Por Wilton Garcia.
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Quando alguém conversa comigo, isso é cultura. Quando alguém faz a leitura do jornal, isso é cultura, quando ouso uma música, isso é cultura. Então, quando alguém reza – ou entra em estado de meditação – também, é possível falar de cultura. Por isso, a cultura abordada dessa maneira constitui traços identitários de uma prática cotidiana, em que se estabelece um lugar que predomina determinada informação circulando. A convivência no trânsito das ruas ou nas diversas mídias na internet, também, podem ser vistas/lidas como dado de cultura porque se estabelecem trocas de posições. Portanto, um suspiro, um exagero, um gesto são elementos de cultura.
Ou seja, a cultura requer um desenho em sua expressão comunicacional que limite diretrizes, critérios e/ou parâmetros capazes de promover o ideal cultural. Claro que, na cultura, não há delineamentos de limites ou fronteiras. E se a cultura popular predomina na cena brasileira é porque a maioria da população reflete algumas características capazes de demonstrar enormes valores em certa expressão cultural – futebol, carnaval, festas populares. Estes últimos são sintomas recorrentes da sociedade que refletem o estado cultural de um povo, uma nação. Nossa brasilidade, por exemplo, está retratada por diversos eixos multiculturais.
Estudei com uma figura excêntrica no campo da comunicação que acenava a cultura por eliminação. Quando alguém não entra em sintonia com sua cultura, pode saber que essa pessoa está fora da cultura ali proposta. E tal aculturação significa não cultivar aquilo que o grupo comunga, desvalendo-se da ideia de pertença. Se não participa não interage. E sem interação fica impossível promover traços culturais dessa comunidade discursiva. Nesse caso, noção de cultura deve ser reconhecida a partir do cultivo que aflora possibilidades enunciativas, conforme se produz a vida. Por isso, as coisas no mundo têm nome e função cuja experiência legitima a cultura.
Interessa, aqui, provocar reflexão e ação sobre paradigmas criativos, os quais a ideia de cultura altera o valor do mercado-mídia como a economia criativa. A cultura solidifica-se conforme se evidencia a compreensão participativa, interativa, das pessoas no mundo. Trata-se de uma mediação cultural em que a troca é um fator primordial, pois somam-se as partes para se eleger algo maior. Seria, sim, uma condição adaptativa de confluências produtivas, cuja cultura ilumina o esforço dos resultados alcançados.
Nesse instante, realizo uma exposição RE_USO PIRAJU_, com curadoria de Luciano Maluly, no Centro de Arqueologia Ambiental Mario Neme, a Casa da USP no MAE-USP. Para aproximar arte, educação e meio ambiente, como artista visual, (re)utilizo materiais simples: papel, pincel, tinta, madeira. Do ponto de vista de experimentações artísticas, poéticas e estéticas, interessa (re)aproveitar materiais descartáveis estrategicamente com arte e informação, ao (re)examinar uso e função das coisas no mundo.
Apoiado pela Fundação para o Desenvolvimento das Artes e da Comunicação (Fundac), foi realizado um workshop criativo com docentes da cidade e um mural sustentável com estudantes na sede da ETEC Waldyr Duron Júnior / Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, em Piraju. A exposição ficará em cartaz até 31 de agosto.
Wilton Garcia é artista visual, Doutor em Comunicação pela USP, Pós-Doutor em Multimeios pela Unicamp e Professor da Fatec Itaquaquecetuba/SP