O artigo problematiza códigos de masculinidades para entender o homem da literatura atual. Objetivou-se analisar comportamentos adotados pelos homens dessa literatura. Comparou-se protagonistas de dois romances contemporâneos – Por enquanto... Outra Estação (PÁDUA, 2014), Barba Ensopada de Sangue (GALERA, 2012) – a três narrativas clássicas – São Bernardo (RAMOS, 2012), Dom Casmurro (ASSIS, 2019) e Grande Sertão: Veredas (ROSA, 2019). Trabalhou-se com teorias comportamentais e sociológicas, a partir de Cuschnir, Mardegan Jr. (2001); Nolasco (1995, 1997) e Albuquerque Junior (2003). Percebeu-se que protagonistas da literatura atual incorporaram condutas antes consideradas não masculinas, negando a afirmação da virilidade pela violência.
Dois grandes autores, verdadeira unanimidade da crítica literária nacional, Machado de Assis e Guimarães Rosa representam a elaboração de uma escrita repleta de sutilezas, cuja metalinguagem permite desdobramentos na própria interação entre as esferas do autor e a do leitor. A questão da autoria, apresentada com picardia na abertura do Dom Casmurro, refrata-se em jogos interpretativos. No capítulo inicial, o narrador sugere uma bifurcação: de um lado, a biografia possível, de outro lado, a crônica histórico-social com a redação de uma Históriados subúrbios. No fundo, trata-se de um mesmo projeto, posto que ambos, o cidadão e a cidade, projetam-se em suas face tas ocultas; no centro urbano, as vias de acesso via trem da Central do Brasil, articulandoas a rtérias da polis; no homem, os recônditos da alma, a irromper no fluxo de uma memória que se quer centralizadora. Por sua vez, herdandoa perplexidade e tentativa de "atar as pontas da vida", a ascese de Riobaldo confunde-se com a de um grande sertão cujas trilhas compõema trajetória hermética de desvendamento dos contrários, da revelação do Tudo no Nada. A obra de Machado é permeada pelo pessimismode Schopenhauer, narrando-se o desespero de uma vida onde tudo tornou-se vão. A de Rosa, enlaça a admiração inicial de Nietzsche por Schopenhauer para, contudo, reverter esse pessimismo através da teoria do eterno retorno e dos aforismos de Zarathustra, com a alternânciada alegria e do desespero, da criação e da destru ição, do bem e do mal.
O presente artigo tem o intuito de discorrer sobre o duplo existencial que se faz presente na personagem Riobaldo, do romance Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Para tanto, será
estabelecido um diálogo com outros dois protagonistas de clássicos literários, a saber, Bentinho, do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, e Alberto, de Aparição, de Vergilio Ferreira, que apresentam diversas características semelhantes às de Riobaldo, o que, certamente, nos auxiliará no processo de análise.
O presente trabalho tem como objetivo perscrutar como a questão da verossimilhança aparece em duas grandes obras da literatura brasileira — Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa e Dom Casmurro, de Machado de Assis —, a partir da observação da postura apresentada pelos narradores desses dois romances. Busca-se perceber se existem fraturas quanto à verossimilhança na estrutura de ambas as obras aqui citadas a partir do discurso de personagens/narradores que contam suas histórias na primeira pessoa, ou se é justamente essa característica distintiva que confere valor elevado tanto ao texto de Rosa como ao de Machado. Tal análise apresenta-se fundamentada num arcabouço teórico que se apoia em autores como Antoine Compagnon, Edward Forster, Willi Bolle, Walnice Nogueira Galvão e Silviano Santiago. Conclui-se que é através da figura do narrador posto em questão nas duas obras que o leitor se indaga até que ponto pode acreditar nos fatos apresentados, restando a ele amarrar os fios que parecem ser soltos, mas que, em dois autores geniais como Machado e Rosa, estão apenas convenientemente dispostos em forma de teia ou quebra-cabeças, para que a leitura nunca se esgote, pois há sempre algo novo a descobrir, relacionar, resgatar e construir.
O romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, é enquadrado por compêndios no Realismo brasileiro. Contudo, essa classificação parece não dar conta do que o referido livro propõe em seu discurso, pois, tendo como voz narradora Bento Santiago, a obra é permeada por índices de indeterminação; nisso, já teríamos uma contravenção do código realista, conforme o conhecemos no século XIX. Por conseguinte, chamar a narrativa das obsessões de Bentinho de realista exigiria reconsiderar o que vem a ser tal termo, no mínimo. Para pensar como Dom Casmurro dá mostras de manter-se com fôlego até o nosso século, conduzi uma análise comparativa, trazendo os contos “A quinta história” (1964), de Clarice Lispector; “Desenredo” (1967), de Guimarães Rosa; “Estão apenas ensaiando” (2000), de Bernardo Carvalho; “A figurante” (2003), de Sérgio Sant’Anna; “Encontros na península” (2009), de Milton Hatoum.