Pesquisador de São Carlos, SP, começou o estudo há dez anos. Objetivo da técnica é retirar o metal cromo dos processos de curtimento
Uma tecnologia desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em São Carlos (SP) pode resolver o problema de curtumes do Brasil. A pesquisa usa extratos vegetais para tratar o couro e não poluir a natureza. O objetivo é retirar o metal cromo dos processos de curtimento e ainda aproveitar a água nos tratamentos.
Os estudos começaram há dez anos. A ideia é produzir um material sustentável, substituindo o uso do sulfato de cromo. O material deixa o couro mais bonito, porém é altamente poluente. “Ele pode atingir os lençóis freáticos no subsolo e contaminar as fontes. Esse resíduo não pode ser queimado, porque transforma o cromo e ele vira cancerígeno”, explicou o pesquisador Manoel Antonio Chagas Jacinto.
No processo de curtimento, a Embrapa aposta em extratos vegetais, como acácia negra (encontrada no sul do país) e o quebracho (encontrado no Brasil, Argentina e Paraguai). “O ganho ambiental é muito grande. Já existe essa tecnologia há algum tempo, mas os industriais ainda resistem devido ao cromo ser mais barato”, disse o pesquisador. Nessa hora entra a figura do profissional formado em Engenharia de Biossistemas, que seria capaz de viabilizar economicamente esse produto.
Reuso da água
A água que sobra do processo que usa extratos vegetais vai para uma estação de tratamento. Após três dias, ocorre a separação do lodo, que pode ser usado na agricultura. A água pode ser reaproveitada no curtume e pode até ser jogada em córregos.
Com métodos assim, situações como a de Boa Esperança do Sul (SP) poderiam ser evitadas. Quase 500 mil quilos de resíduos com cromo foram encontrados em terrenos da cidade. A Prefeitura se comprometeu a liberar R$ 50 mil dos cofres públicos para retirar restos de couro descartados de forma irregular. Os retalhos despejados causam mau cheiro e trazem transtornos aos moradores há pelo menos cinco anos.
Couro amigo
Com os estudos feitos na Embrapa, o couro ‘ecofriendly’(amigavelmente ecológico) fica macio, resistente e pode ser usado para fazer calçados, bolsas, cintos e até mesmo na indústria automobilística. Esse tipo de material tem sido uma exigência de países europeus.
Segundo o pesquisador, consumidores mais atentos fazem questão de pensar no meio ambiente e o Brasil tem condições de abastecer esse mercado. “Apesar da nossa pele não ter boa qualidade, nós temos tecnologia e condições para melhorar o couro e podemos abastecer o mercado tanto nacional quanto internacional”, afirmou Jacinto.
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