O presente trabalho se propõe a apresentar uma visão geral de Tutameia, a partir do estudo aprofundado de três de suas estórias. Começando por uma breve introdução que aponta algumas características particulares deste livro dentro da obra rosiana, o trabalho devota-se a seguir à interpretação das três estórias selecionadas. A primeira é “Antiperipleia”, estória de abertura do livro, avaliada como realização autônoma e também em sua contribuição estratégica à arquitetura do conjunto. A segunda é “O outro ou o outro”, uma das artérias mestras do livro, central para a compreensão do magistério rosiano da liberdade. A terceira é “Barra da Vaca”, que se presta a uma reflexão sobre o homem no mundo, aqui concebido como uma metáfora do poeta e sua missão criadora. Tendo em vista o princípio orgânico do todo e das partes, cada uma destas estórias contém o todo punctualmente concentrado, de modo que, lidas e transvistas, oferecem pistas reveladoras para a percepção integrada do conjunto.
Neste artigo, comparo alguns textos de João Guimarães Rosa com filmes de Charles Chaplin e Pier Paolo Pasolini. O contraste está baseado nos temas do silêncio e da morte.
Leitura de aspectos da cultura popular, presentes no processo de construção ficcional de Guimarães Rosa, o “contista de contos críticos”, que confessara: "Não preciso inventar contos, eles vêm até mim”. Pela alquimia da palavra em seu estado primitivo, a fusão do real e ficcional com o obsessiva defesa de que "a legítima literatura deve ser vida". A multiplicação do imaginário rural mineiro na narrativa rosiana, especificamente, em contos de Tutaméia e Ave, Palavra. Historia e estória no cotidiano do povo do sertão mineiro. Pelo jogo da memória narrativa popular, a construção da identidade cultural sertaneja e a recriação do mito: "No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou o tu: por isso ali os anjos ou o diabo ainda manuseiam a língua".
Ao interpretar o percurso do viajante desse conto e sua exclusão no vilarejo, o ensaio pretende oferecer pistas para promover a leitura de Guimarães Rosa nas escolas, com o objetivo de dinamizar o conhecimento da literatura em língua portuguesa junto às outras áreas de estudo na Educação Básica e em grupos de leitura que promovam a inclusão. Dentre os múltiplos traços que determinam o caráter cômico de Jeremoavo, protagonista do conto “Barra da Vaca”, em Tutaméia terceiras estórias, de João Guimarães Rosa, podemos destacar expressões que descrevem suas qualidades físicas e qualidades morais, em muitos casos representadas por chistes próprios da obra rosiana. Mas Jeremoavo é um estranho viajante que causa temor entre os habitantes da pequena povoação em que o sertanejo chega doente. Nesse perfil, encontra-se a aproximação entre ele e o homem, descrito por Euclides da Cunha; como indivíduo enganado, aproxima-se a Dom Quixote, de Cervantes; e, antes disso, ao herói bíblico de Lamentações, o que sugere a essa pequena narrativa rosiana a possibilidade de ser estudada com o método intertextual.