TRANSGRESSÃO_

Por Wilton Garcia.
wiltongarcia.com.br.

Ir além seria uma expectativa de transgredir. Até onde você já conseguiu atingir? A possibilidade de ficar aquém estabelece nova configuração, nova conexão, nova realidade. A transgressão deve ser incalculável, cujo lugar incerto, não localizável, abre a (re)configuração da perspectiva convencional para ceder espaço aos desafios de dinâmicas insurgentes trazendo boas novas. Ou seja, a transgressão percorre territórios inimagináveis, em que vale explorar descobertas inventivas. Por isso, a transgressão sobressai aos enfrentamentos do cotidiano a fim de esboçar ideias criativas.

Contudo, transgredir requer absorve uma lógica diferente do sistema hegemônico, capaz de operacionalizar suas estratégias conforme sua própria (re)articulação enuncia a novidade. Um enunciado transgressivo, assim, encontra dificuldade na legitimação de seu propósito, porque impede o ordinário. E, ao mesmo tempo, tal enunciado inaugura o extraordinário, valorizando aquilo que não está dado diante de uma expressão alhures. Porém, pede representação imediata, pois tem urgência. Transgredir seria agir de forma ilimitada, derrubando as fronteiras.

Isso implica ver/ler a vida por outro ângulo conotado pelo desfecho inebriante que provoca (re)dimensões crítico-reflexivas, distantes de qualquer realidade comum. É carregar força e coragem para atravessar a tradição social, iluminando possibilidades inovadoras, as quais atualizam a vida para além do lugar comum. Mas, cuidado: isso não quer dizer resistência, resiliência, persistência ou insistência subvertem a norma.

Transgredir, talvez, abarque o inusitado, o singular, a (re)formular um posicionamento. Nesse feito, transgredir compreende paradoxos, controvérsias e contradições de coordenadas e recursos que destoam de qualquer paradigma (fixo) em um sistema operacional. Ou, ainda, a transgressão está no fluxo ampliando, significativamente, a maneira de pensar e agir sobre as coisas no mundo. O objetivo é impactar as resultantes com a extravagância de eixos complexos que esbarram em categorias discursivas como: flexibilidade, transversalidade e versatilidade.

A filósofa norte-americana Bell Hooks escreveu o livro Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade (1994), entre outros, baseado na obra do educador Paulo Freire. Como professora universitária, ativista dos direitos humanos, teórica feminista e antirracista, ela combate à violência, tendo mais de trinta publicações a respeito de interseccionalidade raça, gênero e capitalismo; sendo esse último um fator intrigante na perpetuação dominadora de opressão contra sujeitos periféricos.

Wilton Garcia é artista visual, Doutor em Comunicação pela USP, Pós-Doutor em Multimeios pela Unicamp, é Professor da Fatec Itaquaquecetuba/SP