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Com uma proposta que busca refletir questões da sociedade brasileira,   o Teatro da Conspiração apresenta seu novo espetáculo: Tão Somente Meninos, selecionado no primeiro edital de temporadas do TUSP de 2022. A montagem parte de uma história tenebrosa do Brasil recente e mostra a trajetória real de 50 meninos órfãos, forçados a trabalhar em propriedades de membros da  Ação Integralista Brasileira. Com dramaturgia de Solange Dias e direção de Cássio Castelan, a peça traz no elenco Alessandra Moreira, Dudu Oliveira, Edi Cardoso e Márcio Ribeiro. A estreia acontece na sexta-feira, 27 de maio, às 21h, no TUSP, com apresentações até 26 de junho. Quintas a sábados, 21h; domingos, 19h. Os ingressos podem ser reservados pelo Sympla.

Na trama, um encontro de 50 “meninos velhos” em volta de um poço, onde história, desejos, medos e sonhos são colocados à tona. A história desses 50 meninos órfãos é real: tinham de nove a onze anos, negros em sua maioria, todos retirados do Educandário Romão de Mattos Duarte, no Rio de Janeiro, sob a guarda do Juizado de Menores do Distrito Federal, e levados para uma propriedade privada em Campina do Monte Alegre, São Paulo.  Por uma década, essas crianças foram submetidas, sem remuneração nem estudo, a condições sub-humanas em longas jornadas de trabalho agrícola e pecuário, em fazendas de membros da Ação Integralista Brasileira, movimento político brasileiro ultranacionalista,  conservador e tradicionalista católico de extrema-direita, inspirado no nazifascismo.

“Os meninos simplesmente não tinham nome, eram chamados por números e sofreram um processo de desumanização. No espetáculo criamos  um encontro ficcional e mágico entre eles  e fizemos questão de resgatar seus nomes:  Miro, Zequinha, Zico e Olímpio representam a vida dos 50 órfãos, trazendo uma reflexão sobre suas dores, permeando momentos poéticos e lúdicos. Apesar de ser algo que ocorreu entre as décadas de 30 e 40 do século passado, a trama é uma luz ao que acontece atualmente no Brasil com os discursos de meritocracia, de desqualificação da vida, racismo e autoritarismo”, conta Solange Dias.

Para a criação da dramaturgia, o coletivo se inspirou na tese de doutorado “Educação, Autoritarismo e Eugenia: Exploração do trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-45)”, defendida em 2011 pelo professor e historiador Sidney Aguilar Filho na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, baseada na investigação de farta documentação e entrevistas com pessoas que tiveram envolvimento direto ou indireto com o episódio dos meninos, inclusive três sobreviventes, que na época da pesquisa, beiravam 90 anos de idade.

Com uma dramaturgia poética, a peça traz quatro intérpretes que narram as histórias de seus personagens, alternando entre tempos de infância e velhice. O cenário traz poucos elementos, em uma linha não-realista, onírica,  ao simbolizar o poço, espaço em que muitos dos órfãos eram colocados de castigo como forma de punição.

O espetáculo é centrado no trabalho do elenco, utilizando elementos de teatro, dança e partituras de ação. A música também tem seu papel, revelando camadas dos personagens a partir de canções tradicionais infantis e cantos de trabalho que ditavam o ritmo árduo do dia-a-dia.

 Para a criação do espetáculo, foram utilizadas também outras referências. “Nos inspiramos em várias fontes da realidade brasileira, de uma sociedade que subjuga os corpos na  exploração do trabalho, em uma época em que ainda temos notícias de trabalhos em situação de semiescravidão.  O sistema de opressão e as questões históricas estão em evidência na montagem, em que arte nos faz olhar e refletir sobre as nossas feridas”, enfatiza a dramaturga.

A montagem foi selecionada no PROAC 01/2020 na categoria produção e temporada de espetáculos inéditos, realizando temporada online em novembro/dezembro de 2021, em parceria com Oficina de Atores Nilton Travesso, Cia do Nó (Santo André), Cia. Do Flores (São Bernardo do Campo), Cia. Feijamkarroz (Ribeirão Pires), Cia. Quartum Crescente e Cia. Cordelística (Mauá), e Estação Cultura de São Caetano do Sul.

 

Teatro da Conspiração 

O Teatro da Conspiração, ao longo de seus 20 anos de existência, vem se consolidando como um coletivo na busca de um rigor técnico do trabalho do intérprete e da construção da cena, além do aprimoramento da escrita de dramaturgias inéditas em produções de diferentes formatos e estéticas. Em seu repertório investigam-se diversas temáticas, como a história recente do país (Geração 80, 2002, e Tito – É melhor morrer do que perder a vida, 2007), questões sociopolíticas (Cantos Periféricos, 2003), o infantil A Princesa e a Costureira (2016) e o juvenil Os Livros de Jonas (2018).

Ficha Técnica

Dramaturgia: Solange Dias | Direção: Cássio Castelan | Elenco: Alessandra Moreira, Dudu Oliveira, Edi Cardoso e Márcio Ribeiro | Stand-by: André Pastore e Denise Guilherme | Direção Musical: Letícia Góes | Direção de Movimento: André Pastore | Cenários e Figurinos: Guto Togniazzolo. Iluminação: Mauro Martorelli | Operação de luz: Mauro Martorelli e Cassio Castelan | Operação de som: Cassio Castelan | Produção audiovisual: Rolo B. Cine | Registro fotográfico: Arô Ribeiro e Léo Xymox | Arte Gráfica: Pedro Penafiel | Produção: Maju Tóffuli | Assessoria de Imprensa e Redes Sociais: Renato Fernandes.

Tão Somente Meninos | 27 de maio a 26 de junho de 2022. Quinta a sábado, 21h; domingos, 19h.

Local: TUSP – Rua Maria Antônia, 294, Consolação (650m da Estação Higienópolis-Mackenzie, aprox. 1km das estações Santa Cecília e República).
Duração: 80 minutos.
Classificação: 14 anos.
Ingressos: R$ 30 (Inteira) e R$ 15 (Meia) em: https://www.sympla.com.br/produtor/teatrodaconspiracao