ISSN 2359-5191

12/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 11 - Saúde - Pró-Reitoria de Pesquisa
Câncer de pescoço e cabeça têm maior incidência sobre as pessoas em situação de baixa renda
Doença também está associada a fumantes e ao consumo de álcool
Créditos: JusBrasil

Pesquisa realizada em conjunto com cientistas da França, Santa Catarina e São Paulo constatou que os sujeitos com nível reduzido de educação, que também trabalhavam com ofícios manuais por um longo período, tiveram um risco mais elevado de desenvolver câncer de cabeça e pescoço com menor chance de sobrevivência. A análise baseou-se na associação entre status socioeconômico, câncer de cabeça e pescoço e como este pode ser atribuído ao consumo de tabaco e álcool.

Houve uma investigação nos hospitais da rede pública de São Paulo envolvendo 1.017 casos, que tinham sido diagnosticados há pouco tempo, de câncer de cabeça e pescoço, que são os tumores que atacam a nasofaringe (cavidade nasal), a orofaringe (boca), a laringe e a hipofaringe, além de 951 indivíduos que eram parte de um grupo-controle. A cidade foi escolhida por atestar uma elevada ocorrência da doença em questão, sendo que esta corresponde a 11% das detecções de tumores em geral.

Cada paciente foi entrevistado e interrogado sobre a escolaridade, ocupação e estilo de vida. A maioria dos analisados eram homens acima de 45 anos. Ademais, pelo menos 70% dos afetados foram enquadrados em uma baixa posição socioeconômica e tinham até oito anos de educação formal.

A exposição ao tabaco foi calculada com base nos maços (contendo 20 cigarros) consumidos por dia, em relação ao número de anos como fumante. Já a dose do consumo de álcool foi medida em gramas de etanol ingeridos ao dia, e multiplicada pelo número de anos sob essa condição.

A associação é explicada pelo fato de que as pessoas que exercem trabalhos não-manuais tendem a possuir maior autocontrole frente aos itens citados. Assim como uma renda elevada está ligada a hábitos saudáveis (alimentação balanceada e atividade física), preocupação com a higiene oral, regularidade de exames e, por vezes, melhor atendimento médico. A ocorrência do câncer reflete a exposição cumulativa aos fatores de risco a longo prazo.

Os tumores investigados têm alta incidência no mundo. Na média, 650 mil casos recentes são detectados todos os anos. Porém, as taxas de mortalidade são mais expressivas nos países em desenvolvimento, em que 70% dos pacientes diagnosticados encontra-se em um estágio avançado da doença. Segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), publicados no dia 27 de novembro, só no Brasil, o número de novas ocorrências para os cânceres de cabeça e pescoço em 2016, somados, deve ser superior a 22 mil.

Estima-se que quase 75% dos casos poderiam ser evitados através de mudanças nos hábitos, principalmente pela redução da exposição aos fatores de risco como o fumo e a ingestão de álcool. Isso se deve à relação entre a gravidade do distúrbio e o tempo de uso dos itens. A ameaça é potencializada se estiverem combinados.

Fatores de risco que levam ao aparecimento do câncer de cabeça e pescoço. Créditos: vencerocancer.com.br

José Leopoldo Ferreira Antunes é um dos responsáveis pelo estudo, que figura no Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco na USP. Ele estabeleceu que os fatores de risco não são facilmente evitáveis, mas podem ser efetivamente prevenidos por meio de iniciativas de promoção da saúde. “Reduzir a exposição aos hábitos deletérios é um caminho efetivo e factível para a redução da incidência desse tipo de câncer no Brasil”, afirma.

Os sintomas da enfermidade são a rouquidão persistente, dor na garganta, dificuldade ao engolir, nódulo no pescoço e feridas na boca ou na língua que não cicatrizam.

A conclusão está fundamentada na circunstância de que os programas de saúde pública necessitam ter o objetivo de reduzir as diferenças socioeconômicas, além de incentivarem a mudança de comportamento. “Com isso, poderíamos orientar melhor os programas de saúde voltados à prevenção e controle do câncer”, aponta Antunes. Porém, “elevar a renda dessas pessoas mais afetadas pode não ser factível no curto prazo, daí a necessidade de estudos que procuram esclarecer o que ocorre nas pessoas de baixa renda que as predispõe a risco mais elevado para essa doença”.

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