A melhor pós-graduação do Brasil é da USP. A informação vem da avaliação trienal promovida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que analisou todos os programas de pós-graduação do Brasil durante o período entre 2004 e 2006. A Universidade detém o maior número de programas com nota 7, a mais elevada. São 25 programas no total (veja o quadro abaixo). No total, a Capes avaliou 3.409 cursos, sendo 1.182 doutorados, 2.070 mestrados profissionalizantes e 157 mestrados acadêmicos. A USP não teve nenhum programa avaliado com os conceitos 1 e 2.

preocupação constante iniciativas adotadas pela USP que enfocam a melhoria na formação tanto de alunos de graduação como de pós-graduação.

Uma dessas estratégias é a internacionalização. A avaliação da Capes leva em conta o quanto o curso é inserido e tem relevância em outros países. Estudam-se, por exemplo, os intercâmbios promovidos entre alunos e professores e o quanto a produção acadêmica de um determinado curso é citada como referência em trabalhos fora do Brasil. É nessa questão que se baseia a diferença entre os programas avaliados com as melhores notas, 6 e 7, para os que recebem os conceitos 4 e 5.

O pró-reitor de Pós-Graduação da USP, Armando Corbani Ferraz, explica uma ferramenta que a Universidade empregou para aprimorar a internacionalização de seus cursos: “Desenvolvemos, nesses últimos anos, um processo de intercâmbio direto de docentes. Por exemplo: um programa de pós-graduação daqui considera que seria interessante, para incremento de suas atividades, receber um docente do exterior. Então seus coordenadores encaminham um pedido para a Pró-Reitoria. Se aprovado, esse professor estrangeiro passa três meses desenvolvendo atividades na USP, num processo muito enriquecedor para todos os envolvidos”, diz o docente. Diversas unidades da USP já foram contempladas com a medida, que trouxe professores da Inglaterra, Estados Unidos e França, entre outros países.

Números – A reitora Suely Vilela ressalta um dado importante da avaliação da Capes: pela primeira vez, o número de programas de pós-graduação da USP avaliados com o conceito 7 é superior aos de conceito 3. São 25 que receberam a nota máxima, contra 16 que ficaram com 3. O pró-reitor Armando Corbani comemora: “O número de programas nota 5 é maior que os de programas 3 e 4 somados”.

Os dados confirmam também uma tendência de elevação. O porcentual da USP nos programas 6 e 7 passou de 26,6% para 27,4%, em todo o território nacional. O índice chama ainda mais a atenção quando se verifica que ocorreu aumento dos programas avaliados pela Capes – e, mesmo num universo maior, a porcentagem de excelência da USP conseguiu ser ainda superior à constatada anteriormente. Na região Sudeste, esse porcentual sobe para 40%. E em São Paulo, 56%. Ou seja: mais da metade das melhores pós-graduações desenvolvidas no Estado mais bem avaliado pela Capes – com média aritmética de 4,42 – são da USP.

Suely Vilela e Armando Corbani enfatizam outra questão numérica que sugere a boa posição da USP. No ranking elaborado pela Universidade de Xangai, na China, o desempenho da USP sobe a cada ano. Em 2003, a USP era a 165ª melhor universidade do mundo, de acordo com os chineses. Em 2007, a posição obtida pela Universidade foi a 128ª. E com uma melhora sucessiva verificada em todos os anos. O pró-reitor lembra um fator que valoriza ainda mais o feito da USP: “Nesse ranking de Xangai, 30% da pontuação é destinada ao recebimento de Prêmios Nobel ou outras honrarias específicas. A USP não recebeu ainda nenhuma dessas honrarias. Ou seja: conseguimos esse desempenho ótimo mesmo competindo apenas com 70% do valor possível”, explica Armando Corbani.

FFLCH comemora desempenho

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP teve quatro de seus programas de pós-graduação avaliados com nota 7 pela Capes. São eles Geografia Humana, História Social, Lingüística e Sociologia.

