É preciso enfrentar o desafio
de encontrar em você
a cada instante
algo que nunca existiu antes
e descobrir a forma correta
de nomeá-lo.
* Esta é vigésima-segunda e última poesia da Série Peras Vermelhas, de Marcelo Lapuente Mahl, escritor, pesquisador e professor da Universidade Federal de Uberlândia (MG), que assim finaliza:
A FRUTA
Peras Vermelhas não são tão doces quanto as suas primas esverdeadas, nem singelas; são frutas exibidas, e podem até ser amargas para os paladares menos afeitos à acidez que toma de assalto a saliva. Ao vê-las, com suas faces ruborizadas, em uma gôndola refrigerada de supermercado, vendidas a preço de ouro ao lado das nozes e castanhas natalinas, me veio de imediato uma pergunta: o que seria da famosa Branca de Neve se, ao invés da maçã envenenada preparada pela bruxa invejosa, tivesse mordido uma suculenta pera vermelha? Teria dormido sono tão profundo, ou acordaria bem mais cedo, para surpresa de todos, com um gosto sedutor na boca, pronta para se libertar dos barulhentos anões e aplicar no príncipe descuidado e ausente um beijo longo, performático e cruel?