Engenheiros(as) de Biossistemas e Empresa Júnior: vale a pena ?

Os estudantes de Engenharia de Biossistemas têm a oportunidade de estudar durante 5 (cinco) anos na Universidade de São Paulo, possuindo formação acadêmica de excelência e destacável pela abrangência de áreas estudadas. O curso é ministrado na cidade de Pirassununga e em período integral, e portanto possui poucas janelas durante a semana e está relativamente distante de empresas que empregam conceitos de precisão e inovação em áreas que envolvam sistemas biológicos. Tal conjunto de fatores dificulta que os estudantes que almejam uma carreira não acadêmica possam realizar estágios profissionalizantes, em empresas reconhecidas juridicamente, durante o período de graduação.

Biossistec Jr. - Empresa Júnior do curso de Engenharia de Biossistemas, da Universidade de São Paulo.
Biossistec Jr. – Empresa Júnior do curso de Engenharia de Biossistemas, da Universidade de São Paulo.

Nesse contexto um tanto não usual, de excesso de mão de obra qualificada, surgiu a Biossistec Jr. – Empresa Júnior do curso de Engenharia de Biossistemas. O conceito proposto para tal empresa júnior é que ela possa empregar os melhores alunos interessados em seguir carreira profissional, oferecendo-lhes a oportunidade de desenvolver as habilidades empresariais exigidas para o sucesso profissional no período pós-faculdade – através da prestação de consultorias nas áreas da Engenharia de Biossistemas. Mas afinal de contas, a experiência trabalhando com a empresa júnior é válida e benéfica para os estudantes de Engenharia de Biossistemas?

Particularmente eu tive a experiência de trilhar boa parte de minha graduação junto a Biossistec Jr.- iniciando como trainee, indo para gerente, Diretor de Departamento, Diretor Vice-Presidente e atualmente com o cargo de Presidente. Sendo assim, gostaria de compartilhar algumas coisas que aprendi e que responderão, naturalmente, a questão proposta: “a experiência trabalhando como empresário júnior é válida e benéfica para os estudantes de Engenharia de Biossistemas?”.

Inicialmente, trabalhar na Empresa Junior (EJ) irá lhe colocar em situações novas, onde você precisará lidar com prazos rígidos, padrões de qualidade e trabalho em equipe.  Tais conceitos são trabalhados, sim, durante a graduação na faculdade, porém com outra abordagem daquela feita durante o trabalho na EJ – pois não existem notas vermelhas ou trabalhos a serem feitos na véspera: é preciso aprender a deixar os paradigmas e comportamentos de “ser estudante” e aprender a postura de “ser um profissional”.

Ex-Presidente Lula apoiando a iniciativa das Empresas Juniores:
Ex-Presidente Lula apoiando a iniciativa das Empresas Juniores: “Ser Júnior no Brasil é ser gigante pela própria natureza”.

Participar de reuniões com pessoas de diferentes cargos, empresas e universidades permite um aprendizado riquíssimo sobre como se portar em situações empresariais, onde é possível observar as pessoas e incorporar novas técnicas para seu leque de conhecimentos. A capacidade de improvisação em situações novas também é uma habilidade muito trabalhada pelos membros das EJs, pois é preciso aprender a elaborar respostas/justificativas, em um curto espaço de tempo, apresentado-as para diversos públicos através do uso das técnicas de oratória mais adequadas ao momento.

A necessidade de trabalhar e ao mesmo tempo cursar uma graduação em tempo integral exige que os membros das empresas juniores desenvolvam técnicas para a administração de seu tempo, e que lhes permitam conseguir o máximo de produtividade através de planejamento prévio, utilizando, por exemplo, agendas e listas. As relações interpessoais também são desenvolvidas durante os trabalhos nas empresas juniores, onde é possível notar que nem sempre os melhores estudantes (academicamente falando) possuem melhor desempenho na empresa, e que também não necessariamente o fato de uma pessoa ser “legal” ou “descolada” irá garantir que os trabalhos, por ela feitos, sejam de boa qualidade.

