Uma das obras modernistas que marcaram a história da arte brasileira no século 20, em exposição no MAC: a travessia da contestação
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conjunto de artistas que marcaram os anos de 1960. “Eles atuaram e promoveram novas transformações nas artes, causando impactos no circuito artístico”, explica Lisbeth. “Com sua produção, participaram da redefinição conceitual que se operava na linguagem da arte, no seu entendimento e na sua práxis. Adotaram novos modos de usar os materiais que dão suporte à idéia artística, criaram novas morfologias de invenção, valeram-se de novas estratégias semânticas na construção da linguagem artística.”
Nesse núcleo, está a arte de Rubens Gerchmann. Provocador, ele instiga: “É proibido dobrar a esquerda”, no guache sobre papel de 1965. Junto com ele estão Cláudio Tozzi, seu amigo de sempre, com A subida do foguete, obra de 1969, Antonio Henrique Amaral, com a Brasiliana, de 1969 – o célebre quadro com as bananas verdes que era a sua resposta para a ditadura. Estão também Nelson Leirner, com as chaves nas fechaduras da obra Você faz parte. Tem também a época Phases nos trabalhos de Wesley Duke Lee e Bin Kondo, além da filosofia conceitual de Luiz Paulo Baravelli e Cildo Meirelles.
Caminhos – Nesse mesmo espaço, um outro núcleo se apresenta. A sua divisão fica por conta do título “Caminhos da Arte Contemporânea”, gravado em vermelho no alto da parede. Essa divisão sutil sugere a conversa entre as obras e artistas. Nesse núcleo é lembrada a constituição da Jovem Arte Contemporânea. “O fértil período de produção artística no cenário brasileiro do final do decênio 1960 e dos anos 1970 pode ser também observado nos trabalhos de artistas do acervo do MAC que integraram as mostras Jovem Arte Contemporânea, acontecidas de 1967 a 1974”, esclarece Lisbeth. “Foram mostras coletivas realizadas com a curadoria do então diretor Walter Zanini, que visavam a pôr em foco a arte emergente no Brasil e que revelaram ou referendaram artistas surgidos no período.”
Nesse núcleo destacam-se as obras de Dudi Maia Rosa, Carmela Gross, José Resende, Victor Ribeiro, Paulo Herkenhoff e Alberto Nemer, entre outros. O visitante agora se depara com duas salas onde aprecia o núcleo “O Modernismo e seus Desdobramentos”, que reúne os construtores do Modernismo. Há várias obras de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Antonio Gomide, Vicente do Rego Monteiro, Ismael Nery, Lasar Segall e Flávio de Carvalho. “Este é o primeiro núcleo da exposição”, orienta Lisbeth. “A obra Torso/Ritmo (1915-1916), de Anita Malfatti, pioneira do Modernismo com sua exposição individual de 1917, de forte repercussão sobre o meio artístico, oferece indicações de como se orientarão na visualidade estética as transformações buscadas pelo Modernismo.”
Lisbeth buscou as obras mais representativas de cada pintor. De Tarsila do Amaral estão as telas Floresta, de 1929, e Costureiras, de 1950. Di Cavalcanti, um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna, está representado com o Tríptico com cenas de Paris. Há também Ismael Nery, com o nu feminino em Três mulheres com auscultador. “Nesse trabalho, realizado em nanquim sobre papel, pode ser percebida a sensualidade poética que dá à figura feminina, imagem construída com rigorosa preocupação plástica.” Interessante é observar Cândido Portinari no óleo sobre tela de 1939 e o Retrato de Paulo Rossi Osir, de 1935.
Na sala paralela à dos construtores do Modernismo, estão os artistas imigrantes ou descendentes de imigrantes. “Eles constituíram um capítulo sui generis do processo das artes plásticas brasileiras, à época da consolidação do Modernismo”, orienta Lisbeth. “Eram, principalmente, pintores-decoradores de residências, onde executavam frisos e florões em moda na época, como Zanini, Rebolo, Volpi e Pennachi. São os artistas que integraram o Grupo Santa Helena.”