Segundo a professora Sandra Lencioni, que coordenou o programa de Geografia Humana em boa parte do triênio 2004/2006, um dos fatores para o sucesso do curso está no fato de que suas diretrizes se encaixam num processo amplo de “racionalização da pesquisa acadêmica”. “Cada vez mais isso é buscado. Espera-se a formação de grupos, a realização do trabalho coletivo. E com a junção de pessoas as possibilidades são sempre maiores. Até para a busca de um financiamento, por exemplo”, destaca a docente.

A internacionalização também é destacada por Sandra como ferramenta essencial para o sucesso do programa. “Precisamos estar em diálogo com os pares de outras academias”, aponta a docente. Ela diz também que o programa tem apostado na mobilidade de docentes como um dos elementos para a consolidação desse processo. “Mas mesmo com essa nota 7 temos ciência de que há ainda como melhorar”, diz Sandra. O professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, do mesmo departamento, destaca que o programa concentra grande parte da produção intelectual da área. “Cerca de 30% dos doutores que ensinam em pós-graduações em todo o País fizeram suas pós-graduações aqui.”

Para a professora Ana Muller, do Departamento de Lingüística, a nota máxima da Capes foi reflexo do grande incentivo à formação e crescimento acadêmico de seus professores. “Acho que temos um funcionamento muito democrático, o departamento ouve os seus docentes de maneira igual, apóia com projetos, verbas, licença para doutorado e até nas coisas pequenas, como uma cota sem limite para xerox”, avalia.

Agora, com a satisfatória avaliação de sua pós-graduação, o departamento ganha ainda mais renome em todo o País, atraindo verbas e alunos para seus cursos. “Ficamos muito felizes com a nota porque é o reconhecimento do nosso trabalho. É um facilitador de todas as coisas. Afinal, com 7, você é ouvido com mais atenção quando quer aprovar um projeto, além de trazer os melhores alunos para a USP”, lista a professora.

(Colaborou: Márcia Soman Moraes)

“Expansão seguirá qualidade”

“Nossa expansão não será feita em termos quantitativos, e sim qualitativos.” É assim que a reitora da USP, Suely Vilela, aponta os caminhos para a pós-graduação da Universidade. A reitora cita que o enfoque futuro da pós está em buscar “áreas carentes” do conhecimento e discutir como a Universidade pode contribuir para a formação de massa crítica que abarque esses temas. “Como a energia, assunto tão discutido nos últimos anos, e a bioinformática. São áreas estratégicas e que precisam ser fortalecidas”, diz a reitora.

O pró-reitor de Pós-Graduação, Armando Corbani Ferraz, enfatiza a idéia citando que o futuro da pós da USP passa, essencialmente, pelo aprimoramento da idéia de multidisciplinaridade. “Essa é uma tendência mundial e irreversível. Pensar de maneira conjunta, gerando a formação de pesquisadores mais completos”, diz. Como um colaborador para esse processo, diz o professor, situa-se a própria história da USP, que mostra que a aplicação do termo “universidade” se vê por aqui desde a fundação da instituição, em 1934. “Existe aqui um clima de pesquisa, uma interação muito propensa ao sucesso”, completa.

Apesar de não ter cursos avaliados com os conceitos 1 e 2, a USP recebeu a avaliação da Capes como um momento de repensar as imperfeições que ainda tem a pós-graduação. O trabalho, contínuo, foca os programas que receberam as notas 3 e 4, buscando a elevação para o 5. E para os que receberam conceitos superiores, para que se mantenham no alto nível de excelência e repassem suas boas práticas aos outros programas. “Fazemos avaliações e monitoramento constante sobre nossos programas. Diagnosticamos os eventuais problemas e realizamos ações diretas para minimizá-los ou mesmo eliminá-los”, aponta Armando Corbani. Como exemplo, o professor cita que a Universidade sugere a reestruturação de determinados programas, ou mesmo a fusão de alguns em áreas compatíveis, já que “a ciência de hoje não é a mesma de 1970”.