Soluções da Engenharia de Biossistemas aplicadas em Israel

Sistemas de estufa turbinam a produção de hortaliças.
Sistemas de estufa turbinam a produção de hortaliças.
Sistemas de estufa turbinam a produção de hortaliças.

Produzir mais, em menos espaço e com pouca água. Este é o grande desafio da agricultura. Principalmente em regiões nas quais água e terra arável são escassas. Foi justamente a necessidade de produzir alimentos com poucos recursos naturais que fez da tecnologia agrícola israelense uma das mais desenvolvidas do mundo.

Com a metade de seu território localizada em regiões áridas, para se ter ideia, o índice médio de chuva em Israel é de 600 milímetros por ano – no semiárido brasileiro, o índice é de 800 milímetros anuais, já na região sul, onde está o deserto de Negev, esse índice não chega a 30 milímetros/ano. Mesmo assim o país consegue produzir alimentos suficientes para atender a mais de 90% da demanda interna e gerar excedentes para exportação.

Um simples passeio entre algumas cidades pode revelar um pouco do perfil agrícola israelense: planta-se em qualquer pedaço de terra agricultável, até em terrenos nas alças de acesso de rodovias, e todas as lavouras têm irrigação ou estão em estufas. “Temos um sistema intensivo de produção”, diz o diretor do Departamento de Agrotecnologia, Água e Ambiente de Israel, Yitzhak Kiriati.

Para superar sua geografia hostil, Israel se tornou líder mundial em pesquisa de recursos hídricos e hoje reutiliza 85% da água que produz, com um leque variado de tecnologias que inclui o bombardeio de nuvens e a reciclagem de água de esgoto. Os centros de pesquisa israelenses desenvolvem novos sistemas de filtragem e reciclagem, como o uso de bactérias luminosas que verificam a qualidade da água em poucos segundos. O desafio agora é baratear a dessalinização da água do mar, que tem custo ainda muito elevado.

  • Agricultura intensiva: maioria das lavouras é irrigada e protegida.

Um dos destaques da Agritech são os avançados sistemas de gotejamento e fertirrigação, que hoje têm como líderes mundiais as empresas Netafim e NaandanJain.  A exposição, realizada a cada três anos em Tel Aviv, traz novidades em irrigação, reúso e gestão de água, estufas automatizadas, softwares e equipamentos para ordenha e monitoramento de rebanhos leiteiros. Essas tecnologias permitem grande redução do consumo de água, ganhos de produtividade nas lavouras e melhoria da qualidade das frutas, legumes e verduras, ao dosar a quantidade adequada de água e fertilizante aplicada às plantas, desde o plantio até a colheita.

Os sistemas de estufa, incluindo filmes plásticos especializados, aquecimento, ventilação e estrutura, permitem que os agricultores israelenses alcancem resultados expressivos na produção de hortaliças. Em pleno deserto do Negev, no sul de Israel, os agricultores de Arava conseguem colher 300 toneladas ao ano por hectare. As 600 famílias que vivem em oito assentamentos da região produzem cerca de 150.000 toneladas de vegetais por ano em estufas, a maior parte exportada para países da Europa.

Estufas do Moshav Hatzeva, no deserto de Arava, sul de Israel
Estufas do Moshav Hatzeva, no deserto de Arava, sul de Israel.

A produtividade recorde se repete na pecuária de leite. A Afikim, conhecida pela marca Afimilk, levou à feira sistemas informatizados para fazendas de gado leiteiro. A empresa, presente hoje em 50 países do mundo, introduziu os primeiros sistemas de monitoramento de rebanho e fornece ferramentas para maximizar a eficiência das fazendas de leite. O programa desenvolvido pela Afikim coleta informações de cada animal, constrói um banco de dados e gera relatórios em tempo real sobre a saúde do rebanho, a quantidade e a qualidade do leite.

Em Israel, a média de produtividade de leite está ao redor de 12.000 litros por vaca ao ano, a maior do mundo (no Brasil, a media não chega a 1.500 litros). A eficiência dessa tecnologia pode ser notada no número de fazendas de leite em Israel, que em 10 anos, caiu 30%, mas a produção aumentou 9%. Desde a década de 50, a média da produção cresceu de 3.900 para 11 mil litros de leite/vaca/ano. “A ordenha dos animais é toda mecanizada”, diz o gerente do Departamento de Controle Leiteiro do grupo Afimilk, Alon Arazi. Mas o que chama a atenção de quem é acostumado a ver criações extensivas é o manejo. Na maioria das propriedades leiteiras israelenses não há pasto. As vacas são confinadas em galpões, com teto que abre e fecha e com ventilação controlada.Nessa área também atua a SCR, empresa que fabrica o “heatime”, sistema para detecção de cios que já foi instalado em mais de 8 mil fazendas em várias partes do mundo.

A piscicultura israelense, que ficou famosa no mercado internacional com o saint-peter, está apostando também nos peixes ornamentais. A Ginat Fish Company produz cerca de 2 milhões de “guppies” por ano, peixes de aquário que são exportados principalmente para a Europa. Um guppy normalmente é vendido por um euro na Europa.
  • Tecnologia no Brasil
Gastar 40% menos de água e 30% menos energia, além de ampliar a produtividade na irrigação de lavouras é a promessa de um sistema de irrigação desenvolvido em Israel. A novidade começa a ser utilizada em solo gaúcho.

