A ideia de latinidade (re)considera o hibridismo cultural, em uma perspectiva decolonial. São substratos de enunciados que, estrategicamente, expressam a condição adaptativa do sujeito na América Latina. A voz latina reverbera entornos dos povos originários, compreendidos como aqueles que já pertencem à essa terra. Portanto, são discursos recorrentes de uma latinidade capaz de constituir representatividade e valor.
Recebi um convite para participar das comemorações o Latin Month 2022, na State University of New York – SUNY. Foi uma oportunidade para desenvolver parte do meu projeto criativo como artista visual e pesquisador. Então, ofereci um workshop criativo para trabalhar com estudantes e docentes a obra afroqueer_.
A noção de sujeito latino se estende por alternativas capazes de elencar, paradoxalmente sua pluralidade, bem como a ideia de totem. Ou seja, trata-se de uma figura que ocupa um território espacial elevado pelas suas características singulares como eixo contemporâneo. Essa uma figura totêmica representa a potência resiliente de diversas raízes culturais/étnicas da América Latina. Gente americana.
No sobressalto de cores e formas vibrantes, diversas citações entrecruzam esse ser/estar afrodescendente, indígena, queer, ao contextualizar a diversidade de gênero, etnia-raça e classe. A mestiçagem (re)equaciona e desenha tal persona latina.
Nesta obra, a diversidade reforça um caráter plural que amplia a experiência poética, ainda que o resultado rejeite qualquer alegoria. A partir de referências paradoxais, emergem os ícones polêmicos no uso da barba, como exemplo de identidade não-binária: a drag queen brasileira Ohana entre outras.
A plumagem na cabeça do personagem saúda nossa herança indígena: cabocla, caiçara, caipira. E a referência da ancestralidade afrodescendente está nos lábios vermelhos, em formato de coração, com seu olho grande. Isso aquece a docilidade voraz e seduz. Enquanto a face circular representa o globo, o triângulo da sociologia representa um corpo geométrico multicolorido: o que assemelha à estátua da liberdade, em Manhattan. Além disso, o triunfo da vitória com a metáfora da coroa está no galho verde perto da orelha do brinco de ouro, disposto graficamente de forma irregular.
* Wilton Garcia é artista visual, doutor em Comunicação pela USP, pós-Doutor em Multimeios pela Unicamp e professor da Fatec Itaquaquecetuba/SP. Acesse: https://wiltongarcia.com.br/