Texto por: Keylla Guiguer e Matheus H. Paes.
Aconteceu na segunda-feira (15/07) o workshop “Internacionalização de Graduação de Engenharia de Biossistemas”, na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP. O evento teve como objetivo aproximar alunos de graduação, docentes e funcionários ligados ao curso a um cenário global.
A abertura do evento ficou por conta do coordenador do curso na FZEA, professor doutor Celso E. Lins de Oliveira, que apresentou a estrutura curricular do curso e a Faculdade à qual estão inseridos. Em seu discurso o docente ressaltou o déficit na formação de profissionais na área de engenharia no Brasil (6 engenheiros para cada 1.000 pessoas economicamente ativas), sobretudo de mão de obra especializada em tecnologias para o campo, destacando a importância da criação e investimentos em cursos do gênero no país. Tomando como partida esse cenário, fez uma comparação entre as recentes medidas tomadas pelo Governo em relação contratação de médicos estrangeiros, sugerindo que a mesma internacionalização pode ocorrer na engenharia. Em sua visão, o profissional de Engenharia de Biossistemas é um agente que terá um forte contato com o meio internacional, devendo buscar ao longo de sua formação experiências externas, tanto para o aprimoramento de sua formação técnica, quanto para o desenvolvimento de um outro olhar sobre os problemas que estamos enfrentando e iremos enfrentar.
O professor doutor Raul Franzolin Neto, presidente da Comissão de Relações Internacionais da FZEA-USP, apresentou dados relevantes sobre a Faculdade e suas relações internacionais, como a 24ª colocação entre as melhores universidades do mundo das agrárias, além da marca de 160 alunos de nossa unidade que atualmente estão em universidades do exterior e 66 alunos estrangeiros que fazem intercâmbio por aqui.
O primeiro docente convidado a palestrar foi o professor Luis Manoel Navas, da Universidade de Valladolid, na Espanha. Em uma época em que o conhecimento era controlado pela Igreja, o então papa Inocêncio III autorizou, no ano de 1212, a fundação desta que é a mais antiga universidade da Espanha. Sua grandeza não está apenas no número de velas no último bolo de aniversário (800), mas também em números de pessoas, parcerias internacionais, pesquisas e publicações.
Navas abriu sua apresentação esclarecendo que a popularização da Engenharia de Biossistemas no mundo tem uma explicação – as mudanças na qual estamos vivendo. Segundo ele, num cenário em que a população mundial cresce a passos largos, precisamos encontrar formas mais eficientes de satisfazer nossas necessidades por alimentos, materiais e energia, através de um desenvolvimento sustentável. A título de curiosidade, citou que o termo “Engenharia de Biossistemas” teve origem nos EUA durante a década de 1960, época em que a Sociedade Americana de Engenharia Agrícola resolveu alterar o seu nome e dos cursos de graduação relacionados a fim de despertar o interesse decadente dos estudantes pelas tecnologias rurais. Na Europa, essa mesma mudança teve início durante a década de 1990 e segue lentamente até os dias atuais.
As áreas de estudos por lá não diferem das que temos por aqui – energias renováveis, agricultura de precisão, gestão de resíduos e conservação do meio ambiente são alguns dos temas citados durante a palestra. Uma diferença entre os currículos está no fato de que por lá os espanhóis distribuem de forma diferente sua formação – 4 anos de graduação, seguidos por um mestrado de duração de 1 ano. Ainda durante a graduação, os alunos podem optar por uma formação que os levem à um caminho de pesquisa ou outro mais profissionalizante, visando o mundo das empresas.
O docente resolveu bem a equação que define a formação do Engenheiro de Biossistemas. Em sua concepção, é tarefa das disciplinas de biossistemas resolverem os problemas dos sistemas biológicos, que englobam as ciências agrárias, biologia e o meio ambiente, enquanto a engenharia é responsável pela transformação de alimentos, gestão de desenvolvimento sustentável, produção de energias renováveis e de materiais baseados em produtos biológicos.
Encerrando seu discurso, Navas apresentou uma proposta de graduação com duplo diploma entre as duas Universidades (Valladolid e USP), como também na cooperação entre os docentes para formação de seus estudantes, através de aulas ministradas por videoconferência para ambas as Universidades.
A segunda palestra da tarde ficou por conta da professora Diana Lopez, que representou a Universidade de Antioquia, da Colômbia. O tema foi a “Química Verde”, conceito que define a busca pela redução a níveis mínimos da contaminação ambiental de uma determinada atividade. Dentre as pesquisas realizadas por seu grupo na Colômbia – o Quirema (Química de Recursos Energéticos e Meio Ambiente) – está o uso de substâncias com propriedades iônicas que capturam seletivamente os compostos indesejados no meio. Um exemplo disso é a retirada do fosfato da água (altamente poluente), presente no esgoto urbano lançado em rios. O mesmo fostato, após recuperado, é utilizado na agricultura como fertilizante. O grupo de Lopez também estuda a redução do impacto ambiental causado pelo uso se combustíveis fósseis, a recuperação de energia partir desses combustíveis, biomassa e resíduos, além da concepção, preparação e caracterização de catalisadores e materiais carbonáceos.
Em uma próxima edição a organização pretende convidar professores de Portugal para nos contar como está a Engenharia de Biossistemas por lá.
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