Texto por: Lisiane Brichi, graduanda em Engenharia de Biossistemas.
Comumente é possível associar a agricultura familiar à forma de produção mais rudimentar, com pouco trabalho assalariado associado e erroneamente vista com muito pouca ou nenhuma tecnologia agregada. Porém, atualmente para conseguir se manter na cadeia competitiva do agronegócio, o pequeno proprietário rural vem se especializando e se moldando às novas exigências inovativas impostas pelo mercado. Isto pois, em geral o pequeno proprietário rural tem mais aversão ao risco que os médios e grandes produtores, uma vez que possuem menos recursos disponíveis para reestruturar-se. Assim sendo, o agricultor familiar brasileiro vem buscando medidas de produção mais diversificadas, que a partir da alocação de recursos, gerem uma auto suficiência alimentar e produtiva para o mesmo.
Nacionalmente falando, a agricultura familiar brasileira hoje é responsável por 70 % dos alimentos chegam às nossas mesas, bem como pela geração de 7 a cada 10 empregos no campo segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) sendo que mais de 170 mil famílias brasileiras são beneficiadas por meio do programa do Governo Federal de promoção da agricultura familiar e de acesso à alimentação saudável. Desta forma então, o objetivo atual tanto desta classe de produtores como do próprio Ministério da Agricultura, é a partir da capacitação da produção familiar, aumentar a qualidade do que será consumido pela própria família produtora, bem como aumentar sua renda pelo excedente comercializado.
Por esta razão, tanto nacionalmente quanto mundialmente, as principais agências de pesquisa do agronegócio têm criado medidas acessíveis, práticas e tecnológicas voltadas à melhoria do que a agricultura familiar produz. Um exemplo disto, concentra-se na geração de material de apoio e capacitação provenientes de pesquisas realizadas pela EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. No ano de 2014, a EMBRAPA lançou uma publicação denominada “Tecnologias para agricultura familiar”, a qual tem por objetivo contribuir com o desenvolvimento sustentável destes produtores, por meio da concessão de recomendações antes não acessadas pelos mesmos. O documento traz em si recomendações técnicas ao que se remete à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, Adubação verde, Diversificação da Produção e Segurança Alimentar, entre outros.
Como o ano de 2014 correspondeu ao ano da agricultura familiar, data escolhida pela ONU (Organização das Nações Unidas) as pesquisas mundiais voltadas à esta temática ficaram mais em voga. Segundo a FAO, Oganização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, 80% dos alimentos mundiais são produzidos por agricultores familiares, e é por esta razão, que esta mesma entidade lançou em junho deste ano o anúncio da criação de uma plataforma digital com informações para agricultores familiares. Segundo Francesco Pierri, responsável pela FAO, “Há muita informação disponível na internet, mas está dispersa, por isso queríamos um único acesso à informação para qualquer pessoa que trabalhe nesse campo”.
Seguindo então esta mesma linha, a Codevast, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, em convênio com as Universidades Estadual e federal do Piauí (UESPI e UFPI), criou um projeto para a implantação de um Centro de Treinamento e Capacitação do Município de Oeiras, cidade interiorana do Piauí onde mais de 40% da população se dedica à agricultura familiar. A projeção é que cerca de 1.500 famílias sejam beneficiadas.
Na Engenharia de Biossistemas também há diversas áreas de pesquisa e inovação que podem beneficiar os agricultores familiares. A análise de imagens, tanto para seleção de frutos quanto para detecção de pragas e doenças, a área de novas energias que permitam à esses produtores utilizarem mais equipamentos em suas propriedades, além das aplicações na produção animal (bem-estar, zootecnia de precisão, aproveitamento de resíduos etc).
Deste modo, espera-se então que cada vez mais o agricultor familiar se capacite, sendo reconhecido pelo seu trabalho, e que cada vez mais tenhamos alimentos de qualidade em nosso dia-a-dia.
Referências utilizadas:
http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1125
https://www.embrapa.br/embrapa-no-ano-internacional-da-agricultura-familiar