O trabalho na EJ permite que os membros identifiquem os líderes legítimos e os líderes que precisam impôr seu poder, e desta forma entende-se na prática os princípios necessários para liderar e trabalhar com equipes. Essa experiência também prepara os estudantes ao futuro mercado de trabalho, onde não necessariamente terão um líder exemplar, mas que caso recebam a oportunidade de liderar uma equipe, obterão sucesso por já terem desenvolvido essa atividade. Todos os cargos na EJ recebem feedbacks para o aperfeiçoamento e crescimento profissional e pessoal.

A participação na Empresa Júnior é essencial para a criação de rede de contatos profissionais, networking, e também para o aprendizado e entendimento de palavras empresariais, como: benchmarking, brainstorming entre outras. Já pensou ir para o mercado de trabalho e ser constrangido por não saber o significado dessas palavras? Para as pessoas que se dedicam a Empresa Júnior é bastante comum a obtenção de bolsas de estudos no exterior, através de diferentes programas de intercâmbio, oportunidade para participar de projetos de iniciação científica, entre outros. Alguns membros conseguem muita visibilidade, dentro e fora da empresa, devido à competência com que desenvolvem seus trabalhos, o que abre portas para cartas de recomendação e principalmente indicações futuras para cargos de confiança.

Um dos principais benefícios, para os membros das empresas juniores, é o reconhecimento e visibilidade por parte das empresas de recrutamento. Justamente devido à esse leque exclusivo de experiências, que os participantes das EJs possuem, já é esperado que eles possuam postura e habilidades profissionais no momento de sua graduação. Esse diferencial induz inevitavelmente os recrutadores a terem outros olhos sobre tais pessoas, visto que apenas a graduação em si não garante que as pessoas saibam trabalhar em equipes, com a mentalidade e padrões de qualidade empresarial. 

Jornal Folha de São Paulo apresentando os benefícios e importância de graduandos participarem de Empresas Juniores.
Jornal Folha de São Paulo apresentando os benefícios e importância de graduandos participarem de Empresas Juniores. Clique na imagem para ampliá-la.

As empresas juniores possuem todos os registros e documentos que a identificam como empresa/pessoa jurídica: CNPJ, Regimento Interno, Estatuto Social e Código de Ética, e também presta contas ao Fisco anualmente, assim como ao Contador, mensalmente. É por essa razão que as empresas juniores são tão valorizadas pelos professores, pois apesar de nenhum de seus empregados estudantes ser remunerado diretamente, a bagagem de conhecimentos e experiências adquiridas garantirão que os futuros profissionais consigam se destacar no mercado de trabalho, tanto pelo currículo quanto pelas competências, técnicas e comportamento, que formam o diferencial buscado nos profissionais atualmente.

Considero importante destacar um tipo muito especial, e frequente, de membro que tenta integrar as empresas juniores: os que não trabalham. Não trabalhar é uma abreviação para sintomas mais significativos, como: não respeitar prazos e não entender o que é padrão de qualidade empresarial. As justificativas apresentadas por tais membros costumam ser semelhantes, e variam entre: falta de tempo e falta de orientação. A experiência de trabalhar nas EJs ensina justamente as pessoas a entenderem a importância de administrar o tempo e a utilizar os canais corretos de comunicação, sempre fazendo perguntas, quando necessário. Todos os membros possuem a ótima oportunidade de aperfeiçoar essas técnicas para se tornarem profissionais de sucesso, porém para os membros que insistem em não aprendê-las, não resta outra saída a não ser a advertência, seguida pelo afastamento. É lamentável que existam pessoas que acreditem que apenas por adicionar ao currículo a participação em empresa junior, já seja suficiente. Todos sabem que os recrutadores conseguem identificar pessoas que realmente foram proativas, que trabalharam e desenvolveram novas habilidades – portanto, a participação em EJs oferece uma ótima oportunidade aos estudantes, desde que eles estejam dispostos a trabalhar e se destacar.

