LINGUAGEM_

Por Wilton Garcia.
wiltongarcia.com.br.

Um tecido discurso pode ser verbal e/ou não verbal, ao estender a expressão viva da comunicação em intertextos que se (des)dobram em possibilidades. Como produção da informação, a noção de linguagem comporta os mais diversos desafios da língua para agenciar/negociar a complexidade das representações das coisas no mundo e seus potenciais referentes, sobretudo na virtualidade acirrada da cultura digital. Isto é, as tecnologias emergentes nos convidam ao campo de algoritmos e Big Data.

Da linguagem, as estratégias discursivas (re)articulam os enunciados contemporâneos elencando categorias recorrentes: criatividade, flexibilidade e versatilidade. Com isso, a produção de sentido disputa com a produção de efeito resultantes, ainda que parciais, de qualquer (re)dimensão lógica convencional, cuja interpretação requer entendimento e compreensão do cotidiano. Eminentemente, seria ativar determinada percepção extra-sensorial para além dos cinco sentidos (audição, visão, paladar, tato e olfato), capaz de alcançar uma perspectiva cognitiva, a qual se (re)inscreve a posição de cada sujeito.

De tal perspectiva da cognição humana, o meu mais recente livro Carnaúba de Pedra [2021] entrecruza, estrategicamente, dinâmicas enunciativas entre literatura, ensaio, ficção ao tematizar fatores socioculturais da afrodescendência em histórias curtas de uma cena. Nesta obra, proliferam-se anedotas, passagens entre realidade e ficção. Da negritude à mestiçagem (e vice-versa), valores de etnia-raça são revisitados, nesta obra, a ponto de se tangenciar o afeto. Ou seja, trata-se de uma narrativa pontual que evoca a produção de subjetividade e constitui a formação de sujeito no mundo contemporâneo.

14 ensaios tentam restaurar um olhar sobre a diversidade multicultural, com a lembrança reminiscente do futuro. Paradoxo? Talvez. Os contos Iniciação, Segredo, Pedra, Fogo, Batismo, Espelho, Machado, Julgamento, Trovão, Leão, Gamela, Pilão, Carnaúba de Pedra e Xangô trazem momentos impactantes da vida brasileira descortinada pela memória ancestral. Disso, somam-se imagens que (re)ordenam o fluxo da linguagem. Com afeto, busco na escrita alguns elementos emblemáticos/simbólicos como produção de subjetividade, sobretudo a herança viva dos antepassados. Onde começa o mundo?

Wilton Garcia é artista visual, Doutor em Comunicação pela USP, Pós-Doutor em Multimeios pela Unicamp, é Professor da Fatec Itaquaquecetuba/SP