A produção de cinzas e restos queimados do bagaço da cana-de-açúcar pelas usinas sucroalcooleiras no país é de 3,8 milhões de toneladas/ano. Desse montante, parte é descartada em aterros e outra empregada como adubo nas plantações de cana, ainda que sua eficácia não esteja comprovada.
Estima-se que para cada tonelada de bagaço incinerado, são gerados, em média, 25 quilos de cinzas. A incineração do bagaço nas indústrias do setor é uma prática vigente há algum tempo, destinada à geração de energia elétrica para consumo próprio.
Uma amostra desse material foi estudada na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), por uma equipe coordenada pelo professor Almir Sales, visando a aplicação na construção civil. A proposta do pesquisador é substituir parte da areia utilizada na preparação de argamassa e concreto pelas cinzas do bagaço da cana.
O pesquisador destaca que a extração de areia natural exige muito da natureza, no qual são verificados desgastes nos leitos dos rios. Em decorrência dessa atividade, licenças ambientais no Maranhão foram suspensas, gerando um aumento de 500% no preço da areia. Assim, começam haver dificuldades para encontrar areia de boa qualidade para uso na construção civil.
O concreto produzido com as cinzas do bagaço da cana poderá ser utilizado, em princípio, na maioria das aplicações da construção civil. A pesquisa mostrou que para uma substituição de 30% a 50% em massa de areia natural pelas cinzas é observado um ganho de resistência até 20% superior ao concreto convencional.
Nos estudos feitos em laboratório, a equipe realizou a caracterização físico-microscópica das cinzas, revelando uma porção cristalina e alto teor de sílica, com perfil muito parecido ao da areia natural. Quanto à caracterização de suas propriedades para a adubação, observou-se que as concentrações de potássio presentes nas cinzas eram muito baixas, fator que não justifica seu uso como corretivo da acidez do solo, além da presença de metais pesados, provenientes de fertilizantes, que acabam por contaminar o lençol freático.
Uma vez definida a proporção ideal entre cinzas e areia, a próxima etapa da pesquisa é a verificação de durabilidade do concreto. Será verificado se o concreto empregando as cinzas é capaz de proteger armaduras – ou seja, evitar que o aço da estrutura sofra corrosão – e sua resistência para concretos estruturais de alto desempenho.
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