Retomando a pergunta proposta: “a experiência trabalhando com empresa júnior é válida e benéfica para os estudantes de Engenharia de Biossistemas?” e analisando a situação apresentada, somos levados a outras perguntas, mais significativas e diretas: “Você quer uma carreira profissional de sucesso no futuro?” – se sim, “você já possui maturidade para começar a desenvolver as habilidade necessárias para atingir tal meta?” – se sim, seja bem vindo a Biossistec Jr., a Empresa Junior do curso de Engenharia de Biossistemas da Universidade de São Paulo!

4 Comentário

  1. Gostaria apenas de deixar meu sincero agradecimento pelo altruísmo que se observa no “Portal Biossistemas”. Pretendo ingressar no curso esse ano e ainda carrego muitas dúvidas sobre o assunto. O site tem esclarecido muitas das minhas dúvidas, além de me manter informado. Eu agradeço por isso.

  2. Esse excesso de mão de obra qualificada indica que as empresas não estão preparadas para absorver os estudantes formados?
    Tenho refletido muito a respeito da posição das empresas que afirmam não existirem profissionais qualificados , no entanto percebo que muitos engenheiros acabam sendo registrados com outros cargos que pagam menores salários e depois a mídia anuncia que faltam engenheiros? Afinal o que realmente ocorre com o mercado?
    Amigos mais uma vez agradeço pelo belo trabalho e peço para que seja possível explicações sobre esta minha dúvida.
    Afinal como está o mercado de trabalho para os Engenheiros ?
    Obrigado!

  3. Olá, Cid. Compartilho da mesma dúvida e fico indignado ao ver como este profissional é subvalorizado neste país. Após uma rápida pesquisa pude perceber que o problema da “falta de engenheiros” no Brasil na verdade é dado por uma série de fatores determinados em grande parte pelo mercado e por políticas públicas. Por um lado, as oportunidades que encontramos por aí são oferecidas de acordo com necessidades tão específicas da empresa num determinado momento que poucos candidatos atendem às exigências. Os engenheiros recém-formados não possuem conhecimentos aprofundados no que está sendo solicitado (o que poderia ser resolvido com um treinamento, entretanto não acontece), e os profissionais que já estão no mercado há mais tempo demandam maiores salários que as empresas não querem pagar. E aí surge um ciclo vicioso. Mas uma hora alguém tem que ceder e é aí que os profissionais acabam agarrando oportunidades menos favoráveis, pois precisam pagar as contas, sustentar suas famílias, ocupando assim cargos de analistas, vendedores, técnicos, condição em que recebem salários bem abaixo do piso estipulado pelo CREA (atualmente em torno de R$ 5.414,00 – oito salários mínimos). Os profissionais que investiram durante anos em sua formação, possuem inglês fluente, experiências anteriores, capacidade de trabalho em equipe, domínio de softwares, disponibilidade de mudança, dentre outros, acabam se sentindo desestimulados ao verem os salários e os cargos que querem lhe dar, recusando as ofertas. E já que ninguém está pagando o valor justo, não há como barganhar.

    Vi uma notícia recente sobre a importação de engenheiros, baseado nessa conversa da escassez de profissionais, que pretende seguir os mesmos moldes do programa “Mais Médicos” do Governo Federal, uma vez que o repasse de verbas para os municípios e uma série de outras medidas para o desenvolvimento do país dependem destes profissionais trabalhando no setor público. Esbarrarmos novamente na questão salarial, pois muitos municípios não possuem recursos para bancar uma equipe técnica, oferecendo valores bem abaixo de uma cifra compatível à competência dos profissionais… E aí lanço algumas perguntas: trazer profissionais do exterior como uma medida paliativa resolverá o problema? E quanto aos profissionais tupiniquins que estão à espera de oportunidades?

    Deixo algumas referências muito esclarecedoras sobre o assunto:

    http://exatasmentes.wordpress.com/2013/07/04/entendendo-a-falacia-da-falta-de-engenheiros-no-mercado/

    http://mercadoengenharia.wordpress.com/

    http://www.engenhariae.com.br/mercado/importar-engenheiros/

    http://noticias.r7.com/educacao/noticias/demanda-por-profissionais-de-engenharia-formados-preocupa-e-divide-entidades-20130805.html

  4. Situação complicada essa que vivemos no país , acredito que devemos procurar outros países que valorizem bons profissionais !