Durante o mês de agosto a atriz e pesquisadora Mariana Senne ocupará o espaço do TUSP Butantã em uma residência com duas ações artísticas principais. Neste domingo, 7/8, Mariana convida o diretor e dramaturgo José Fernando Azevedo Peixoto para juntos iniciarem os primeiros experimentos do projeto Chanchada Machine, uma plataforma de experimentação com textos clássicos que tem como intuito expor a agonia desesperada do drama e do pós-dramático. Na sequência, de 8-11/8, encontros de compartilhamento de práticas nos quais Mariana convida criadores, atores e performers a trocarem conhecimentos e se lançarem numa experimentação imersiva, tendo o corpo como motor.
8-11.ago//Residência: Compartilhamento de práticas e de pesquisa, com Mariana Senne
08 a 11 de agosto (segunda a quinta-feira), das 14 às 18h | TUSP Butantã
Residindo há alguns anos em Berlim, Mariana Senne tem trabalhado em colaboração com diferentes artistas da cena livre na Europa, acumulando diversas experiências, conhecimentos, frustrações e inquietações em como criar na contemporaneidade.
Em 2021 concluiu o prestigiado mestrado Das Arts em Amsterdam, onde teve a possibilidade de organizar, formatar e definir metodologias e modos de abordagem na criação teatral.São precisamente essas práticas que Mariana pretende compartilhar na primeira semana de agosto junto a interessados em questões do teatro contemporâneo. Pilares centrais desse encontro serão: improvisação – como motor inicial e final da criação; o trabalho com a história, no sentido de “Herstorie”; a performatividade do “aqui e agora” – entre a interpretação e a performação, a noção de gesto performativo como meio de seleção e criação de materias cênicos e corpo que pensa em voz alta como o centro pulsante da criação.
20 vagas | inscrições pelo link: https://forms.gle/ix2WBgsdY5nXwYRA7
7.ago//Chanchada Machine – Uma plataforma em processo | Abertura de Processo
Domingo, dia 07 de agosto, 15h | TUSP Butantã | Gratuito
Uma plataforma que faz da chanchada método. Entre São Paulo e Berlim, o trânsito de perspectivas interroga sobre o valor de uso dos materiais: dos apelos cansados de um assim chamado clássico à performatividade camicase do auto-exílio. É tudo nosso nesse mundo cada vez mais brasileiro.
“Não somos Europeus nem Americanos do Norte, mas destituídos de cultura original, nada nos é estrangeiro porque tudo o é. A penosa construção de nós mesmos se desenvolve na dialética rarefeita entre não ser e ser outro. O filme brasileiro participa do mecanismo e o altera através de nossa incompetência criativa em copiar.”
Chanchada Machine é uma plataforma, um dispositivo criado por Mariana Senne e José Fernando Azevedo Peixoto. Inspirados no trecho citado, do crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes, surgiu a ideia de criar uma plataforma para estudos, experimentos, esculachos, escrachos e sobretudo erros. Os ocupados querem sempre copiar o modelo dos ocupantes. Tomando isto como fato, a ideia é olhar para a chanchada brasileira nas suas várias fases, em especial quando ela reaparece no Cinema Novo.
A chanchada é bastante incompetente nessa tentativa de cópia. O que a chanchada acaba revelando é que ao tentar copiar o modelo europeu (modelo dos ocupantes) se constata que esse modelo não é universal. Existe nesse processo portanto um aspecto de revelação: a perspectiva do universalismo europeu se expandiu junto com a expansão colonial. Copiamos o modelo europeu numa busca por reconhecimento de que somos humanos mas a (in)habilidade criativa nos faz expor a existência de outras humanidades e portanto rejeita freemente a perspectiva do universalismo. Chanchada Machine quer juntar de forma extrema e radical a Europa e a periferia. Chanchada Machine trabalha com autores tipicamente europeus expondo a agonia desesperada do drama e do pós dramático. Alcançar a infidelidade absoluta sendo absolutamente fiel ao texto. Explodir e saquear.
O primeiro clássico escolhido como material a ser saqueado é A Voz Humana de Jean Cocteau, na nossa versão uma chanchada sentimental ou, talvez, “A Voz Humana uma chanchada emocional”. Como trabalhar com o texto para além do ritual de luto de uma separação? O que significa uma separação amorosa na nossa sociedade para uma mulher e para um homem? E sobretudo para uma mulher mais velha? Que moldura fixa é essa do imaginário feminino? A mulher que sofre. A mulher que chora aos olhos de regozijo do homem que assiste. Nos interessa trabalhar com esse material se servir de reflexão profunda sobre a idéia do amor romântico. E a semelhança que existe na relação com o amor romântico e na relação com as mercadorias. Esta semelhança entre o amor e as mercadorias não é uma coincidência; não é uma coincidência que a modernidade capitalista e o amor romântico surjam ao mesmo tempo. Esses modos de relacionamento (modos de se relacionar com o amor romântico e modos de se relacionar com a mercadoria) devem ser compreendidos na sua estrutura afectiva básica, a fim de compreender como ambos emergem da falta significativa do outro. A relação amorosa como reação e como complemento à relação de mercadorias. A pergunta é: o fato de estarmos conscientes da colonização do romântico e da mercantilização do amor, nos exime de nos relacionarmos apaixonadamente com o amor?
Morrer de amor, todo mundo sabe como é. O que a chanchada machine quer perguntar é: como seria rir de amor?