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O espetáculo O Caso Meinhof é uma montagem do Teatro do Fim do Mundo livremente inspirada no texto Ulrike Maria Stuart, da ganhadora do Nobel de literatura Elfriede Jelinek. A partir da história da RAF, grupo terrorista alemão dos anos 70 (que tinha as mulheres Ulrike Meinhof e Gudrun Ensslin na liderança), a peça discute o fracasso e a herança dos movimentos revolucionários do séc. XX, além de debater a presença das mulheres na liderança de processos políticos – entre outros temas que se mostram urgentes no Brasil de hoje.

Este foi um projeto contemplado pela 12ª Edição do Prêmio Zé Renato da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Lançada logo após o recebimento do Nobel em 2004, Ulrike Maria Stuart é com frequência considerada a mais importante peça de Jelinek, autora fundamental para a dramaturgia contemporânea (apesar de sua obra ainda ser pouquíssimo encenada no Brasil). Ao tratar de temas fundamentais para pensar o tempo em que vivemos – o aparente fracasso dos projetos revolucionários, o perigo da violência autoritária por parte de quem deseja mudar o mundo, e ao mesmo tempo a impossibilidade de se conformar a uma ideia de que o mundo não pode ser transformado –, a peça se faz urgente em um contexto brasileiro de crise profunda em que a imaginação política se vê travada pelo peso excessivo dos vícios históricos do país.

Para narrar essa história, o grupo transformou a trajetória de vida da terrorista Ulrike Meinhof em um podcast, apresentado em cena pelos filhos da guerrilheira, vividos por Artur Kon e Mariana Otero. A história se divide em três episódios: todas as noites, o elenco – completado por Carla Massa, Clayton Mariano, Maria Tendlau e Marilene Grama – apresenta 3 programas de 50 minutos cada. O público pode ver os episódios de maneira independente ou assistir um espetáculo de quase 3 horas numa noite, com dois intervalos.

Mas a peça também pode ser lida como uma disputa entre três figuras – um pai, uma mãe e a rival desta – pela influência sobre os filhos do casal. Essa trama, aparentemente banal e digna de um drama familiar, é na verdade metáfora para os rumos da esquerda no fim do séc. XX e início do XXI. E o grupo parte desse conflito de gerações para criar uma proposta de encenação.

Para tal, reuniram duas gerações de artistas de teatro, materializando assim a disputa travada na peça. De um lado, Clayton Mariano e Maria Tendlau representam os pais (e ao mesmo tempo dirigem o espetáculo) – os dois fazem parte da geração de artistas teatrais que se engajou na luta por políticas públicas para a cultura, e que deram origem à Lei de Fomento ao Teatro e a programas como o Vocacional, por exemplo. Marilene Grama, mais jovem, representa Gudrun Ensslin, companheira e rival de Ulrike. Já Artur Kon e Mariana Otero, que encarnam os filhos do casal, representam a mais nova geração de artistas, que busca refazer a luta da geração anterior, em um contexto já bastante transformado.

DO HISTÓRICO AO FANTASIOSO
O espetáculo parte de um fato curioso: os quatro principais integrantes da RAF (ou Grupo BaaderMeinhof) tiveram seus cérebros retirados para estudos após a morte na prisão. Houve inclusive quem afirmasse que uma lesão de Ulrike teria sido responsável pelo comportamento violento e consequentemente sua atividade de terrorista. Só décadas depois a filha já adulta de Meinhof conseguiu na justiça reaver e enterrar o cérebro da mãe; na ocasião, descobriu-se que os três outros haviam desaparecido misteriosamente. A partir desses estranhos fatos, a peça do Teatro do Fim do Mundo ficcionaliza o misterioso roubo do cérebro de Ulrike: os próprios filhos dela teriam se reapossado do encéfalo preservado em um vidro, para tentar se comunicar com ele. Então, na casa de seu pai reacionário (onde moram desde que ela entrou para a clandestinidade), fazem um podcast para investigar a verdade sobre a morte da mãe. A cada episódio confrontam um entrevistado envolvido na história, mesmo que para isso precisem buscar meios pouco convencionais de comunicação, inclusive com os mortos.

SOBRE O TEATRO DO FIM DO MUNDO
O Teatro do Fim do Mundo é uma plataforma criada por Artur Kon em 2016 para juntar-se a outros artistas interessados em pensar o que pode ou deve fazer o teatro diante da destruição social experimentada desde aquele momento no Brasil e no mundo, desafiando a perplexidade e impotência que parecia dominar. Em seus primeiros trabalhos, deparou-se com a dramaturgia radical da austríaca Elfriede Jelinek, cuja obra busca revitalizar uma tradição de teatro político fazendo-a enfrentar sem subterfúgios as dificuldades e impasses impostos pelo presente. Em Sem Luz, uma catástrofe nuclear servia de metáfora e lugar concreto para pensar a continuidade da existência em uma situação de total desorientação. Agora, em O caso Meinhof, a história de derrotas da esquerda no século XX traz para essa reflexão um caráter explícito e urgente.

FICHA TÉCNICA

Direção: Clayton Mariano e Maria Tendlau / Tradução e dramaturgismo: Artur Kon / Elenco: Artur Kon, Carla Massa, Clayton Mariano, Maria Tendlau, Mariana Otero e Marilene Grama / Direção de arte e material gráfico: Renan Marcondes / Cenotecnia: Matias Arce / Desenho de luz, direção e operação técnica: Cauê Gouveia / Assistentes técnicos: Leo Inocêncio e Luana Gouveia / Trilha original: Renato Navarro / Confecção das golas: Antonio Slusarz / Fotografia: Cacá Bernardes / Registro em vídeo: Bruta Flor Filmes / Assessoria de imprensa: Luciana Gandelini de Souza / Assistente de produção: Mariana Pessoa / Direção de produção: AnaCris Medina | Jasmim Produção Cultural / livremente inspirado em ULRIKE MARIA STUART, de Elfriede Jelinek

SERVIÇO
O Caso Meinhof | Teatro do Fim do Mundo
Dias 04, 05 e 06/10 e 11,12 e 13/10 | Sextas e sábados, 20h; domingos, 18h
Teatro da Universidade de São Paulo | TUSP Butantã
Rua do Anfiteatro, 109 acesso pela lateral direita do prédio, ao lado do bloco C – Butantã – São Paulo/SP

Dia 20/10, 18h
Teatro Procópio Ferreira
Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos
Rua São Bento, 415 | Centro | Tatuí/SP

ingressos gratuitos, distribuição 1h na bilheteria do local
14 anos / 120 minutos