, mas também por sua força”
Quinto dia: Bacabalzinho – Nossa
base é Bacabalzinho, a cerca de 45
quilômetros de Monte Alegre, distância
que percorremos em torno de
50 minutos (os moradores chegam a
levar uma hora e meia).
À tarde, experimento acompanhar
um grupo de atendimento domiciliar
que percorre casas com pacientes
acamados que não puderam se deslocar
até o posto montado em uma
escola. Sigo com dois médicos da
expedição, doutora Mariana Borges
Dias, da Prefeitura de Belo Horizonte
(MG), e doutor Manoel Rezende,
professor aposentado da UFPA.
Logo na primeira visita, descobri
que a emoção seria a tônica
do dia. Visitamos uma casa ampla
para os padrões da região, numa
espécie de chácara com pasto e
um lindo lago. Lá vive a família
de Dione, de 25 anos, que a partir
dos 10 anos desenvolveu uma
deformidade na coluna que a impede
de se sentar e dificulta seus
movimentos de andar e mover os
braços. Mesmo assim é uma moça
sorridente, que gosta de ir às
festas na igreja (é levada deitada
no carro de boi) e cuja queixa
principal são as dores causadas
pelas feridas nas duas pernas, que
teimam em não cicatrizar. A mais
antiga já está completando cinco
anos. A mãe, dona Aura, nos diz
que “se fosse só a deficiência
estava bom, mas a dor provocada
pelas feridas não deixa a menina
em paz”. A doutora Mariana, que
está sem sua máquina, me pede
para fotografar os problemas da
garota. Tenho vontade de chorar,
mas diante do olhar de expectativa
da paciente, abro meu melhor
sorriso e faço as fotos como se
estivesse acostumada a ver situações
assim todos os dias.
Em todas as casas, as situações
se repetem: somos recebidos como
se a visita fosse uma benção. E a
minha vontade de chorar aumenta.
Para nos mostrar seu agradecimento,
nos oferecem tudo do
pouco que têm.
![© LÍGIA TRIGO](ilustras/p10h.jpg)
Sexto dia: a vida na várzea – Saímos
cedo de Monte Alegre em direção
a Curralinho. Desta vez, iremos
de barco, porque se trata de uma das
inúmeras comunidades ribeirinhas.
Aqui, a máxima “no rio se nasce,
se vive e se morre” é totalmente
verdadeira. A população da várzea
vive em função do rio e de suas
estações: a cheia e a seca. Tempo
de cheia é tempo de mandar o
gado embora e ter a água do rio
na porta da casa. Agora é o início
da seca: no meio do rio, árvores e
campos começam a aparecer. As
estruturas das casas também. Em
20 dias, me dizem, o gado estará
de volta. Toda a movimentação
da população por ali é feita por
barcos. As canoas, sem motor, são
conduzidas até por crianças.
Para o atendimento médico,
montado numa escola, não param
de chegar canoas. Desde a primeira
comunidade que visitamos,
chamou-me atenção o número de
parabólicas nas residências: casas
simples, muitas vezes precárias,
mas com uma bela e reluzente
parabólica na porta. Praticamente
todas têm o equipamento, que é a
única forma de receber os sinais
de televisão por aqui.
A energia elétrica, em grande
parte dessas comunidades, é fornecida
por geradores e está disponível
apenas algumas horas por dia.
A própria prefeitura fornece parte
do diesel necessário para o funcionamento
do gerador. Segundo o
secretário municipal de Saúde de
Monte Alegre, Jean Carlos Silva
Vasconcelos, o consumo principal
é de telenovelas.
Sétimo dia: Cuieiras – Nossa segunda
comunidade ribeirinha e a
última que visitaremos nesta expedição
é Cuieiras.
Começo meu dia acompanhando
visitas domiciliares, o que já fi z em
outras comunidades e que, estou
convencida, é uma excelente forma
de saber sobre os problemas e
características do local e de suas
populações. Acompanho o professor
Marcos Vinícius da Silva,
docente da Pontifícia Universidade
Católica (PUC) de São Paulo e
médico do Hospital Emílio Ribas.
Com muitas áreas ainda alagadas,
temos poucas opções de
caminhos e nos dirigimos à casa
mais próxima. Lá, uma família
que se preparava para ir ao atendimento
nos recebe e responde
a nossas questões. O professor
Marcos Silva pergunta sobre
tudo: como e de que eles vivem,
de onde vem a água que consomem,
como eles a tratam, quem
ficou doente ultimamente, o
que teve, onde procuram auxílio
quando adoecem. A conversa flui
com naturalidade e eu me dedico
a fotografar. As pessoas não se
incomodam com minha insistência
em registrar o local onde
vivem, suas casas ou elas próprias.
