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Em julho, a Cia de Teatro Acidental apresenta em uma curta mostra no TUSP Butantã sua Trilogia Afetos Políticos, formada pelas peças O que você está realmente fazendo é esperar o acidente acontecer (2014, dir. Carlos Canhameiro), E o que fizemos foi ficar lá ou algo assim (2019, criação coletiva) e E se a porta cair seguiremos sentados apenas mais visíveis (2022, dir. Maria Tendlau). Esta mostra integra o projeto “Cia de Teatro Acidental: Modos de Ser Muitos”, contemplado pela 42ª edição do Programa de Fomento ao Teatro.

Unidos por acidente pela universidade em 2006, já formados, os artistas da companhia decidiram seguir juntos pesquisando cenicamente possibilidades e contradições, formas e figuras da coletividade: a organização grupal não só como estrutura e modo de produção, mas também tema e estética. Além de encenar peças de autores como Brecht, Ionesco e Elfriede Jelinek, tem trabalhado cada vez mais a criação colaborativa de dramaturgias próprias, para pensar as especificidades do nosso contexto no difícil tempo presente.

E assim nasceu a Trilogia Afetos Políticos, formada pelas peças que formam esta mostra, inicialmente resultando de atividades realizadas sem apoio financeiro. Em 2021, graças à Lei Aldir Blanc, o grupo pôde começar o processo de criação da terceira peça, E o que fizemos foi ficar lá ou algo assim, com debates e cursos, em parceria com a Oficina Oswald de Andrade, e a criação de vídeos de estudo para a criação da dramaturgia, em parceria com o CCSP.

Para finalizar a trilogia e celebrar o decênio, a proposta aqui é um retorno ao teatro brechtiano com o qual começou a trajetória do grupo, mas olhando-o agora a partir de modo próprio de pensar e fazer teatro do grupo, desenvolvido desde o primeiro encontro, ainda imaturo, com Brecht.

A Companhia

Acidentalmente unidos pela universidade em 2006, já formados os artistas da companhia decidiram seguir juntos, pesquisando cenicamente possibilidades e contradições, formas e figuras da coletividade: a organização grupal não só como estrutura e modo de produção, mas também tema e estética.

 

Trilogia Afetos Políticos // Cia de Teatro Acidental

12/07, sexta-feira, 20h: O que você está realmente fazendo é esperar o acidente acontecer

13/07, sábado, 17h: conversa com os grupos Lab TD e O Bonde

13/07, sábado, 20h: E o que fizemos foi ficar lá ou algo assim

14/07, domingo, 18h: E se a porta cair seguiremos sentados apenas mais visíveis

 

As Peças

O que você está realmente fazendo é esperar o acidente acontecer // 14 anos // 65 minutos

A partir de um debate sobre a obra O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, a peça procura colocar em cena de maneira crua e sem uso de metáforas as convulsões de uma sociedade movida pelo ódio, cultivado em nome da liberdade de expressão. Oito anos após sua estreia, ela parece ter antecipado terrivelmente os rumos políticos do país.

Uma investigação de uma das obras mais importantes daquele que é considerado um dos maiores dramaturgos de toda a história do teatro brasileiro, a cia de teatro acidental constrói um espetáculo que não é uma adaptação da peça, mas sim um comentário desenvolvido a partir dela, desdobrando e desconstruindo esse material. Sentados em uma mesa, os atores dão voz a discursos diversos, de intelectuais a agressivos, de literários a acadêmicos, como num estranho colóquio que versasse, do modo mais heterodoxo, sobre a obra rodriguiana.

Debates já presentes na história original do homem cuja vida é destruída quando concede a um moribundo um beijo na boca, realizando seu último pedido, são levados às últimas e radicais consequências, discorrendo sobre a imprensa e seu poder de (de)formar opiniões, a normalização da violência policial e a intolerância e o ódio alimentados por toda uma sociedade contra todo tipo de ação ou comportamento que desvie de suas normas. mais de cinquenta anos depois da estreia do ‘beijo’, um simples jornal pode dar lugar ao tribunal do feicebuqui, uma vizinha fofoqueira ou o ‘bullying’ de colegas de trabalho a abjetos comentários anônimos em sites da internet. Permanecem o ódio e a violência.

Texto: Cia de Teatro Acidental e Carlos Canhameiro // Direção: Carlos Canhameiro // Elenco: Artur Kon, Cauê Gouveia, Chico Lima, Mariana Dias, Mariana Otero e Ma Zink // Ator convidado: Tomás Decina // Pensamento corporal: Andreia  Yonashiro // Iluminação: Daniel Gonzalez // Cenário: Mauro Martorelli // Fotos: Cacá Bernardes // Produção: AnaCris Medina

 

E o que fizemos foi ficar lá ou algo assim // 14 anos // 80 min.

