Em sessões gratuitas entre 12 e 24 de maio, o TUSP Butantã recebe na Mostra de Repertório d’O Bonde as três peças do premiado coletivo paulista que compõem sua Trilogia da Morte – “Quando eu Morrer vou Contar tudo a Deus”, “Desfazenda – Me Enterrem fora desse Lugar” e “Bom Dia, Eternidade”. Os trabalhos refletem sobre as quase mortes dos corpos negros em diferentes fases da vida e as heranças do período escravocrata
Esses trabalhos formam a Trilogia da Morte e suas histórias são independentes. Assim, a ideia é que cada peça aborde uma fase do corpo negro: infância, vida adulta e velhice. Da mesma forma, cada espetáculo explora diferentes linguagens, sempre com o objetivo de potencializar as narrativas. Embora possam ser vistos em qualquer ordem, o grupo acredita que respeitar a sequência dos espetáculos oferece a chance de ver como essa Trilogia desabrocha, e compreender como uma peça levou à outra. Apresentar esses trabalhos juntos firma O Bonde como coletivo de pesquisa de teatro de grupo e referência para o teatro negro , com uma pesquisa sólida e rica e em constante movimento no cenário teatral brasileiro.
Bom dia, Eternidade fica em cartaz nos dias 12, 13 e 14 de maio; Quando eu morrer vou contar tudo a Deus e Desfazenda – Me enterrem fora desse lugar fazem apresentações dias 21, 23 e 24 de maio.
INFÂNCIA. Tudo começa com “Quando eu Morrer vou Contar tudo a Deus”, peça de 2019 baseada em fatos reais que narra as aventuras de Abou, menino africano que foi encontrado dentro de uma mala tentando entrar no continente europeu. Com texto de Maria Shu e direção de Ícaro Rodrigues, o espetáculo faz um retrato lúdico e poético da situação de abandono e da ausência de condições básicas de sobrevivência a que muitas crianças são submetidas, sobretudo as negras, nos movimentos de imigração em massa para o continente europeu. Para dialogar diretamente com o público infantil e estabelecer uma ponte com os espectadores brasileiros, o grupo inseriu na trama a figura dos contadores de histórias africanos, chamados de griôs, representados por Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves, que compartilham momentos da vida de Abou e sua família, fazendo relações com fatos das periferias daqui. Na trilha sonora, assinada por Cristiano Gouveia e executada ao vivo pela violonista Ana Paula Marcelino e o percussionista Anderson Sales, as canções seguem referências sonoras, rítmicas e melódicas de cantigas tradicionais africanas, e até mesmo músicas em línguas africanas como o iorubá.
FASE ADULTA. Em “Desfazenda – Me enterrem fora desse lugar”, que estreou em 2020 em versão online, os temas abordados pelo grupo ficam mais complexos e mais densos, mas não menos poéticos. O dramaturgo Lucas Moura aponta um caminho mais rimado e ritmado, trazendo o spoken word como referência da pesquisa do grupo para o espetáculo. Nessa linha, Roberta Estrela D’alva foi convidada para dirigir a montagem, em sua primeira experiência de encenadora fora do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. Sua vivência de spoken word e toda a sua bagagem com teatro hip-hop moldam a estética da peça, que traz ainda a direção musical da atriz, compositora e DJ Dani Nega. Recebendo o APCA de melhor espetáculo virtual naquele ano, o espetáculo estreia em 2023 na versão presencial, recebendo novas camadas em relação ao online, com referências a episódios mais recentes de racismo, como os assassinatos de George Floyd e do segurança João Alberto no supermercado Carrefour, bem como o colapso da saúde em Manaus.
O público conhece a história dos personagens 12, 13, 23 e 40, pessoas pretas que quando crianças foram salvas da guerra por um padre branco. Vivem em uma fazenda, cuidando das tarefas diárias, supervisionadas por Zero. O padre nunca sai da capela, a guerra nunca atingiu a Fazenda – e sempre que porquês são questionados, o sino soa e tudo volta a ser como antes (quase sempre). Em cena, Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves – além das vozes de Grace Passô e Negra Rosa.
VELHICE. Para a última parte da trilogia, em “Bom dia, Eternidade”, o mergulho se dá no passado familiar, nas histórias contadas de gerações em gerações, e em causos e músicas antigas. Com dramaturgia assinada por Jhonny Salaberg e direção de Luiz Fernando Marques Lubi, a trama traz quatro irmãos idosos que sofreram um despejo na infância recebem a restituição do terreno após quase 60 anos. Resta a eles se encontrar para decidir o que fazer.
Como a ideia do grupo é dar voz a pessoas para falarem por si sós, entra em cena uma banda de quatro músicos com mais de 60 anos, formada por Cacau Batera (bateria e voz), Luiz Alfredo Xavier (violão, contrabaixo e voz), Maria Inês (voz) e Roberto Mendes Barbosa (piano e voz) contracena com o elenco (Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves), mesclando acontecimentos de suas vidas e ficções de um futuro outro.
Mostra de Repertório d’O Bonde
Bom dia, Eternidade | 12 de maio, 18h; 13 e 14 de maio, 19h | 120 min. | 14 anos
Quando eu Morrer vou Contar tudo a Deus | 21, 23 e 24 de maio, 14h | 60 min. | Livre
Desfazenda – Me enterrem fora desse lugar | 21, 23 e 24 de maio, 20h | 70 min. | 12 anos
Desfazenda – Me enterrem fora desse lugar (O Filme) | Exibição online via YouTube no canal do grupo: @obondee | 20, 22 e 26 de maio, 20h
TUSP Butantã – Rua do Anfiteatro, 109 (Acesso pela lateral direita do prédio, ao lado do bloco C), Butantã, São Paulo, SP
Grátis | Retirada de ingressos com 1h de antecedência