Hoje no Brasil, aproximadamente 85% da população vive em grandes centros urbanos. As cidades ocupam cada vez mais espaço na dinâmica econômica global. Entender como esses grandes centros influenciam os processos migratórios e as desigualdades regionais é o objetivo da pesquisa da aluna de pós-graduação da FEAUSP, Ana Maria Bonomi Barufi, intitulada “Should I stay or should I go? – Selection on migration and learning in cities in Brazil”, que faz parte do Nereus (Núcleo de Economia Regional e Urbana daUSP).
“Nas grandes cidades existe uma concentração da atividade econômica, o que proporciona uma redução de custos de transporte, de bens, pessoas e ideias”, explicou a pesquisadora e acrescentou, “a cidade grande triunfou apesar do seu elevado custo de vida porque proporciona melhores oportunidades de trabalho”. Para ela, a migração assume hoje um papel de seleção, no sentido de que cidades de grande densidade tendem a atrair profissionais com melhores qualificações. “Trabalhadores com alta qualificação não migram de uma cidade de alta densidade para uma cidade de baixa densidade”, afirmou.
Esse tipo de situação também acentua a desigualdade espacial nos grandes centros urbanos, onde profissionais melhor qualificados tendem a se concentrar em regiões centrais e trabalhadores menos qualificados terminam por se instalar em regiões periféricas.
Outro ponto observado é que a probabilidade de migração de cidades maiores para cidades menores é muito menor. Mesmo quando existe uma volta ao local de origem, os anos de experiência adquiridos em cidades grandes trazem um impacto positivo sobre o salário do trabalhador, ou seja, o crescimento do salário depende da experiência obtida em cidades de densidade maior.
Uma das consequências negativas dessa dinâmica é que existe a tendência a aumentar a desigualdade salarial entre cidades de diferentes densidade e as cidades com maior concentração de trabalhadores qualificados atraem ainda mais trabalhadores com essa característica. Assim, o mercado de trabalho assume um papel essencial na determinação da desigualdade entre regiões. “O perfil do migrante hoje mudou, e as cidades grandes atraem principalmente profissionais com maior qualificação profissional. Esse perfil de trabalhador raramente retorna a seu local de origem”, concluiu.
Fonte: Isabelle Dal Maso (13/04/2016), FEA USP Online