Um grupo de vizinhos se encontra num espaço fechado. O que de início parece ser uma simples reunião de condomínio aos poucos ganha ares inquietantes. Sobre quem discutem? O que é que os espreita de lá de fora? Descobrindo-se presos em um filme de terror, só lhes resta tentar descobrir como escapar dessa sinistra ficção.

Com dramaturgia e direção coletivas, a peça dá continuidade à pesquisa iniciada em O que você realmente está fazendo é esperar o acidente acontece, de 2014, dirigida por Carlos Canhameiro, onde a cia. refletiu sobre o ódio como afeto fundamental para compreender a política contemporânea em nosso país – ainda anos antes do acirramento explícito de posições que levaria ao golpe de 2016.

Em palestra proferida após assistir àquela peça, o filósofo Vladimir Safatle nos sugeriu pensar o ódio como secundário em relação ao medo para compreender o papel dos afetos no campo da política. Na mesma ocasião, o psicanalista Christian Dunker nos apresentou sua ideia de uma “lógica de condomínio” que organizaria a sociedade brasileira contemporânea. A partir dessas duas ideias, foi concebido este projeto da Acidental, cuja estreia ocorreu em janeiro de 2019, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo.

Encenação: Cia de Teatro Acidental // Elenco: Artur Kon, Cauê Gouveia, Chico Lima, Mariana Dias, Mariana Otero e Ma Zink Dramaturgia: Artur Kon // Pensamento visual: Renan Marcondes // Concepção sonora: Cia de Teatro Acidental e Elias Mendez // Iluminador e responsável técnico: Cauê Gouveia // Cenotécnico: Guilherme Schultz // Fotos: Cacá Bernardes// Produção: AnaCris Medina

 

E se a porta cair seguiremos sentados apenas mais visíveis // 14 anos // 90 min.

Na parte final da Trilogia dos Afetos Políticos, a Cia encena um julgamento em que todos os participantes, anônimos, ocupam ao mesmo tempo as posições de juízes, réus, advogados de defesa e acusação: um tribunal revolucionário, um coro trágico, uma autocrítica de rede social, uma psicanálise de desenho animado. No debate urgente sobre os rumos políticos do presente, a força de transformação parece paralisada pela confusão entre culpa e responsabilidade, vergonha e masoquismo, acusação e ressentimento.

Partindo de um movimento de mergulho no inconsciente político também que fez o grupo abandonar cada vez mais um modo de teatro político que aponta os outros (a direita, os dominadores, os donos do poder) como culpados por nossas mazelas, e buscar mais e mais a implicação e responsabilidade de cada um na situação de crise em que nos encontramos. Não porque esses outros não tenham culpa, mas porque sem dúvida nada farão para deixar de ter, tornando a denúncia irrelevante, impotente.

É esse duplo interesse – naquilo que (ainda) não sabemos e naquilo que nós mesmos fazemos errado – que fundamenta todo o espetáculo, em suas mais diversas frentes. Sobretudo porque, nesse “jogo de aprendizagem” (como Ingrid Koudela traduziu o termo Lehrstück), não se trata de ensinar a um público menos sabido alguma coisa sobre o mundo. Pretende-se antes elaborar cenas, gestos e falas que, incansavelmente repetidos, podem promover nos próprios atores e participantes uma experiência instrutiva – que, portanto, não pode ser determinada ou controlada previamente, mas encontra-se aberta para o inesperado.

Texto: Artur Kon // Direção: Maria Tendlau // Elenco: Artur Kon, Chico Lima, Mariana Dias, Mariana Otero e Ma Zink // Interlocutores: Clayton Mariano e Janaína Leite // Pensamento visual: Renan Marcondes // Concepção sonora: Cia de Teatro Acidental e Elias Mendez // Cenotécnico: Guilherme Schultz // Iluminação: Cauê Gouveia // Colaboração teórica: Alessandra Affortunati Martins // Fotos: Cacá Bernardes // Produção: AnaCris Medina

Trilogia Afetos Políticos // Cia de Teatro Acidental // De 12 a 14 de julho de 2024 

Teatro da Universidade de São Paulo | TUSP Butantã
Rua do Anfiteatro, 109. Acesso pela lateral direita do prédio, ao lado do bloco C – Butantã
Ingressos gratuitos, retirada 1h antes de cada apresentação na bilheteria do teatro
Classificação Indicativa: 14 anos

Fotos: Cacá Bernardes