O Samurai, homenagem
a Shigueo
Watanabe e
debatedores no
simpósio: exemplos
e reflexões
que vêm do
Oriente
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que esse placar se altere rapidamente, os oradores dos dois lados sugeriram fortalecer o intercâmbio em todas as áreas, com mais insistência nas quatro em que o simpósio se dividiu: semicondutores, engenharia de alimentos, construção em aço e engenharia ambiental.
O professor Franco Maria Lajolo, vice-reitor que representava na reunião a reitora Suely Vilela, disse que a USP ganha cada vez mais destaque internacional com a colaboração de pesquisadores japoneses e os descendentes de imigrantes, citando números: 3% dos professores da USP têm origem japonesa; 8% dos alunos são nisseis; 1,5 milhão de imigrantes e seus descendentes constituem no Brasil a maior comunidade japonesa do mundo, fora logicamente do Japão. A USP assina muitos convênios com universidades japonesas e de outros países, mas na troca de alunos de graduação os japoneses representam menos de 1% do total. Reforçar os protocolos de colaboração, acentuou o vice-reitor, é a melhor maneira de comemorar o centenário da imigração japonesa. E o simpósio serve para isso, para acelerar parcerias e transformar o conhecimento em desenvolvimento econômico, coisa que está enraizada na cultura japonesa e que a USP procura fazer, por exemplo, mediante a criação da Agência USP de Inovação.
Ainda em relação aos encontros bilaterais, o professor Watanabe lembrou que os últimos coincidiram com datas marcantes. Em 1988, comemorava-se o 80o aniversário da imigração japonesa; em 1995, o centenário do tratado de amizade entre os dois países; agora, o centenário da imigração. “Quando será o nono simpósio?” Watanabe disse que não organizará mais nenhum. “Estou velho e trabalhando, graças a Deus.” Outros que assumam a tarefa.
No encontro de agora, na mesa dos trabalhos estavam, entre outros, representantes dos dois países, a vice-cônsul do Japão Sachiko Takeda; a diretora da Casa de Cultura Japonesa Junko Ota, que recebeu a escultura do Samurai; Ladislau Martin Neto, da Embrapa; e os professores Akihiro Yoshikawa, da Universidade Chiba (Departamento de Eletrônica) e Katsuyoshi Nishinari, da Universidade de Osaka (Departamento de Alimentos para a Saúde Humana).
Yoshikawa reconheceu que os japoneses contribuíram para o desenvolvimento econômico e cultural do Brasil e disse que as comemorações pelo centenário da imigração fizeram com que os meios de comunicação levassem ao público japonês muitas imagens do Brasil, inclusive pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em defesa da continuidade das parcerias entre os dois países. Na sua área, informou, desenvolvem-se novos supercondutores, equipamentos fundamentais para a transmissão de dados e economia de energia, portanto, também de grande utilidade quando se trata de conservação do ambiente e novas formas de energia. Por sinal, reconheceu, o Brasil é líder mundial na conservação do ambiente e pioneiro na busca de novas formas de energia não-poluente.
Nishinari, lembrando recentes denúncias no Japão contra a indústria de alimentos, disse que as universidades devem atuar mais firme e publicamente em favor da qualidade dos produtos industriais. Ele mesmo atua como incentivador da luta pela qualidade de vida, tendo visitado para palestras cerca de 150 instituições, inclusive no Brasil – São Paulo e Salvador. Martin Neto destacou o papel da Embrapa no agronegócio, assinalando que este representa 30% do PIB nacional e é responsável por 40% das exportações. A propósito do etanol e dos biocombustíveis, disse que para a Embrapa não há contradição entre produzir alimentos e formas alternativas de energia. O Brasil possui milhões de hectares disponíveis para a agricultura.
O Giotto paulista
O professor Sérgio Mascarenhas, que teve a idéia de encomendar o Samurai, disse que o escultor Alfonso Luciano é “um gênio pobre”, cuja história se compara à de Giotto, pintor e arquiteto italiano descoberto pelo papa Bonifácio VIII (1294-1303), quando pastoreava vacas e cabras perto de Florença – o sucessor de Bonifácio VIII, Benedito XI (1303-1304), também lhe fez encomendas.
Alfonso não pastoreou cabras em Santa Bárbara d’Oeste, onde nasceu, mas foi e continua sendo autodidata em várias áreas da arte. Começou na escultura na década de 80, depois de tentar decoração. Está aperfeiçoando a técnica da escultura com tela de arame, ou aramado moldado, que considera ideal para desenvolver uma idéia em razão da plasticidade do material. Aos 44 anos, faz curso de História numa faculdade de São Carlos, pois entende que a história dá continuidade à arte e é absolutamente necessária para a definição de um tema de escultura. No caso do Samurai, foi buscar detalhes no Japão Medieval, tendo encontrado no soldado símbolo de força e coragem inspiração e força para realizar a obra. É um meio-busto com elmo, carapaça, espada, revestido de poliéster, que protege da ferrugem e dá plasticidade ao conjunto. A escultura custou-lhe 20 dias de trabalho. Ele não pôde participar pessoalmente da entrega da obra de arte à Casa de Cultura Japonesa, pois na véspera da abertura do simpósio perdeu o pai.
Antes do Samurai, o “gênio pobre” produziu muitas peças, algumas expostas em praça pública. Um exemplo disso está em Santa Bárbara d’Oeste: uma escultura de 4 metros de altura com proposta crítica, em que tudo está cortado ao meio, especialmente a música representada por um violão seccionado. Como autodidata, o escultor depende de encomendas. Mas dinheiro não conta muito, garante, vale mais a satisfação de ver uma obra de sua autoria apreciada pela população e embelezando a cidade. No Instituto de Estudos Avançados de São Carlos, faz ilustrações científicas, maquetes e trabalhos administrativos.
Alfonso Luciano mereceu do professor Mascarenhas o Prêmio Janus, por ele criado e já conferido a personalidades ilustres como Alfredo Bosi e José Goldemberg. Janus é o único deus romano não copiado da mitologia grega.
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