Texto por: Vitor Badú – Graduando em Engenharia de Biossistemas
Uma fazenda, podendo ser rural ou urbana, inclui diversas práticas e estruturas com o objetivo principal de produção e gerenciamento de alimento. É nessa região que são desenvolvidas atividades do setor primário de produção.
No final do ano passado publiquei um texto aqui no portal que se tratava das cidades sustentáveis (http://www.usp.br/portalbiossistemas/?p=7148). E que, segundo Vecchia, as cidades somente podem prosperar se houver conservação de seus recursos naturais. O mesmo ocorre com as fazenda, se não houver uma reciclagem de ideias e adaptação a novos modelos menos degradantes ao meio, podemos não prosperar por muito mais tempo.
O desenvolvimento da tecnologia no século XX trouxe extremas influências no dia a dia popular. Muitas práticas, utilizadas até hoje, trouxeram mais conforto e rapidez para as pessoas. Um bom exemplo no meio rural é o trator, que com sua popularização, diminuiu muito a utilização do trabalho manual em algumas atividades.
A popularização na zona rural de certas tecnologias trouxe também alguns problemas sociais, como o êxodo rural. Maquinário agrícola e práticas tecnológicas substituíram os trabalhadores rurais, que muitos por não possuírem qualificação para outras atividades e em busca de trabalho, migraram para as grandes cidades (veja mais no texto Cidades sustentáveis)
O crescimento do uso de tecnologias e insumos na agricultura, também chamado de revolução verde, é baseado em tecnologias genéricas (fertilizantes químicos, máquinas, equipamentos, agrotóxicos e poucas espécies de plantas) que podem ser utilizadas em praticamente todos os lugares do mundo. Isso facilitou seu processo de difusão/adaptação, tornando possível a adoção quase imediata dessas tecnologias. O resultado desse processo foi a “homogeneização biológica e social” da agricultura comercial mundial (Buttel,1995; Goodman et al., 1987).
Mais precisamente no Brasil, seu traço de desenvolvimento se resume ao caráter concentrador de grandes latifúndios e, contraditoriamente, o crescimento do número de pequenas propriedades.
De um lado temos latifúndios com exorbitantes extensões de terras, a maioria deles aplicando sistemas intensivos de produção, possuem seu foco principalmente no mercado externo e estão associados a agroindústria.
Já os pequenos produtores, podendo ser de sistemas intensivos ou não, estão ligados ao mercado interno e à mão de obra familiar.
Independentemente de seu tamanho, práticas de autossuficiência devem ser minuciosamente aplicadas, visto que, recursos naturais estão cada vez mais escassos, gastos com energia estão ultrapassados e a demanda mundial por alimentos está sempre em crescimento.
Tal cenário nos implica a discorrer sobre o conceito de agricultura sustentável, a qual possui características importantes como: a diminuição de adubos químicos, através da técnica da fixação de nitrogênio; uso de técnicas em que não ocorra a poluição do ar, do solo ou água; prática da agricultura orgânica, não utilização de pesticidas; criação de sistemas de captação de água para irrigação; não invasão de áreas de proteção ambiental para expansão de áreas agrícolas etc.
Agricultura Sustentável pode ser definida como uma prática agrícola ecologicamente equilibrada, socialmente justa, economicamente viável, adaptativa e humana, segundo Reijntjes.
Como já discutido no texto das Cidades Sustentáveis, apesar do termo sustentabilidade ser popularmente conhecido ele é, muitas vezes, utilizado de forma errônea. A palavra sustentabilidade tem sua origem do Latim sus-tenere (Ehlers, 1996), que significa suportar ou manter. Sustentabilidade, bem como outros conceitos originários desse (Desenvolvimento Sustentável, Agricultura Sustentável), devem ser vistos como um conceito complexo e dinâmico, fortemente dependentes dos contextos no qual são aplicados (Brown et al., 1987).
No município de Caconde no interior do Estado de São Paulo, próxima a divisa com Minas Gerais, existe uma pequena propriedade que tem foco na suinocultura. Esse minifúndio começou a praticar a reutilização de resíduos de dejetos suínos para a produção de biogás. Pequena prática teve tanta repercussão que virou tema de um projeto da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, e publicado na revista internacional Biomass and Bioenergy.
Haja vista todos esses conceitos, o Engenheiro de Biossistemas se situa perfeitamente em tal contexto, atuando principalmente na inovação e produção de energia limpa, no tratamento e reutilização de resíduos, diminuindo impactos causados pela agricultura no solo e no meio. O aumento da demanda de alimentos também é responsabilidade do engenheiro de biossistemas, visto que, tal gerenciamento deve ser feito com a criação de novas tecnologias que auxiliem a harmonia com o meio, garantindo volume de produção e respeito para com os recursos naturais.
Referências
-B.MOLISSON & D.HOLMGREN. 1978, Permaculture one.
-Buttel,F.H., 1995, The global impacts of agicultural biotechnology: a post-green revolution perspective. In Issues in Agricultural Bioethics, pp.345-360 Edited by Mepham,T.B., Tucker,G.A., Wiseman,J. Nottingham University Press, Nottingham, 413pp
-Goodman,D., Sorj,B., Wilkinson,J., 1987, From farming to biotechnology: a theory of agro-industrial development, Basil Blackwell, Oxford
-Kidd,C.V., 1992, The evolution of sustainability, Journal of Agricultural and Environmental Ethics, Vol 5, no 1, pp1-26
-Reijntjes,C., Haverkort,B., Waters-Bayer, A., 1992, Farming for the future: an introduction to low-external-input and sustainable agriculture, The Macmillan Press, London, 250p