Este artigo parte de um estudo realizado no arquivo de João Guimarães Rosa, no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP). Nele, a forma literária é percebida como uma tomada de posição que supõe um posicionamento do escritor no interior das contradições do processo social. Nesse sentido, defendo a ideia de que, em “Meu tio o iauaretê”, a conversa desnivelada, padrão narrativo também pre- sente em outros textos do autor, ataca a questão da desigualdade bra- sileira, representando-a.
Este texto se destina a informar os passos iniciais da pesquisa que venho realizando sobre a novela “Meu tio o iauaretê”, de João Guimarães Rosa. Ao inscrever a pesquisa na linha de interpretações sociológicas, históricas e políticas, não deixo de observar elementos que dizem respeito à genética do texto, como demonstra o pontapé inicial do estudo realizado no arquivo do escritor no IEB/USP. Neste estudo, a forma literária é percebida como uma tomada de posição que supõe um posicionamento do escritor no interior das contradições do processo social. Defendo a ideia de que a conversa desnivelada, padrão narrativo também presente em outros textos do autor, ataca a questão da desigualdade brasileira a um só tempo compreendendo-a e criticando-a.
No último trabalho editado por João Guimarães Rosa em vida, Tutaméia:
terceiras estórias, ditos e não ditos ironizam pressupostos das acepções clássica e realista de
representação. A crítica fez certo silêncio nos primeiros vinte anos de edição de Tutaméia, o
que proponho como uma reação ao tratamento irônico de modelos de representação, clássico e
realista, e de expectativas por eles suscitadas. O objetivo desta comunicação é considerar que,
ao ironizar aqueles padrões de mimese, Tutaméia produz indeterminação.
A imagem poética, graças a essa realidade nova que representa, permite ao leitor ver diferentemente, ver outras coisas que a palavra esconde e, nessa diferença, a imagem impõe um reconhecimento e uma representação de mundo mais ampla, exigindo uma disponibilidade e uma abertura que, em última análise, são compartilhadas pelo poeta e seu leitor. Nesse caso, partindo-se do texto “Partida do audaz navegante”, contido em Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, espera-se verificar as diferentes formas de representação poética na narrativa ficcional de Rosa, observando, para tanto, os elementos e estruturas literárias e discursivas. Com a contribuição bibliográfica de críticos e teóricos renomados, espera-se desenhar algumas linhas de força que fazem do texto de Rosa uma experiência de prosa e poesia.
A unidade da enunciação de Riobaldo, em Grande sertão: veredas, aparece cindida pela oposição complementar de dois princípios constitutivos, como um jogo com sinônimos (vários nomes para um ser só, "Deus") e homônimos (um só nome para coisas e eventos, "Diabo"). A oposição é talvez o principal operador metalinguístico do texto e é por ela que são articulados outros níveis de sentido do romance, como o das alegorias da filosofia neoplatônica, o da luta política no sertão, o do amor, o do mito e o da linguagem.
O objetivo deste estudo foi o de tentar desentranhar das representações de duas das figuras mais singulares de nossa história, Antônio conselheiro e Getúlio Vargas, que tive a felicidade de encontrar e identificar num outro trabalho sobre o Grande Sertão: Veredas, a visão e o juízo de Guimarães Rosa sobre elas. Isto foi possível apreender a partir das análises das significações que adquiriram no livro e da importância que tiveram para a definição do destino do herói Riobaldo, narrador do romance Grande sertão: veredas.
Cosmovisão e juízo do romancista Guimarães Rosa sobre Antônio Conselheiro e Getúlio Vargas na defnição do destino do herói Riobaldo. Interessa-nos, pois, entender o pensamento e a ação artística de um grande autor e não as simpatias ou antipatias de um curioso, bisbilhoteiro das obras alheias. Neste sentido, todos os juízos de valor a respeito das duas personagens históricas e dos fatos correlatos a elas só se referem à visão do romancista e não à do crítico.
Considerando em paralelo os índices de Corpo de baile e de Tutaméia, o presente trabalho pretende colocar o problema da construção do livro na obra de Gu imarães Rosa. A reflexão sobre a relação entre livro, leitor e releitura proposta em Tutaméia através do desdo bramento dos índices e do trabalho sobre as epígrafes de Schopenhauer prolonga e desenvolve o questionamento que estava patente, de forma menos objetivada, em Corpo de baile. Ao mesmo tempo, o investimento na noção de "parábase" em Corpo de baile é transportado para o jogo com os "Prefácios" de Tutaméia. Coloca-se, nessas classificações, o problema da relação do limiar do livro com o livro, mas também a questão do investimento autoral de que esse espaço se reveste. Trata-se de indicações de (re)leitura que prescrevem e refletem os movimentos do leitor como elemento que possibilita a obra, espelhando a estrutura da relação narrador/ interlocutor encenada em vá rios textos de Guimarães Rosa. Através de uma comparação dos dois casos em análise, tentar-se-á delinear uma cartografia da releitura em Guimarães Rosa como forma de tornar "orgânica" (e viva) a forma do livro (e da escrita) enquanto representação de uma realidade perenemente "movente" e não concluída.
