De um lado ambientalistas e entidades sociais afirmam que o agronegócio destrói o meio-ambiente, gera desigualdade social, visa somente o lucro de oligopólios, não ajuda no combate à fome. Do outro lado defensores do modelo de agronegócio brasileiro defendem que o agronegócio garante o crescimento do PIB brasileiro, produz alimentação barata e que apesar da produção ter aumentado nos últimos anos no Brasil ainda há 61% dos biomas naturais preservados. Quem estará certo nesse debate? A resposta para isso é simplesmente: ninguém sabe. As duas opiniões apesar de opostas possuem pontos positivos e negativos. E é justamente na análise de alguns desses pontos que podemos ver o Engenheiro de Biossistemas inserindo-se como um profissional que pode atender tanto um lado como outro dessas extremidades, e também atuar como um elo para agradar tanto gregos como troianos.
O agronegócio brasileiro nos últimos anos vem mesmo sustentando o PIB brasileiro, enquanto a indústria mesmo sobre alto financiamento governamental patina, a agropecuária no primeiro trimestre desse ano teve um crescimento de 9,7% em relação ao último trimestre de 2012 (enquanto a indústria recuou 0,3%). Esse crescimento (puxado pela alta na renda média do trabalhador no Brasil e pelo maior consumo da classe média) demanda mais inovações e aumento da produção sem aumentar a área cultivada. Nesse primeiro ponto o Engenheiro de Biossistemas já encontra uma inserção. Como a grade do curso volta-se à mecanização, utilização de tecnologias na produção agrícola que antes não eram muito utilizadas, o Engenheiro de Biossistemas é um profissional que atuará justamente na questão do aumento de produção através de novas tecnologias. A agricultura de precisão (uma das áreas presentes na grade curricular da Engenharia de Biossistemas) trás pontos importantes: tecnologias que auxiliem no uso mais racional de adubos e fertilizantes, diminuição do desperdício de sementes e aumento da taxa de produção, maior controle sobre fatores influentes da produção (clima, solo, irrigação) entre outras já são e se tornarão ainda mais importantes para auxiliar no aumento da produtividade agrícola. Essas questões atendem assim também a demanda do lado ambientalista, como o não avanço das fronteiras agrícolas sobre biomas conservados, diminuição no uso de adubos químicos e defensivos agrícolas etc. Sem contar que o desenvolvimento de inovações trás ganhos ao País através da geração de tecnologias nacionais.
Outra defesa das entidades sociais refere-se à alta participação nos ganhos do agronegócio de latifundiários em detrimento da agricultura familiar (Definição de Agricultura familiar). No Brasil, 80% dos alimentos consumidos pela população são oriundos da agricultura familiar. O Engenheiro de Biossistemas também pode atuar nesse sentido, desenvolvendo novas tecnologias e técnicas que se ajustem à demanda desse tipo de produção, diminuindo os custos que são um dos principais entraves para esse produtor. O Engenheiro de Biossistemas pode atuar na automação da produção (pequenos agricultores ainda tem pouco acesso à novas tecnologias), cultivos protegidos, formas alternativas de geração de energia, substituição de sistemas tradicionais de produção (como no tratamento e uso de efluentes na irrigação), novas tecnologias para a agricultura verde voltadas à agricultura familiar etc.
Essa é apenas uma visão superficial dessa discussão, é necessário que haja um aprofundamento maior em diversos pontos. Novos temas e discussões são necessárias sobre diversos aspectos que se apresentam no cenário atual (como a especulação sobre o preço das commodities, diversificação da produção, conforto animal etc.) Por isso, o Engenheiro de Biossistemas não pode se deixar levar pelo maniqueísmo da discussão que envolve o agronegócio no Brasil. Há sim um caminho intermediário, onde a grande produção agrícola possa ser mais sustentável ambiental, política e socialmente. Os temas estão aí esperando por nós Engenheiros de Biossistemas, esperando por nossas idéias e inovações. Para isso, vamos começar ouvindo suas idéias. Contribuam com o blog, comentando nesse post suas idéias, inovações ou notícias que achem interessante o blog divulgar nessa discussão. Comentem, participem!
Saiba Mais:
Brasil, país de extremistas
Leonardo o curso de Engenharia de Biossistemas tem foco na pesquisa de novas fontes de energia?
Olá Cid, tudo bem?
Nós estudamos sim fontes alternativas de geração de energia, principalmente os ligados à agricultura. Em nossa grade temos disciplinas como: Biocombustíveis, Geração de Eletricidade e Calor, Geração Distribuída. Em outras disciplinas vemos à relação de algumas formas de geração de energia com as atividades agrícolas, como biodigestores, uso da palha para geração de energia etc.
Leonardo o curso é muito voltado para a agricultura ou pode desenvolver pesquisas em outras áreas como a química e bioquímica ? Neste curso há pesquisas fora do campo da agricultura?
Cid, o curso aqui da FZEA foca-se mais no agronegócio msm, em outros países há variações que focam-se em processos bioquímicos etc. Mas, aqui no Brasil nada te impede de após a formação seguir uma pós-graduação nessas áreas mais ligadas à química e bioquímica, pois na nossa grade tbm temos essas disciplinas. Alguns Pesquisadores da FZEA aqui em Pirassununga desenvolvem algumas pesquisas que são voltadas pra outras áres também, como: novos materiais, processos enzimáticos, microfilmes, nanotecnologia etc. Dê uma olhada na nossa grade, assim ficará mais claro às possíveis áreas de nossa atuação: http://www.usp.br/fzea/admin/files/5835_EngenhariadeBiossistemas.pdf
Que legal Leonardo , o curso de vcs é realmente espetacular !!! Parabéns !! Muito obrigado por responder as minhas dúvidas !