Uma estranha cena foi vista no Departamento de Música (CMU) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP na quarta-feira última: quatro alunos encontravam-se sentados frente a pianos distintos e tocavam, simultaneamente, sem emitir um único som a não ser o do toque nas teclas dos instrumentos. Alheios ao que se passava ao redor,

Foto crédito: Silvia Machado

compenetrados, os estudantes entregavam-se ao movimento frenético do dedilhar de notas e esqueciam-se tanto da recém-terminada apresentação do Quarteto de Metais da USP como de toda a solenidade apresentada poucos minutos atrás devido à inauguração da Sala Roland, novo espaço criado pelo departamento em parceria com a empresa japonesa de instrumentos eletrônicos.

A sala comporta oito pianos do modelo HP 203, adquiridos juntamente à empresa, e

permite que número igual de alunos se dedique ao estudo das práticas do instrumento. Sem necessidade de afinações periódicas e microfones para amplificação (feita diretamente no instrumento, permitindo controle do volume geral e individual de cada nota), os pianos digitais podem ser acoplados a equipamentos externos e gerar partituras diretamente ligadas a um computador, são facilmente transportados devido a sua leveza e possuem um metrônomo digital, além de um gravador digital com três canais, que possibilita ao aluno escutar o que cada uma das mãos toca independentemente, e memória para centenas de combinações sonoras e ajustes de teclado que se adequam às condições acústicas locais e ao número de pianistas que utilizam o mesmo instrumento. O modelo foi escolhido pelos próprios professores da Universidade no show room da Roland visando a atender às necessidades mecânicas e acústicas de um piano tradicional.

Segundo Michael Alpert, coordenador do Departamento de Música de Câmara do CMU, a tecnologia dos novos instrumentos é altamente importante para suprir as carências das disciplinas Piano Complementar e Prática Instrumental. “Os estudantes poderão praticar suas lições com o uso de fones de ouvido enquanto o professor estará escutando, por monitoramento através de uma mesa de controle, qualquer estudante de sua escolha”, informa. Os pianos também estarão disponíveis fora do horário de aulas para estudos individuais ou em grupo. Alpert é um dos entusiastas da qualidade técnica e sonora dos instrumentos: “Suas teclas simulam a textura do marfim, sendo também sensitivas, respondendo de acordo com quem está tocando o instrumento com a mesma qualidade, conforto e naturalidade do piano acústico”.


Michael Alpert, do Departamento de Música de Câmara, um dos responsáveis pela criação da Sala Roland juntamente com o professor Gil Jardim (abaixo)

A parceria entre o departamento e a empresa japonesa existe há cerca de um ano, quando os grupos de música de câmara requisitaram um piano de fácil locomoção para se apresentarem em locais do campus em que não havia instrumentos em condições adequadas. O contato, inicialmente realizado pelo chefe do CMU, professor Gil Jardim, e pelo presidente da Roland Brasil, Takao Shirahata, ex-estudante do curso de Música da Universidade, propiciou o empréstimo de um piano RD-700SX, hoje instalado no escritório de Alpert, que veio a se multiplicar com a concretização da sala, montada no decorrer das últimas semanas.

A inauguração do espaço foi planejada para recepcionar os calouros deste ano em seus primeiros momentos dentro da Universidade. Para orientar os alunos na utilização das funções do piano, a empresa irá treinar um dos atuais formandos do departamento, Felipe Balieiro, encarregado da monitoria da sala. Segundo Alpert, os estudantes eram muito carentes em equipamentos e questões técnicas, sendo estes motivos constantes de reclamações. Com o desenvolvimento de um ambiente de estudos equipado tecnologicamente e “esteticamente muito bonito”, algumas das necessidades básicas dos graduandos pretendem ser sanadas.

O presidente da Roland Brasil, Shirahata, demonstra-se satisfeito e orgulhoso com a parceria, que “vai muito além de interesses comerciais”. Considera a atuação como um modo de retribuição: “A comunidade pagou por minha formação e essa é uma maneira de devolver isso, na forma de contribuição”. Ele discute com Jardim a possibilidade de sociedades futuras, como a criação de um laboratório de música e tecnologia no departamento. A parceria afinada da empresa com o CMU entra em sintonia com conceituadas escolas e conservatórios internacionais. A San Diego State University's School of Music and Dance dos Estados Unidos, a Royal Academy of Music da Inglaterra e muitas outras escolas no Japão e outros países já contam com essa tecnologia.

Fundada no Japão, a Roland está no mundo da música eletrônica desde 1972. Recebe o título de Sir Roland, um dos lendários cavaleiros da corte do Rei Arthur, cujo espírito representa. Veio para o Brasil há 15 anos e atua desde então com instrumentos e equipamentos extremamente sofisticados que abrem um leque de possibilidades sonoras, divididas em quatro linhas principais: Boss, Roland, Edirol e Rodgers. Artistas profissionais e consagrados contam com a tecnologia da empresa, capaz de inventar novos sons e reinventar clássicos instrumentos potencializando-os e proporcionando uma excelente qualidade sonora.

Conforme as palavras de Alpert, antes da sociedade o departamento possuía poucos pianos em boas condições de uso: “Dava para contar na minha mão direita”, diz ele. O professor espera alcançar maior qualificação para seus alunos, assim como mais abertura no mercado de trabalho. O diretor do CMU planeja ainda construir um anfiteatro no local onde hoje se encontra o auditório do departamento, pois “o primeiro som que se emite no palco é fundamental”. Juntamente com Jardim, Alpert integra o discurso de reconcepção da escola, “com clareza das necessidades e responsabilidades da Universidade”.

 
PROCURAR POR
NESTA EDIÇÃO
O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[EXPEDIENTE] [EMAIL]