Idealizado por Laerte Késsimos, dirigido por Aura Cunha, com dramaturgia de Leonardo Moreira, música original de Marcelo Pellegrini, cenário de Marisa Bentivegna e iluminação de Aline Santini, entre 14 de novembro e 15 de dezembro, o espetáculo teatral Ser José Leonilson é uma costura poética entre a vida e obra do artista plástico cearense José Leonilson (1957-1993) e a biografia de Laerte Késsimos.
A peça que estreia no TUSP é a terceira e última etapa de um processo que envolveu a performance pública O Porto, um ateliê aberto à visitação onde Laerte Késsimos criava obras visuais que eram também depoimentos bastante pessoais; a exposição Como se desenha um coração?; e, finalmente ,o espetáculo teatral Ser José Leonilson, porto de chegada dessa jornada.
Elaborado a partir dos depoimentos (biográficos e artísticos) do artista plástico brasileiro e de registros sonoros feitos pelo próprio Laerte durante o processo de criação e pesquisa, o tecido que é alinhavado diante do público une as inquietações dos dois artistas: a feitura artística como um autorretrato, a casa de infância como um ambiente de domesticação, a sexualidade como campo de batalha, as pontes amorosas como uma travessia e a doença como uma reconciliação com nossa finitude.
Aproximando-se de forma direta da obra de Leonilson, o próprio processo de investigação de Laerte, os vestígios da criação, os áudios que dão dimensão histórica ao cotidiano criativo são, eles próprios, a obra. Um bordado em que frente e verso são compartilhados publicamente – suas amarras, cortes, sobras de linha, correções, imperfeições, pontos e nós.
O espetáculo é um monólogo que mistura artes visuais (projeções em vídeo), narração de histórias (a transposição para o palco de relatos biográficos gravados durante o processo) e documentário (a vida e obra de Leonilson) se misturam em um ateliê de costura que é também um palco. Em cena, Laerte Késsimos expõe não só a sua biografia (em relatos íntimos gravados e reencenados diante do público), mas também seus quadros, bordados e criações audiovisuais – operando, narrando e expondo suas criações ao vivo.
Assim como a obra de Leonilson não pode se desassociar da vida do artista, por expressar sempre um caráter confessional de diário íntimo, em Ser José Leonilson encenação, dramaturgia, música, cenário e iluminação buscam colocar em primeiro plano o duplo Laerte/Leonilson e fazer uma ponte entre a vida e obra do artista morto em 1993 e a vida e presente obra do sujeito artístico Laerte Késsimos – apontando coincidências e dissonâncias entre os dois artistas.
Diários cartografados, mapas geométricos, mapas que são retratos, geometrias brancas, páginas de diário, autorretratos, relatos sonoros, referências íntimas e cotidianas sustentam o diálogo com o público. Isso é resultado do desejo íntimo de Laerte Késsimos em jogar o jogo favorito de Leonilson – a intersecção entre ficção e realidade; entre o íntimo e o público; entre o diário e a afirmação política; entre o bordado real e a descrição de uma paisagem; entre a biografia de Laerte e os bordados de Leonilson.
Diante do público, constrói-se um panorama não só interior, mas também exterior, de nosso tempo e do mundo ao redor. Quando a opressão e o conservadorismo se erguem como uma onda alta que pode nos derrubar com força, trazer à tona um artista gay (vale ressaltar a tragédia que é esse ainda ser um tema controverso em nosso país); HIV positivo (esse tema migrou de uma epidemia para um preconceito escondido e silencioso) e a favor de uma política subjetiva e íntima (quando a subjetividade e a intimidade são os primeiros alvos de políticas opressivas) é, em si, um ato político. Cada vez que as ondas conservadoras nos derrubam, mergulhamos mais e mais fundo, com o momento de alívio passa antes que possamos agarrá-lo, pois a onda já está juntando forças para atingi-la novamente. Esse trabalho acredita que a tábua a que nos agarramos nesse naufrágio só pode ser poética – a um só tempo pessoal e política.
Paralelamente às apresentações do espetáculo, estará também em cartaz a primeira mostra individual de Laerte Késsimos. A exposição Como se Desenha um Coração? apresenta o expoente de trabalhos criados entre 2017 e 2019. São desenhos, pinturas, bordados e objetos – “objetos de desejo e de curiosidade” – criados numa relação direta, ora de espelhamento, ora de duplicidade, com os trabalhos do artista plástico José Leonilson (1957-1993). Inspirações, traduções e revisitas à obra de Leonilson são materializadas em obras visuais que constituem, além da exposição, o alicerce temático do solo autoral inspirado na vida e obra do artista cearense.
Ficha Técnica
Idealização e atuação LAERTE KÉSSIMOS | Direção AURA CUNHA | Dramaturgia LEONARDO MOREIRA | Assistente de Direção AMANDA LYRA | Trilha Sonora Original MARCELO PELLEGRINI | Cenografia MARISA BENTIVEGNA | Desenho de luz ALINE SANTINI | Pesquisa, Figurino e Direção Audiovisual LAERTE KÉSSIMOS | Assistente de iluminação CLARA CARAMEZ | Pesquisa Corporal DIEGO HAZAN | Técnico de som PEDRO RICCO | Técnico de vídeo ALLYSON DO NASCIMENTO | Cenotecnia ALÍCIO SILVA | Produção musical e pós de áudio SURDINA | Diretor de fotografia (filme Rio da minha infância) ANDRÉ PORTO | Fotografia e registro em vídeo LEEKYUNG KIM | Réplicas camisa do pai LEOPOLDO PONCE | Direção de Produção RENATA BERTELLI e GUSTAVO SANNA | Produção Executiva LUDMILLA PICOSQUE e YUMI OGINO | Assessoria de Imprensa POMBO CORREIO | Apoio institucional para pesquisa PROJETO LEONILSON
Exposição: Como se Desenha um Coração? | Foyer da Sala Multiúso | grátis
14 de novembro a 15 de dezembro | ter-dom, 10-18h
Temporada: Ser José Leonilson | Sala Multiúso | Ingressos: R$20/10 | https://www.sympla.com.br/serjoseleonilson
14 de novembro a 15 de dezembro | qui-sáb, 20h; dom, 18h | 90 min. | 16 anos | 50 lugares