Saúde nas mãos do algoritmo: verdade e mentira em tempos de redes sociais

Nas redes sociais é difícil acompanharmos a quantidade absurda de conteúdo que é produzido diariamente, seja em YouTube, Instagram, TikTok, e outras plataformas utilizadas diariamente pelos brasileiros.

A pergunta principal é: como conseguimos separar o joio do trigo? A resposta poderia ser simples, mas não é. Quando o assunto é saúde, isso implica em uma situação ainda mais complexa nesse ecossistema ditado por algoritmos.

Recentemente, tivemos o caso de um nutricionista que afirmou que a diabetes, doença metabólica e autoimune, era causada por parasitas, e vendia kits de desparasitação em seu perfil na rede social para ‘curar o diabetes causado por vermes’. Porém, essa desinformação foi desmascarada pelo perfil Nunca Vi 1 Cientista, liderado pelas divulgadoras científicas, Ana Bonassa e Laura Marise, ambas pós-doutoras pela USP em Ciências Biológicas.

Para além da questão judicial envolvida no caso, que resultou na anulação da condenação das cientistas pelo STF, após condenação em primeira instância por danos morais a favor do disseminador de informações falsas, o que podemos tirar de conclusão desse caso é, que nem sempre um profissional da área, com registro em conselho competente (no caso, CRN – Conselho Regional de Nutrição), é um divulgador científico ou dissemina informações confiáveis.

Essa situação põe em pauta a questão: em quem podemos confiar a nossa saúde? Devemos cegamente acreditar nos profissionais da saúde? Isso não é enquadrado em um caso de negligência, mas sim de imprudência, uma vez que o nutricionista, com o conhecimento necessário, não por um descuido, mas sim premeditação, com o intuito de obter vantagem financeira, vendendo o seu protocolo sem comprovação científica.

As divulgadoras foram corajosas em desmentir e trazer para seus mais de 500 mil seguidores (apenas no Instagram), trazendo a informação correta através de uma linguagem simples e acessível, sem buscar retorno financeiro no vídeo publicado neste caso, mas sim, buscando educar, e alertar, a população dos riscos de se acreditar em tudo o que é veiculado nas redes.

Temos dois principais pontos aqui: o algoritmo, que ao invés de ser treinado para entender e captar informações falsas ou sinalizar sobre dados sensíveis de pesquisa e ciências biológicas, corroborou para a massificação e engajamento do conteúdo desinformativo. E a justiça, que, sobrepôs o direito da imagem ao trabalho de checagem de informações falsas, privilegiando, em primeira instância, o nutricionista.

Ainda são muitos questionamentos sobre os próximos passos da divulgação científica nas redes sociais, mas a nossa perspectiva é ampla e temos muitos passos a dar nessa grande rede que é a internet, o que não podemos descartar é a educação midiática e a exaustiva luta contra desinformação de pessoas qualificadas e preocupadas com a sua desmitificação que trazem um ambiente mais seguro e confiável.

Enquanto não houver informação científica acessível, em termos de acessibilidade da informação e de sua linguagem, preocupada em realmente entregar ao cidadão médio, haverá charlatões e pessoas má intencionadas em usufruir de artifícios de manipulação de dados em seu próprio benefício.

* Gabriela Marin  é jornalista e mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação na ECA-USP.

Referências:

https://www.nexojornal.com.br/nao-ha-justica-em-se-dar-ganho-de-causa-a-pseudociencia

https://oglobo.globo.com/brasil/sao-paulo/noticia/2024/09/20/cientistas-sao-condenadas-apos-refutarem-nutricionista-que-associa-diabetes-a-vermes.ghtml

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/09/30/stf-cientistas-diabetes-vermes.htm

https://www.instagram.com/nuncavi1cientista/

https://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do;jsessionid=58C3C6282D946FB9CCB2C66BE462C5A1.buscatextual_0

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