Um estudo recente do Núcleo de Estudos Regionais e Urbanos da USP (NEREUS) mostra que o turismo doméstico brasileiro promove uma significativa transferência de renda do Sudeste (região mais rica) para o Nordeste (região mais pobre), favorecendo a redução da desigualdade regional no País. O estudo avaliou o papel redistributivo das despesas de consumo dos turistas, buscando quantificar os ganhos (ou perdas) econômicos líquidos associados tanto ao aumento de consumo na região de destino quanto à redução de consumo na região de origem. Como principal resultado tem-se que o Nordeste é um “ganhador líquido”, percebendo um ganho de aproximadamente R$ 5,0 bilhões sobre o nível de produção dos setores econômicos. Já o Sudeste, principal consumidor de turismo no Nordeste, configura-se como um “perdedor líquido”, percebendo uma redução de aproximadamente R$ 4,0 bilhões no nível de produção.
O estudo foi elaborado pelos pesquisadores Eduardo Haddad, Alexandre Porsse e Wilson Rabahy e utilizou dados da Pesquisa de Caracterização e Dimensionamento do Turismo Doméstico no Brasil, desenvolvida pela Fipe/USP sob a coordenação do professor Wilson Rabahy. A análise de impacto dos efeitos das despesas dos turistas domésticos foi realizada a partir de uma matriz de insumo-produto interregional, também desenvolvida pela Fipe/USP sob a coordenação do professor Eduardo Haddad. Assim, a metodologia do estudo possibilitou quantificar os impactos líquidos das despesas de consumo dos turistas domésticos considerando todos os encadeamentos setoriais e interregionais envolvidos nas transações desses turistas.
Conforme destacado pelo pesquisador Alexandre Porsse, o estudo possui três evidências importantes sobre o papel do turismo doméstico enquanto instrumento de desenvolvimento regional. Primeiro, o impacto agregado para o país é praticamente nulo e se caracteriza como um jogo de soma zero. Segundo, os impactos regionais são bastante diferenciados e determinam uma relação de ganho-perda favorável para o Nordeste em detrimento do Sudeste. E, terceiro, o turismo doméstico pode ser um canal mais eficiente de distribuição de renda para as regiões pobres se comparado com os mecanismos usuais de redistribuição de renda via transferências públicas. Isso porque a redistribuição via turismo doméstico é obtida no contexto de um processo de decisão ótima dos agentes econômicos, enquanto a redistribuição via transferências de recursos públicos, segundo a literatura, tende a gerar efeitos distorcivos no sistema econômico.
Os resultados desse estudo serão apresentados no 51st European Congress of the Regional Science Association International, a ser realizado entre os dias 30 de agosto e 3 de setembro de 2011 em Barcelona, Espanha. Para ter acesso ao estudo completo, clique aqui.