A esta altura, dizer que Antonio Candido é um grande homem e um dos intelectuais mais completos que o Brasil já teve exprime apenas o reconhecimento geral. Pela lucidez, pelo vasto saber, pela  escrita fina e clara, pela fala de grande mestre, pela coerência das idéias, pela retidão da conduta, pelo empenho contra as desigualdades sociais, pela luta por

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um socialismo democrático, pelo desprendimento pessoal, pela força humanizadora que imprimiu a tudo o que fez pela cultura e pela educação no país, é de fato o portador dos mais altos valores que atingiu o espírito crítico na universidade brasileira, a que dedicou a vida.

Como ensaísta, teórico, crítico, historiador e professor de literatura, sua obra é incomparável. Em primeiro lugar, porque  é um leitor fora do comum, cujo olhar sensível e implacável capta todo detalhe significativo do texto, sem perder a mobilidade que lhe dá a compreensão histórica. Por isso mesmo, na teoria e na prática realizou uma crítica integradora que, de modo original, superou velhas dicotomias entre o condicionamento social e a obra literária, evitando os

reducionismos tanto da sociologia da literatura quanto do formalismo, e assim reconheceu na relativa autonomia da forma estética a reta via para a apreensão dos aspectos sociais, até culminar numa interpretação dialética da literatura. Depois, porque sua própria obra e sua personalidade crítica encarnam a síntese histórica do que houve e há de melhor em nossa tradição desde Machado de Assis, de modo que soube perceber não só as linhas de força vivas e atuantes de nosso sistema literário desde sua formação, mas também os valores novos do presente, com notável equilíbrio e agudeza: nele a justa medida do juízo parece emanar do exato poder de iluminação.

Como mestre e amigo, é aquela pessoa querida, boa e generosa, que todos desejamos ter sempre como inseparável companheiro de viagem.

Davi Arrigucci Jr. é professor de Literatura da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP

 

“Nosso maior e melhor crítico literário”

ALFREDO BOSI

Se olharmos em retrospecto a história da crítica no Brasil, teremos, de um lado, grandes historiadores capazes de construir panoramas completos de nossas letras desde os tempos coloniais (Sílvio Romero, José Veríssimo) e, de outro lado, críticos – ensaístas que se debruçaram sobre autores e obras particulares: entre outros, Mário de Andrade, Augusto Meyer e Álvaro Lins.

Crédito foto: reproduçãoNenhum, porém, atingiu com força e brilho as duas metas, com a exceção de Antonio Candido. Ele escreveu a mais sólida de nossas histórias literárias, a Formação da literatura brasileira, matriz do nosso melhor pensamento crítico, insuperada até hoje. E legou-nos estudos exemplares sobre nossos principais romancistas, poetas e críticos.

Essa capacidade invulgar de dominar o conjunto de uma cultura e ao mesmo tempo iluminar as suas obras fundamentais confere a Antonio Candido o lugar de nosso maior e melhor crítico literário.

A homenagem que lhe prestamos todos, seus alunos, leitores, admiradores e amigos, transcende a sua carreira intelectual, pois também contempla o longo percurso do mestre de várias gerações e o cidadão que sempre militou pela democracia e pela justiça social.

Alfredo Bosi é professor de Literatura da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP

 

Uma vida inteira dedicada à crítica literária

A seguir, algumas das principais obras de Antonio Candido. Uma boa pesquisa sobre os textos escritos pelo professor – embora feita há 16 anos – está em “Antonio Candido: uma bibliografia”, de Sonia C. Vollet Sachs, publicada em Dentro do texto, dentro da vida: ensaios sobre Antonio Candido, de Maria Angela D'Incao e Eloísa Faria Scarabôtolo (organizadoras), Editora Companhia das Letras e Instituto Moreira Salles, 1992.

1. Introdução ao método crítico de Sílvio Romero.  São Paulo, Revista dos Tribunais, 1945.

2. Brigada ligeira. São Paulo, Martins, 1945.

3. Ficção e confissão. Rio de Janeiro, José Olympio, 1956.

4. O observador literário. São Paulo, Conselho Estadual de Cultura, 1959.

5. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. São Paulo, Martins, 1959.

6. Teófilo Dias – Poesias escolhidas. São Paulo, Conselho Estadual  de Cultura, 1960.

7. Graciliano Ramos – Trechos escolhidos. Rio de Janeiro, Agir, 1961.

8. Presença da literatura brasileira. São Paulo, Difel, 1964 (em co-autoria com José Aderaldo Castello).

9. Os parceiros do Rio Bonito. Rio de Janeiro, José Olympio, 1964.

10. Tese e antítese. São Paulo, Nacional, 1964.

11. Literatura e sociedade. São Paulo, Nacional, 1965.

12. Introducción a la literatura de Brasil.  Caracas, Monte Ávila Editores, 1968.

13. Literatura e cultura de 1900 a 1945. São Paulo, Escola de Comunicações e Artes da USP, 1970.

14. Vários escritos.  São Paulo, Duas Cidades, 1970.

15. Sílvio Romero – Teoria, crítica e história literária. São Paulo, Edusp, 1978.

16. Na sala de aula. São Paulo, Ática, 1985.

17. A educação pela noite. São Paulo, Ática, 1987.

18. Florestan Fernandes. São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2001.

 
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