Quando, às vezes, as crianças se
mostram mais preocupadas com
a máquina, tiro uma foto delas e
mostro no visor a sua própria imagem.
Elas sorriem e se soltam.
As informações levantadas serão
fundamentais para a realização
do diagnóstico da região e para a
elaboração de propostas que contribuam
para a melhoria da vida
daquelas populações.
O céu daquela região é um
capítulo à parte. Pude vê-lo integralmente
na pedreira onde
procurávamos escorpiões. A falta
de iluminação favoreceu a visualização.
Se tento descrever, penso
imediatamente numa colcha de
luzes, um tecido de lurex. São
milhares de estrelas tão próximas
que se pensa que é possível
tocá-las subindo em uma árvore e
elevando os braços. E, atrás dessa
primeira camada, estão outras milhares
de estrelas e, depois delas,
outras milhares.
De tempos em tempos, alguma
estrela risca o céu.
– Estrela cadente –, alguém avisa.
– Fez um pedido?
– Fiz –, respondo. Mas, diante de
um céu como aquele, é possível ter
mais o que pedir?
Enquanto o barco se desloca no
Amazonas à noite, voltando para
Santarém, reservo umas boas horas
para observar esse céu que, defi nitivamente,
tem mais estrelas.
![© LÍGIA TRIGO](ilustras/p10i.jpg)
Oitavo dia: a despedida – Depois
de viajar quase a noite toda, aportamos
em Alter do Chão, uma praia
fl uvial do Tapajós, a cerca de 30 quilômetros
de Santarém. Apelidada
de Caribe brasileiro, ela é o local
escolhido para a confraternização
fi nal da expedição. É considerado
um importante balneário da região
e ponto em que os cruzeiros estrangeiros
geralmente fazem uma de
suas paradas.
Com a seca, o nível de água
desce, revelando os bancos de
areia branca que formam uma
península em direção ao vilarejo.
A travessia até a vila e a volta às
praias só pode ser feita por canoa
e, em si, já é um passeio que vale a
pena. Na vila, um pequeno centro
comercial oferece basicamente
artesanato da região.
Depois do almoço, voltamos a
Santarém e o grupo se dispersa
logo no cais. Alguns, como eu, voltarão
para suas cidades de origem
no mesmo dia. Outros partirão
nos dias seguintes. Na reunião de
fechamento do projeto, realizada
pela manhã, todos manifestaram o
desejo de voltar. Se, para cada um,
a expedição teve signifi cados muito
diferentes, em todos é possível
identifi car um profundo agradecimento
às pessoas e locais por onde
passamos, pelas experiências que
nos proporcionaram. Aqueles que
vieram ajudar voltam se sentindo
profundamente ajudados.
Logo na vinda para Santarém, ainda
em Belém, conheci o muiraquitã.
Reza a lenda que as guerreiras amazonas
presenteavam com o amuleto
os reis das tribos vizinhas que davam
a elas fi lhas. Algumas lendas
dizem que o muiraquitã era feito
do barro que fi cava no fundo de um
local sagrado, o Lago do Espelho da
Lua, e que, ao receber os raios da
lua cheia ou do sol, se solidifi cava. O
amuleto é um símbolo de prosperidade
e sorte. Eu me apaixonei assim
que o vi no Museu do Pólo Joalheiro
São José Liberto. Mas desisti de
comprar porque, pelo que disseram,
ele deve ser um presente.
Passei todos os dias da expedição
vendo muiraquitãs das mais
diferentes formas, tamanhos e materiais.
Mas tinha tomado a decisão
de pedi-lo de presente assim que
voltasse a São Paulo. No entanto,
faltando poucas horas para o embarque,
a partida sem o muiraquitã
me pareceu sem sentido. E se depois
ninguém achasse o amuleto
em São Paulo para me dar? Com as
lojas já fechadas, corri até o centro
turístico e comprei um de barro.
Decidi dá-lo de presente à minha
casa, mais precisamente à minha
sala de estar. Acho que as amazonas
vão entender. Esta reportagem foi realizada com
equipamentos da disciplina de Telemedicina
da Faculdade de Medicina
da USP. O texto completo sobre a
expedição, com álbum de fotos,
pode ser conferido no Portal da USP. |