VITRAIS

Como dois hirsutos vitrais
presidindo as portas da minha vida
são seus olhos suaves e escuros…

Tudo é transparente à sua maneira,
me fazendo tremer
nas noites do enigma
com seu sabor de mistério oprimido.

Eles colonizaram meu espírito
com seu cristal e madeira rara
de fina luz mourisca,
iluminador de raivas
e outros espaços sombreados.

Como não sentir vício
de suas elipses luminosas,
analogias sem palavras
e metáforas delicadas?
Como não sentir medo e raiva
ao saber que estão se afastando,
mesmo que por pouco tempo
essas panaceias silenciosas, sagradas…

A vida é uma contraparte finita,
balançando no claro-escuro das imprecações.
É por isso que os vitrais são necessários
peneirando toda a intensidade em sombras de luz.

 

Poema do livro “Duas Havanas (Ambos mundos)” com poemas de Felipe Chibás Ortiz e fotos de Joana Moreira, Belo Horizonte, 2000

* Felipe Chibás Ortiz  é escritor, pesquisador e professor universitário.