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Círculo Fechado
os japoneses sob o olhar vigilante do DEOPS/SP

Curadoria: Boris Kossoy
Local: Estação Pinacoteca - Largo General Osório, 66
Cidade/Estado: São Paulo/SP
País: Brasil
Data: 24 de janeiro de 2009

Ao desembarcarem no porto de Santos em junho de 1908, centenas de japoneses deixaram o navio Kasato Maru com esperanças de aqui encontrarem um país aberto à todas as etnias, religiões, nacionalidades e ideologias políticas. Ansiosos por recomeçar a vida como colonos nas fazendas de café do interior paulista, dirigiram-se para a Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo onde deveriam cumprir com a primeira etapa de um contrato de amizade firmado entre o Brasil e o Japão. Sem saber falar português, carregados de bagagens e muitas incertezas, caminharam em busca de dias melhores. Muitos sonhavam com cafezais com frutos que brilhavam como ouro; outros imaginavam um paraíso tropical, azul, rico em hospitalidade e laços de solidariedade.

Ainda que trajados à moda européia, preservavam dentro de si o pulsar de uma identidade milenar. Orgulhosos dos seus imperadores e de serem parte de uma nação culta, edificada por samurais e bravos guerreiros militares, procuraram preservar sua identidade. Desde o início, nas colônias agrícolas ou nos centros urbanos, mantiveram suas formas de organização comunitária, preservaram suas tradições e idioma de origem, elos de ligação com sua pátria-mãe. Como relíquias guardaram seus álbuns fotográficos cujas imagens registravam sua ancestralidade e suas conquistas em tempos de paz e de guerra. Mal poderiam imaginar que, décadas depois, estas fotografias seri usadas para incriminá-los como “povo traidor” à serviço do imperialismo japonês. Esta é uma história que nem todos querem lembrar, mas que faz parte da memória dos imigrantes japoneses radicados em várias regiões do Brasil. No caso do Estado de São Paulo, o círculo em torno desta comunidade foi se fechando cada vez mais, até atingir seu ápice entre 1942-1945. Xenofobia e nacionalismo exacerbado serviram como ingredientes para julgamentos arbitrários e práticas intolerantes.

Este é o foco central desta exposição que tem sua origem na documentação que integra o Fundo DEOPS / SP, do Arquivo Público do Estado de São Paulo, acervo esse que tem sido a base dos trabalhos que vem sendo produzidos nos últimos doze anos pelo PROIN – Laboratório de Estudos da Memória Política Brasileira (DH – FFLCH/USP). Idealizada em quatro núcleos temáticos, a mostra engloba micro-histórias que remetem ao cotidiano da repressão a que foi submetida a comunidade japonesa no Estado de São Paulo e restante do país, a saber: Geopolítica do controle; Entre códigos e suspeitos; Heranças de um passado militar; Inconformismo e resistência: a Shindô-Renmei. Finalmente, a exposição é complementada por um conjunto de documentos extraídos dos prontuários do DEOPS / SP que abordam a repressão aos artistas de origem japonesa no mesmo período.

Boris Kossoy

Curador



Um outro olhar sobre a imigração japonesa no Brasil

Esta exposição integra o programa da Universidade de São Paulo para as Comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil em parceria com o Arquivo Público do Estado de São Paulo e o Memorial da Resistência. Tem por objetivo demonstrar que a trajetória dos imigrantes japoneses no Brasil deve, também, ser conhecida sob o viés da história da repressão e da resistência. Suas histórias de vida formam micro-histórias que, no contexto da memória coletiva, nos oferecem uma outra dimensão sobre o tratamento dispensado pelo Estado brasileiro aos estrangeiros radicados no Brasil.

Esta é uma proposta do PROIN- Laboratório de Estudos da Memória Política Brasileira do Departamento de História (FFLCH/USP) que, através desta mostra, traz à público os resultados das pesquisas do Projeto Temático Fapesp “Arquivos da Repressão e da Resistência”. Desde 1996, nossos pesquisadores vêm inventariando a documentação que compõe o Fundo DEOPS/SP sob a guarda do Arquivo Público do Estado, dedicando-se a reconstruir a história e memória política do Brasil republicano marcado por duas ditaduras: 1937-1945 e 1964-1983.

Os documentos selecionados para esta exposição integram a Base de Dados Iconografia, idealizada e coordenada pelo Prof. Boris Kossoy (ECA/USP), pesquisador do PROIN. A pesquisa sobre os japoneses prontuariados pela Delegacia de Ordem Polícia e Social nas décadas de 1930-1940, foi desenvolvida pela doutoranda Márcia Yumi Tackeuchi, autora de um inventário que analisa a perseguição empreendida pela Polícia Política paulista à comunidade nipônica durante a Segunda Guerra Mundial.

Maria Luiza Tucci Carneiro

Coordenadora Geral do PROIN



Ficha Técnica

Curadoria: Boris Kossoy

Pesquisa: Marcia Yumi TakeuchiColaboradores: André Briant, Erick G. Zen, Nádia Saito, Rodrigo Vazquez Esposito e Rogério Dezem.

Fontes: Fundo DEOPS/SP.

Arquivo Público do Estado de São Paulo

Realização: PROIN - Laboratório de Estudos sobre a Memória Política Brasileira, do Departamento de História, FFLCH-USP; Arquivo Público do Estado de São Paulo e Memorial da Resistência - Pinacoteca do Estado.

Expografia/ Comunicação visual: Zol Design

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