Em Palmeira das Missões, o agricultor Flávio Fialho Velho inaugura no plantio desta safra de feijão o uso do equipamento subterrâneo. Ao contrário do popular sistema de pivôs, que irriga a lavoura por cima, o modelo israelense é estruturado por baixo da terra.

Para colocar em prática o projeto, Flávio separou 80 hectares dos 1,2 mil da propriedade. Deixou o espaço ocioso por alguns meses, mas garantiu o cultivo da próxima safra com irrigação em todos os ciclos:

“De 1993 até 2005, a minha preocupação era aumentar a área. Recentemente, mudei o modo de pensar e passei a investir em tecnologia, para ampliar a produtividade. Como está provado que a cada 10 anos enfrentaremos estiagem em sete, a irrigação se torna mais necessária.”

O método consiste em uma rede de mangueiras enterrada no solo. A cada 50 centímetros, gotejadores liberam a água já com doses de adubo. A durabilidade da rede é de 15 anos.

Sistema de Irrigação Isrraelense.
Sistema de Irrigação Israelense.

“É economia de recursos hídricos e de adubo. A irrigação é diretamente na raiz da planta, aumentando a absorção” — explica Rodrigo Schmitt, um dos proprietários da Analys Agricultura de Precisão, importadora da tecnologia desenvolvida pela Netafim para uma região de Israel onde a chuva anual dificilmente passa dos 300 milímetros.

“Nos próximos cinco anos vamos ampliar este tipo de irrigação para outros 460 hectares. É mais caro, mas consigo instalar em todo o terreno, deixando também espaço livre para as máquinas” -acrescenta Flávio.

Essas tecnologias e técnicas poderiam ser aproveitadas no Brasil onde há pouco recurso hídrico ou o ambiente não seja propício para desenvolvimento agrícola, apesar do nosso país ter muitas áreas agricultáveis, muito ainda pode ser feito para o máximo aproveitamento, com maior rentabilidade e menor impacto ambiental, pensando sempre no tripé da sustentabilidade. O Brasil deveria seguir o exemplo de pesquisa e desenvolvimento, afinal quanto mais pesquisas na área mais ideias surgem e mais equipamentos são desenvolvidos.

FONTE: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,israel-ensina-a-cultivar-no-deserto,336869,0.htm

http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/economia/noticia/2012/02/tecnica-de-irrigacao-subterranea-israelense-sera-implantada-em-lavoura-gaucha-3677201.html

http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,ERT292798-18281,00.html

5 Comentário

  1. Janaína, você acha que esta tecnologia pode ser viável aqui no Brasil?
    Este tipo de tecnologia também poderia contribuir para diminuição de contaminantes por agrotóxicos?
    Gostei do blog.
    Maurício.

  2. Que o Pais perde muito tempo, estes futuros Engenheiros deveriam ser incentivados a seguir uma linha de pesquisas e desenvolvimentos de tecnogias.

  3. Olá Maurício,

    Obrigada por nos escrever e espero que visite nosso blog sempre.

    O Brasil é classificado hoje como um grande exportador e produtor de alimentos, com isso tornou-se um dos principais fornecedores de produtos agropecuários para o mundo. Mas, mesmo com essa posição muitos dos produtos brasileiros ainda são produzidos de forma precária. Em alguns lugares do país não há disponibilidade abundante de água, o que dificulta o desenvolvimento da agricultura e pecuária nesses locais. Esse tipo de inovação tecnológica citada acima poderia ser usada para amenizar esse problema e também como forma de economizar água e evitar desperdícios nas grandes propriedades. Quanto ao uso de agrotóxicos, ele deve sempre ser feito de maneira racional sendo tomados os devidos cuidados para evitar contaminação de solo e água, todavia todos sabem que muitos indivíduos não seguem as regras específicas destinadas à utilização deste produto. Quando a produção, tanto animal quanto vegetal, é intensiva, o controle da cadeia produtiva é muito maior, dessa maneira a fiscalização é mais severa e a diminuição da contaminação por agrotóxicos é facilitada.

  4. Infelizmente o Brasil ainda segue na contramão quando se fala em pesquisa. Se analisarmos a situação de Israel percebemos que apesar deste país apresentar um ambiente desfavorecido para a agricultura eles conseguiram resolver seus problemas, não só de falta de água, mas também aumentaram sua produtividade em diversas áreas de forma muito mais eficiente quando comparado com o Brasil. Entretanto, para Israel conseguir superar sua geografia hostil, ele se tornou líder mundial em pesquisa de recursos hídricos. O que falta para o desenvolvimento pleno do Brasil é avanço tecnológico, apoio em pesquisas e incentivos para a criação da nossa própria tecnologia. O Brasil deve se inspirar em exemplos como esse para começar a criar sua própria tecnologia, ao invés de continuar importando. Casos como esses servem para nos mostrar que o investimento em conhecimento e educação pode transformar situações que antes eram dadas como impossíveis.

  5. quando vc fala em locais no Brasil onde há falta de recursos hidricos, recordo me da transposição do rio São Francisco, o que vc acha desse tipo de intervenção?