Estudos mostraram que a molécula de microRNA 486-5p participa da disseminação de cânceres em células pulmonares através do gene Kras. A pesquisa conduzida por Mateus Aoki em sua tese de doutorado pelo Instituto de Química testou o seu papel na formação do câncer e a sua redução como forma de evitar que a doença se espalhe.
Um câncer surge a partir de uma mutação dentro de uma célula do organismo. O Kras é um gene importante no processo da multiplicação celular, sendo ele um dos responsáveis por induzir o processo em condições adequadas. Por este motivo, mutações em sua estrutura tem grande potencial na formação de cânceres. As pesquisas utilizaram células pulmonares portadoras do gene Kras oncogênico, que apresentam uma rápida multiplicação, formando culturas que ajudam na produção dos estudos.
Em pesquisas realizadas anteriormente, já se havia testado o gene Kras, após sofrer mutações, como alvo terapêutico para ser inibido diretamente. Todavia, os resultados apresentados não foram adequados. Desta forma, foi necessário investigar outros meios para inibir a multiplicação celular induzida por esse gene mutado.
Os microRNAs acabam sendo encarregados pelo surgimento e pela disseminação da doença pelo organismo, sendo alguns controlados pelo Kras. Como eles são moléculas descobertas há pouco tempo, ainda apresentam grandes possibilidades de descobertas. Dentre os disponíveis, foi analisado o microRNA 486-5p, que já teve sua função detectada em casos de câncer de cólon.
A pesquisa utilizou esta molécula para analisar seus efeitos tanto em células pulmonares como em células pancreáticas. Ambas apresentam o gene Kras mutado, permitindo que fosse explorado o seu potencial para avaliação dos resultados.
Os testes realizados com células do pulmão apontaram que o microRNA 486-5p, em células com o gene Kras na sua forma oncogênica, atua de maneira similar em relação às células do cólon. Isto significa que existem possibilidades de que ambas apresentem similaridades quanto à origem e ao desenvolvimento do câncer. Assim, caso estes indícios sejam comprovados, poderia ser investigado sobre o tratamento da doença, que poderia ser feito de maneira parecida tanto para os casos de cólon como para os de pulmão.
Por sua vez, as células do pâncreas, que também apresentam uma alta taxa de mutação no gene Kras, trouxeram resultados completamente diferentes do obtido com as células pulmonares. Apesar de possuírem esta característica comum, suas diferenças quanto à sua funcionalidade e às suas utilidades geraram resultados opostos, oriundos da diferença existente entre esses tipos de câncer.
Nas células pulmonares com Kras mutado, foram produzidos testes nos quais se reduziu a expressão do microRNA 486-5p. Isto reduziu a disseminação da doença, sem causar necessariamente a morte de células próximas.
No futuro, um maior entendimento sobre essa relação entre os microRNAs e o gene Kras pode indicar um possível alvo para tratamento. “Se um determinando tumor apresenta quantidade elevada de um microRNA, pode-se buscar diminuir a expressão deste para restaurar seu padrão normal e ser utilizado como uma forma de tratamento contra o câncer”, aponta Mateus.
Para o avanço das descobertas, será necessário investigar sobre a quantidade do microRNA 486-5p presente em pacientes com câncer de pulmão e fazer testes fora do laboratório para confirmar se o mesmo ocorre com humanos. Além disso, também é preciso ver como a redução dos microRNAs atua em relação ao crescimento celular, verificando a forma como ele intervém no processo.