João Guimarães Rosa, no cenário nacional e também externo, destacou-se pela primazia em traduzir em palavras o mundo e, indubitavelmente, a representação literária do humano e do sertão, universalizando-os. Nos idos de 1956, surge o Grande Sertão: Veredas, numa tessitura ficcional que evidenciou, em suas estórias e causos pitorescos, a diferença em relação à literatura produzida até ali. Nesse sertão roseano, Diadorim e Riobaldo encerram o mundo, em experiências metafísicas da presença na ausência. A abordagem metodológica desse trabalho utiliza-se da representação social, fictícia e literária e se constatou, nesta investigação, que o sertão roseano, com a caracterização da personagem Diadorim, em representação fluida, acorre e concorre para a possibilidade do empoderamento feminino. Nesse espaço ficcional, a literatura enquanto representação delineia o fluxo contínuo do artístico e cultural, no longo dito e não dito do Grande Sertão: Veredas. Para essa discussão, problematiza-se o sertão roseano e suas imbricações com as relações de gênero, a partir do escopo teórico dos seguintes autores: Antonio Candido (2014), Beth Brait (1985), Erich Auerbach (2013), Terry Eagleton (2006), Walter Benjamim (1994); Jacques Derrida (2004), Michelle Perrot (1995), entre outros.
O presente artigo trata a respeito do campo simbólico e o modo como se estrutura no social a naturalização do que se concebe das categorias de gênero. Tendo como corpus a personagem Diadorim da narrativa roseana, compreendendo a representação de gênero em sua ação estratégica, rumo ao empoderamento de direitos, na luta por conquistas e empreendimentos no sociocultural. Para este trabalho, utilizou-se o arcabouço teórico dos seguintes autores: Sobre representação social: Denise Jodelet (2012), Serge Moscovici (2012); No que tange à desconstrução do gênero e demais discussões acerca dos estudos de gênero e feministas: Judith Butler (2014), Pierre Bourdieu (2014), Simone de Beauvoir (2001), entre outros.
No presente artigo, analisamos representações da identidade de Minas Gerais, passando pela formação cultural, intelectual e política do Estado. A partir dessas considerações iniciais, teremos como foco o livro Grande Sertão: Veredas, onde detectamos uma vertente da mineiridade cujos novos (e indefinidos) vetores apontam para além das habituais representações.
Em Guimarães Rosa, a mulher é vista como uma sertaneja ingênua, corajosa, às vezes sensual, valente e traiçoeira como uma serpente. No livro Mulher ao pé da letra, Ruth Silviano Brandão afirma que “[...] o feminino não se representa, é irrepresentável, mas tenta-se escrevê-lo” (BRANDÃO, 2006, p.7). Considerando a representação do feminino na literatura rosiana, o presente artigo recorta os contos Esses Lopes e Estoriinha do livro Tutameia, e busca, de forma comparativa, traçar os perfis das personagens Flausina e Elpídia, as quais estão inseridas em um contexto social predominantemente masculino.
As questões espaciais no trabalho de Guimarães Rosa são tão relevantes quanto os outros elementos, como os personagens, o tempo, o enredo etc., pois são fundamentais para o desenvolvimento das situações trágicas, cômicas, dramáticas, fantásticas, românticas e amorosas da sua prosa. O trabalho objetiva discutir, através da análise dos contos “Os irmãos Dagobé” e “Sarapalha”, com o apoio de alguns teóricos e do dicionário de símbolos, o quanto a personalidade, valores, relações e atitudes dos personagens estão interligados ao sertão e a suas particularidades regionais, assim como as mudanças internas estão vinculadas diretamente a transformações externas. Os contos adotados para estudo, um de narrativa curta e outro de narrativa mais extensa possuem formas diferentes de mostrar o quanto o sertão tem uma forma particular de penetrar a alma do indivíduo e determinar o rumo das perspectivas inerentes ao homem, como sobrevivência, abandono, solidão e a linha tênue entre a vida e a morte.
Até que ponto o aprimoramento intelectual possibilitou melhoria nas relações sociais entre campo e cidade no Brasil de meados do século XX? As imagens articuladas e expostas por importantes intelectuais estavam muitas vezes vinculadas a uma suposta necessidade de políticas públicas dirigidas ao habitante do campo. A constatação leva a pelo menos duas questões: o mascaramento de uma construção humana -- o Estado democrático -- pautada em uma pseudo-unidade política, social e cultural, quando não racial; e, por conseqüência, a subjugação de grupos sociais marginalizados, dos quais o habitante do campo é um exemplo. Para a avaliação deste problema, há dois textos fundamentais, por unirem uma dimensão importante para se pensar a representação e homogeneização estatal: serem centrais no debate sobre a relação campo-cidade, mantendo diálogo com o pensamento acadêmico de sua época. Estas obras, das quais trata o artigo, são Tristes trópicos, de Lévi-Strauss, e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.