Este artigo tem o objetivo de promover uma análise crítica introdutória de “Reboldra”, de Guimarães Rosa, um conto de Ave, palavra quase inteiramente esquecido por leitores e estudiosos do escritor mineiro. “Reboldra” apresenta uma complexa superposição de linhas narrativas explícitas ou apenas sugeridas, além de efeitos de sentido múltiplos que vão sendo plasmados ao longo do entrecho. A discussão dos textos menos valorizados de Guimarães Rosa faculta descortinar certos traços encontráveis com menos frequência em sua obra “canônica”, como o final “infeliz” de “Reboldra”, o que pode contribuir para o refinamento da fisionomia literária do criador de Sagarana.
Depois de um breve mapeamento de como a crítica literária já associou os nomes de Guimarães Rosa e Valdomiro Silveira, passamos à análise comparativa de "Substância" e "Cena de amor", verificando não propriamente uma relação intertextual entre esses contos, mas uma série de expressivas semelhanças estruturais e temáticas que os aproxima. Como resultado, propomos a validade de se recuperar e valorizar um texto escrito por um escritor "menor", por meio de seu diálogo e contraste com uma criação de um autor consagrado e a constatação de seu papel específico de veiculação de diferentes sentidos e visões de mundo.
Este artigo tem por objetivo examinar algumas características presentes em escritos de ambiência urbana de João Guimarães Rosa publicados em seus livros póstumos – Estas estórias e Ave, palavra –, agrupando-os segundo certas afinidades formais ou temáticas: o estilo fragmentado e a atitude ambivalente com relação à cidade; à representação dos males do regime nazista; e à figuração de sujeitos opressos pelo sistema de sociabilidades que a urbe impõe. Num segundo momento, os textos urbanos são contrapostos à literatura sertaneja de Guimarães Rosa e distinguidos, especialmente, pelo enfraquecimento do modo ficcional promovido pelo recurso amplo à voz autobiográfica e pelo emprego de um discurso mais reflexivo ou sentencioso.
Este trabalho pretende apresentar a participação do escritor João Guimarães Rosa como jurado do Prêmio Walmap, de 1967. Em especial, concentraremos nossa análise em dois cadernos de notas onde o autor de Grande sertão: veredas registrou opiniões sobre os romances inscritos. Mostraremos que o esforço avaliativo de Guimarães Rosa, testemunhado nos cadernos, coloca em evidência um conjunto de critérios e estratégias de valoração literária que fazem refletir, como num espelho, a própria poética do escritor-julgador.
Enfatizando a circunstância de que "Bicho mau", conto de Guimarães Rosa publicado postumamente em Estas estórias, é, na verdade, uma narrativa inacabada, este artigo, tendo como ponto de fuga a segunda parte da trama previamente escrita pelo autor, em 1937, e nunca efetivamente dada a público, pretende sugerir reavaliações da história por meio da análise de seus principais motivos e da verificação de algumas modificações empreendidas nesse texto primeiro quando do seu preparo para o livro de 1969: a alteração de tonalidade (do lúdico para o grave), o zelo em tornar personagens mais complexos e a representação mais saliente de certos problemas humanos fundamentais, como a concorrência da casualidade e da causalidade para a conformação dos acontecimentos e do destino, e as agruras que cercam e determinam as tomadas de decisão. Com isso, desejamos ampliar a percepção crítica do conto para além da visão mais discutida de que ele propõe basicamente um conflito entre ciência e superstição.