No núcleo “Tendências Abstratas”, o público encontra os artistas com uma produção nas tendências informais ou nas tendências construtivas, como Ivan Serpa, Luiz Sacilotto, Waldemar Cordeiro, Manabu Mabe e Samson Flexor.
A exposição “Arte Brasileira no Acervo do MAC” está em cartaz de terça a sexta-feira, das 10h às 18h, sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP (rua da Reitoria, 100A, Cidade Universitária, São Paulo), até fevereiro de 2009. Entrada grátis. Mais informações pelo telefone (11) 3091- 3039.
A poética surpreendente de Geraldo Souza Dias
Lua nova, Viaduto, Ponte nova. Com esses títulos, as pinturas e colagens de Geraldo Souza Dias, artista e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, surpreendem pela poética. Suas pinturas e colagens remetem ao construtivismo brasileiro das décadas de 1950 e 60. “Mais do que suportes, os jornais, os papelões e os impressos empregados pelo artista dão origem à estrutura de suas pinturas”, explica o crítico Cauê Alves. “Derivadas de elementos como diagramações de folhetos, suas pinturas se aproximam de composições construtivas, mas fazendo uso de estereótipos da cultura de massa quando a publicidade é o ponto de partida.”
Na mostra, “Philadelphia Stories e Outras Estórias”, Dias mostra a sua experiência desenvolvida na University of the Arts, de Filadélfia, no primeiro semestre de 2008. Apresenta 20 trabalhos em óleo e tinta acrílica e tinta acrílica sobre cartão, oito pinturas em óleo sobre colagem sobre tela de grandes dimensões, cerca de dez pinturas de pequeno formato – de dimensões variadas – e 40 fotografias a cores de 22 x 27 centímetros, com vistas, cenas e personagens da cidade de Filadélfia.
Obra de Dias: construtivismo
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“A espacialidade dessas pinturas se mostra em construção, mas sem a obrigação de seguir um projeto rígido e anterior às próprias pinturas”, observa Cauê Alves. “Mesmo nos formatos horizontais e verticais, como nas estruturas diagonais que brotam de espécies de dobras, o espaço é todo fragmentado e revela uma relação íntima com o fazer. No cotidiano acelerado das grandes cidades, é difícil o pintor não estabelecer uma relação descontínua e fragmentada com sua obra.”
As heresias de Pedro Meyer
Sob a curadoria da professora Helouise Costa, a mostra “Heresias: Uma Retrospectiva de Pedro Meyer” traz mais do que fotos instigantes e um projeto inovador. O mexicano Meyer sai do questionamento dos novos caminhos da fotografia para apresentar um desafio: expor, para diferentes países, imagens que transitam livremente e sem preconceitos entre as técnicas, linguagens, estilos.
Nas fotos de Meyer, vale, segundo a curadora Helouise, a multiplicidade. O direito de transgredir entre o analógico e o digital, a razão e o sonho, o real e o fantástico, a arte e o fotojornalismo, o momento decisivo e a encenação, a tradição e a ruptura.
“O fotógrafo convidou dez curadores de diferentes países para realizar uma pré-seleção de fotos a partir de seu arquivo com cerca de 300 mil imagens”, explica Helouise. “As fotos foram disponibilizadas por meio da rede mundial de computadores para que os curadores de 60 museus de todo o mundo realizassem suas próprias escolhas. Essa estratégia propiciou um novo modo de conceber a curadoria, não mais pensada como um trabalho autoral isolado, mas como uma atividade compartilhada e, até certo ponto, interativa.”
Helouise selecionou 40 imagens para serem apresentadas pelo Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. “Esta seleção evidencia a natureza híbrida da produção de Meyer. Longe de exaltar a tecnologia em si, Pedro Meyer faz uso de seus recursos para atuar criticamente na origem do processo de construção do sentido”, diz a curadora. “Ele recupera o potencial subversivo da imagem, que as vanguardas históricas souberam tão bem explorar.” Para ela, o Projeto Heresias reveste-se de especial importância para o MAC, “não só pela possibilidade de integrar uma rede de instituições museológicas para debater os novos paradigmas da fotografia e da arte na era digital, mas também pela oportunidade única que criou para a incorporação deste conjunto de imagens de Meyer ao seu acervo”.
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