O Pão e a Pedra, nova montagem da Companhia do Latão em temporada de estreia no Teatro da Universidade de São Paulo, acompanha as dificuldades de diversas personagens do mundo do trabalho durante a greve dos metalúrgicos ocorrida em 1979 no ABC. Histórias de aprendizados políticos e de luta pela sobrevivência se desenvolvem em torno do caso central de uma mulher operária que se disfarça de homem para melhorar de vida, questionando a situação feminina num ambiente fabril.
Misturando elementos realistas, fantásticos e documentais, a encenação contrasta a prática política de uma greve histórica, cujas assembleias no Estádio da Vila Euclides contavam com mais de 70 mil trabalhadores, com expectativas ideológicas alimentadas pelo imaginário de três grupos: o novo sindicalismo, a Igreja progressista e o movimento estudantil de esquerda. Em meio à campanha salarial e ao enfrentamento da polícia, os operários de O Pão e a Pedra travam um embate com a própria vida coisificada.
Com direção de Sérgio de Carvalho, também responsável pela concepção do projeto e pelo roteiro final, a montagem é uma criação coletiva que contou com a colaboração de uma equipe de pesquisadores, entre os quais Julian Boal. A direção musical e a execução ao vivo estão a cargo de Lincoln Antonio, do grupo musical A Barca, que volta a colaborar com a Companhia do Latão depois de 15 anos. No elenco, 10 atores, entre os quais Helena Albergaria, Ney Piacentini, Rogério Bandeira.
O ponto de partida da pesquisa, formulado dois anos antes, em continuidade com outros trabalhos autorais da Companhia do Latão, era o das relações contraditórias entre imaginário ideológico e situação produtiva na experiência recente da vida no Brasil. Os primeiros contatos com a temática da religião cristã, a influência da Teologia da Libertação e seu papel nos anos da ditadura militar na crítica da desigualdade social fez com que o grupo se aproximasse de outras questões, como a do “novo sindicalismo”, que ganha projeção nacional com as grandes greves do ABC que ocorreram em 1978, 1979 e 1980. A junção entre igreja e movimento de trabalhadores, tensionada pela pressão de setores intelectualizados de esquerda, se tornaria emblemática na luta pela democratização e mudaria as coordenadas políticas da esquerda no país. O Pão e a Pedra é uma das principais realizações do projeto Companhia do Latão 2013-2016, contemplado no edital da Petrobras Cultural na linha de Manutenção de Grupos de Teatro.
Elenco Beatriz Bittencourt, Beto Matos, Érika Rocha, Helena Albergaria, João Filho, Ney Piacentini, Rogério Bandeira, Sol Faganello, Thiago França Direção Musical, composição e execução Lincoln Antonio Cenário e figurinos Cassio Brasil Iluminação Melissa Guimarães e Silviane Ticher Cenotécnico Valdeniro Pais Dramaturgo assistente Julian Boal Colaboração na dramaturgia Helena Albergaria Registro videográfico Natalia Belasalma Assistência de direção Maria Lívia Nobre Equipe de pesquisa Julian Boal, Marcelo Berg, Maria Lívia Nobre, Natália Belasalma, Olívia Tamie, Sérgio de Carvalho Fotografias do cartaz Cristiano Mascaro Arte do programa e cartaz Marcelo Berg Assistência de produção Olívia Tamie Produção João Pissarra Dramaturgia e direção Sérgio de Carvalho