CONBEA 2013

Bolsista do Programa Aprender com Cultura e Extensão (2013/14). Orientada pelo Prof. Dr. Fabrício Rossi

De 4 à 8 de agosto, foi realizado, na cidade de Fortaleza-CE, o XLII Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola(CONBEA 2013) que trouxe como tema central os “Desafios para o desenvolvimento rural sustentável”.

XLII Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola (CONBEA)
XLII Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola (CONBEA)

O evento contou com apresentação de trabalhos de associados e convidados, palestras de especialistas da área e mesas redondas sobre temas importantes, polêmicos e atuais. Além disso, na edição deste ano, o evento apresentou duas novidades: a inclusão da área temática “Tecnologias em Agricultura de Precisão” e da “Sala de Inovação Tecnológica”, um espaço destinado para apresentações de produtos e serviços das empresas patrocinadoras.

A palestra de abertura foi ministrada pela Prof. Dra. Irenilza de Alencar Naas (FEAGRI-UNICAMP), que apresentou de maneira clara os principais desafios, que nós engenheiros, iremos enfrentar na busca por um desenvolvimento rural mais sustentável, tendo em vista as mudanças do mercado de alimentos, a crescente “financeirização” das commodities e os impactos da mudança na matriz energética sobre o setor agrícola.

A palestra teve inicio com uma introdução sobre a recuperação econômica após a última grande crise mundial e as perspectivas da produção agrícola mundial frente a esta recuperação e os novos desafios que ela trará.

Segundo FIORENTINO et al. (2012), a  recuperação econômica basear-se-á com base em oito grandes tendências: 1) incorporação de mais de um bilhão de pessoas ao mercado de consumo; 2) investimentos em infraestrutura; 3) crescente militarização; 4) crescimento da produção primária; 5) desenvolvimento do capital humano; 6) saúde e longevidade da população; 7) mudança nos hábitos da população, notadamente hábitos alimentares; e 8) inovação, notadamente em nanotecnologia, genômica, inteligência artificial, robótica, conectividade e financeira. E são estas tendências que segundo a Prof. Irenilza, terão implicações diretas sobre o mercado de alimentos e seus insumos principais, na próxima década. A principal refere-se à segurança alimentar como resultado do crescimento na demanda mundial devido à entrada de um bilhão de pessoas ao mercado consumidor. Além dessa, a saúde e a longevidade, além da mudança nos hábitos da população, sinalizam por mudanças no consumo de alimentos, notadamente quanto a qualidade e conveniência.

O aumento do mercado consumidor, principalmente devido a entrada de um maior número de consumidores advindos das populações chinesa e indiana (estimasse a incorporação de cerca de 400 milhões de pessoas ao consumo até o ano de 2020), trás a necessidade de investimentos em inovação. Segundo a Prof. Irenilza, em economias com alta concentração de renda, politicas de distribuição tem a capacidade de promover o crescimento econômico em sentido inverso, o consumo estimula a produção de bens de consumo duráveis e não duráveis. Essas politicas estimulam rapidamente o crescimento da economia, porém, são sustentáveis apenas quando acompanhadas pela inovação e a consequente geração de novos negócios.

Por outro lado, a retomada do crescimento econômico depende de mudanças na matriz energética mundial e da capacidade de geração de ‘novos negócios’ a partir das fontes energéticas mais sustentáveis ambientalmente, sendo a utilização de grãos, notadamente milho e soja para fins energéticos, um componente importante, que concorre com a produção de alimentos. O investimento americano em etanol a partir do milho deslocou o foco da cadeia de alimentos para a cadeia energética, desequilibrando o frágil balanço de supply chain do mercado de carnes, principalmente do frango e suínos brasileiros. Esta complexidade traz à tona a discussão de prioridade de produção agrícola e sustentabilidade.

Os Engenheiros de Biossistemas devem estar atentos a este novo cenário, uma vez que as soluções para mudanças na matriz energética mundial, o aumento da produtividade agrícola, sem consequentemente aumento da área de plantio, a racionalização de recursos não renováveis, energia e químicos de utilização agrícola passam pela capacidade de inovação das empresas e pesquisadores da área, fazendo parte então da formação e consequente atuação do Engenheiro de Biossistemas.

A questão da necessidade de formação de profissionais capazes de atuar frente as novas dinâmicas do agronegócio também foi abordada durante a palestra, onde em um estudo sobre a evolução dos cursos relacionados ao agronegócio e sua avaliação RINALDI et al. (2008) apresentam, como vantagem competitiva sustentável, algumas características ao profissional, das quais destacam-se: conhecimentos em gestão de recursos humanos, competências e estratégias de acumulação e utilização do saber como capital intelectual, capacidade de manusear inovações tecnológicas na área, domínio de idiomas a fim de acessar as novas tecnologias advindas da globalização, visão sistêmica que proporciona o domínio do negócio e versatilidade para rápida adequação à evolução do agronegócio.

Desta forma, o investimento em educação, no âmbito do desenvolvimento rural e no entendimento da sustentabilidade, é de fundamental importância para que haja mão de obra qualificada a atender a esta demanda. Sendo assim é proposto que o número de vagas disponíveis e de concluintes dos cursos tenha oferta exponencial a partir do crescimento projetado na balança comercial do agronegócio no Brasil para os próximos 10 anos. Além disso, segundo a Prof. Irenilza, hoje não há a certeza de que haverá mão de obra qualificada para atender aos desafios do desenvolvimento agrícola, tampouco o desenvolvimento sustentável, o que mostra a necessidade da expansão e investimentos em cursos como a Engenharia de Biossistemas, no auxílio ao desenvolvimento rural brasileiro nas próximas décadas.

Fonte:
http://www.sbea.org.br/conbea2013/

FIORENTINO, G. et al. As oito grandes tendências de crescimento até 2020. Boston: Bain & Company, Inc, 2012. 39p.

RINALDI, R.N.; BATALHA, M.O.; MULDER, M. O ensino superior em agronegócios baseado em competências: uma análise à luz do modelo holandês. Informe Gepec, v.12, n.2, p. 166-186, 2008.

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