Consulte sempre um Engenheiro de Biossistemas

Texto enviado pelo professor Dr. Walter Ferreira Velloso Júnior.

Essa frase ai em cima parece estranha? Afinal ninguém sabe bem para que serve um engenheiro de biossistemas, né? Vamos tentar entender. A melhor definição para esta nova profissão foi sugerida pelo professor Carlos Viegas (o nosso caro prof. “Caco”). Ele disse que numa primeira viagem tripulada a Marte, os engenheiros de biossistemas têm lugar garantido (leia nossa matéria). De fato, lá em Marte, os astronautas terão que instalar diversos biossistemas para obter água, tratar a água, distribuir a água, manter vivos (férteis e saudáveis) os organismos (vegetais e animais) que servirão para alimentação dos astronautas.

Os primeiros terráqueos em Marte terão que mecanizar e automatizar (e otimizar) o cultivo (manejo) e a colheita (abate) desses organismos, tratar e reaproveitar os dejetos dessa produção e controlar o seu descarte de modo a não poluir o ambiente marciano. Esses pioneiros da humanidade terão ainda que encontrar mecanismos naturais, de preferência pouco poluentes, para produzir a energia a ser utilizada e terão que controlar as condições climáticas em ambientes fechados. 

Quantos problemas, não é mesmo? Para resolvê-los, será necessária a contribuição dos engenheiros (e engenheiras) de biossistemas cuja formação compreende todos esses aspectos multidisciplinares que envolvem estas questões: biologia celular, controle de pragas, mecanização, irrigação, química, ecologia, física, metereologia, bioclimatologia, controle climático de edificações, botânica, mecânica, robótica, matemática e computação, resistência de materiais, ciência e tecnologia dos materiais, eletrônica, bem estar animal, biocombustíveis, otimização de sistemas agropecuários, cultivos protegidos, modelagem matemática de sistemas biológicos.  Qual outro profissional teria esta formação assim tão abrangente? Resumindo: não dá para a Humanidade ir a Marte sem os engenheiros de biossistemas, não é mesmo?

Mas embora o parágrafo acima tenha um caráter um tanto quanto pincelado como ficção científica, na realidade a situação aqui na Terra não está muito diferente, não. Como sabemos, nosso planeta esta ficando pequeno. Bilhões de seres humanos exigindo recursos naturais em geral (água, energia, materiais, etc)  e alimentos em particular e, consequentemente, produzindo aquecimento ambiental e subprodutos poluentes correspondem a uma situação de crise contínua. Talvez as dificuldades que a Humanidade como um todo está enfrentando aqui na Terra sejam muito mais complicadas e graves que aquelas que os astronautas pioneiros enfrentarão em Marte! Assim, se os engenheiros de biossistemas serão fundamentais em Marte então com muito mais razão nós precisamos deles por aqui mesmo.

De fato, as questões que envolvem a produção de alimentos, água e energia são absolutamente estratégicas para a Humanidade. Quem resolver os problemas relacionados a estas questões, de maneira mais eficiente e sustentável, poderá ser considerado como herói, assim como faríamos com os pioneiros da primeira estação em Marte. Resumindo: não dá para a Humanidade ficar na Terra sem os engenheiros de biossistemas, não é mesmo?

Do trabalho dos Engenheiros de biossistemas podem surgir soluções que tornem mais eficientes e sustentáveis os processos agropecuários, a preservação dos recursos hídricos, o tratamento e reuso da água, a produção de energia renovável, o tratamento de resíduos, todos tão absolutamente fundamentais para a Humanidade. O assunto, portanto, é muito sério. Engenharia de biossistemas será cada vez mais importante e necessária e a atuação dos profissionais deste campo crescerá de importância à medida que os problemas de sustentabilidade forem exigindo novas soluções mais inteligentes.

A USP e a FZEA estão sendo pioneiras na formação destes profissionais no Brasil. Os estudantes das primeiras turmas são também pioneiros. Estão ajudando a construir uma nova forma de pensar sobre a produção agropecuária que poderá significar muito para o progresso do Brasil e, porque não dizer, para o bem estar da Humanidade. Quando esta turma sair no mercado, e está faltando pouco, iniciará um processo que tende a ser vitorioso e crescer exponencialmente à medida que a sua atividade começar a dar resultados e que todos começarem a ver que as graves questões relacionadas ao impacto ambiental geradas pela atividade agropecuária podem ser minimizadas e resolvidas.

Sob este prisma, agora dá pra entender: “consulte sempre um Engenheiro de Biossistemas”

O prof. Dr. Walter Ferreira Velloso Júnior (lattes) é bacharel em física pelo IFUSP (1979), com diversos títulos acadêmicos em astrofísica, instrumentação astronômica, dentre outros. Atualmente é professor associado da Universidade de São Paulo e leciona Cálculo numérico para o curso de Engenharia de Biossistemas.

• Contato: velloso@usp.br