Por Alécia Pontes – Dinheiro Rural, edição 100, dez/2012 – adaptado.
Os primeiros computadores da história foram concebidos para calcular a trajetória de projéteis disparados por armas de fogo durante a 2ª guerra mundial, transformando-se desde então em máquinas leves, cada vez menores e cada vez mais integradas à vida cotidiana das pessoas. Daquela época em diante, somente as forças armadas continuaram com os equipamentos pesados, os chamados computadores robustecidos (toughbooks), que com o tempo também foram incorporados em outras áreas, como na engenharia. Mas os fabricantes querem agora explorar o campo, não o de guerra, mas o agrícola. “O agronegócio é a nossa nova fronteira”, diz João Simões, gerente de operação comercial da japonesa Panasonic para a linha toughbook no Brasil. “Queremos cravar a tecnologia nas lavouras do País.”
A Panasonic é a primeira empresa do setor a apostar no agronegócio brasileiro como um cliente potencial para os seus computadores robustecidos. Há outras marcas desse tipo de equipamento no mercado, entre elas a americana Dell e Toshiba, mas nenhuma havia até agora se posicionado no mercado rural. Os equipamentos que a Panasonic quer levar para o campo resistem a quedas de quase dois metros de altura, trepidação, poeira e chuva, permitem a visualização na tela mesmo em dias de muito sol e podem funcionar sob temperaturas extremas, com variações que vão de menos 50 graus a mais de 120 graus centígrados. “Esses computadores podem ajudar o homem do campo a ser mais eficiente no controle da lavoura e na criação de animais, um setor cada vez mais conectado”, diz Simões.
O setor mais interessado na expansão do uso de computadores no campo é o de tecnologia da informação (TI). Empresas nacionais e estrangeiras estão de olho nesse mercado. O mercado de TI no Brasil movimentou US$ 212 bilhões em 2012, segundo informações levantadas pela revista Época. Não há, porém, um estudo que mostre qual é a participação do agronegócio nesse universo. Frederico Vilar, presidente da Neoris no Brasil, acredita que hoje os serviços prestados no campo estejam concentradas na indústria sucroalcoleira, nas tradings de grãos e empresas de logística. “Por isso, o setor agrícola tem muito que se modernizar, expandindo a TI para toda a cadeia produtiva”, diz Vilar.
Gilsinei Hansen, diretor de segmentos da paulistana Totvs, que há duas décadas investe em softwares especializados na agroindústria, discorda em parte de Vilar. “O mercado de TI para o campo, no Brasil, é um dos mais avançados do mundo”, diz. “Mas há, sim, um gargalo que precisa se modernizar.” No país, são 4,8 milhões de propriedades rurais com inúmeras culturas, desde pequenos produtores até grandes empreendimentos agroindustriais e energéticos, além das cooperativas. “Por causa dessa diversidade no campo, ainda há níveis de maturidade na aplicação de TI muito diferentes.” Para ele, o principal desafio é atender e dar suporte aos clientes nas fronteiras agrícolas. “As distâncias são grandes demais e há falhas de infraestrutura e de telecomunicações”, afirma Hansen.
Para Cláudio Lot, gerente de desenvolvimento de agronegócios na SAP, o maior desafio é atuar em todas as frentes do agronegócio. “É quase impossível, principalmente da porteira para dentro”, afirma. Segundo ele, é por isso que a maior parte das empresas de desenvolvimento de softwares ainda está focada em aplicativos de soluções integradas a partir da chegada da commodity, por exemplo, a uma trading até a sua liquidação através de contrato. “Mas o país é, de fato, a bola da vez para a TI”, diz Lot. De acordo com ele, as oportunidades estão nos sistemas de controle de custos aliados à mobilidade no campo, entre elas a possibilidade de utilização dos equipamentos mais adaptados, como os computadores robustecidos.
E aí, (futuros) engenheiros. Avistaram oportunidades?
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