Por Felipe Chibás Ortiz.
A mulher no quadro
sobe aos meus olhos
quando eu desço até suas pernas,
abertas como catedrais.
Sussurra um beijo às sombras
e as sombras quebram a carta lacrada.
As veias do dragão não existem;
apenas se ouve um grito de sereia.
Um joelho cavalga minhas têmporas
ou as têmporas cavalgam um joelho
com quadris inchados
que esfolam o tempo
na sétima pele.
De um anel silencioso
encharcado de vida
surge um relâmpago
que detona a garganta
desvendando a tela interestelar de suspiro.
As estrelas rugem consoantes
atrás do vidro,
enquanto a Lua
é um zero no céu,
afogada em um lago de sílabas.
Junto com as mulheres que um dia
fizeram strep tease ressurgem cidades inteiras,
terremotos salgados e pipas suicidas.
Santo Deus!
onde está William Shakespeare
agora que ele deveria reescrever Romeu e Julieta?
Onde?
Agora que o clássico “ser ou não ser não” basta?
Porque em breve a terra firme
novamente afundará em alguém,
quando suba aos meus olhos
a mulher do quadro
oferecendo suas pernas
abertas como catedrais!
Escrito originalmente em: 12/08/1989 às 10h19
Poema do livro:
CHIBÁS ORTIZ, Felipe. ENQUANTO A ARANHA TECE SUA TEIA DE CRISTAL , Ed: abril, Havana, 1996.