Um sistema de sensores desenvolvido no Instituto de Química da USP possibilita a análise de algumas propriedades do leite de forma rápida e eficiente. Utilizando equipamentos simples e de baixo custo, o químico Thiago Regis Longo Cesar da Paixão conseguiu diferenciar três tipos de leite em laboratório: homogeneizado pasteurizado, UHT (ultra high

Crédito foto: Marcos Santos

temperature) processado e UHT processado com baixo teor de gordura. O método foi capaz de detectar, inclusive, a presença de peróxido de hidrogênio (água oxigenada) no produto.

O cientista lembra que no final do ano passado houve muitos casos de leite adulterado pelo uso do peróxido de hidrogênio. “A substância mata algumas bactérias e pode prolongar o tempo de vida útil do produto”, conta. “Mas o consumo diário do leite com a água oxigenada pode

O sistema desenvolvido no Instituto de Química: em favor da saúde pública

causar diarréias e outros distúrbios intestinais.” Além de analisar o leite, o conjunto de sensores tem potencial para realizar análises de outros líquidos, como vinhos e combustíveis.

Paixão explica que seu método de fabricação dos sensores é relativamente simples. “Recortamos pequenos pedaços de um CD comum, desses que armazenam dados ou músicas”, explica. Segundo ele, a preferência é utilizar CDs que tenham uma película de ouro. Para a confecção dos sensores, que têm cerca de 2 x 5 centímetros, remove-se a camada polimérica que protege o CD, expondo a camada de ouro. Em seguida, são desenhados e impressos em papel vegetal os layouts dos eletrodos, que são transferidos à camada de ouro do CD por aquecimento. “Os layouts impressos no CD definirão os eletrodos no dispositivo, que serão os responsáveis por extrair as informações do líquido, produzindo, posteriormente, gráficos que serão comparados a outros já padronizados. Qualquer diferença possibilitará a constatação de irregularidades no produto”, descreve o pesquisador.

Baixo custo – De acordo com os cálculos de Paixão, cada pequeno sensor custará, em média, menos de R$ 1,00. Além de serem descartáveis, poderão ser usados de maneira portátil. No laboratório do Instituto de Química, o equipamento é composto do conjunto de sensores e de um potenciostato (equipamento que mede a corrente elétrica resultante da aplicação de uma diferença de potencial aos eletrodos do dispositivo). “Ao todo, um equipamento desse tipo não custaria mais do que R$ 10 mil, incluindo a aquisição do potenciostato”, calcula o químico.

Basicamente, o sistema desenvolvido pelo pesquisador se assemelha à língua humana. Tanto que o primeiro passo de suas pesquisas foi verificar se o dispositivo era capaz de distinguir os quatro sabores perceptíveis pela língua: azedo (HCl – ácido clorídrico); salgado (KCl – cloreto de potássio); amargo, semelhante a água tônica (quinino) e doce (sacarose – açúcar).

Paixão lembra que o equipamento poderá ser usado na indústria alimentícia em todas as etapas de produção do leite. Diferentemente dos métodos convencionais, complexos e demorados, uma amostra de leite pode ser analisada em cerca de dois ou três minutos. As pesquisas do químico foram realizadas dentro do programa de pós-doutorado do Instituto de Química, sob a supervisão do professor Mauro Bertotti, e concluídas recentemente.

 
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