JOÃO GUIMARÃES ROSA
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Cid Ottoni Bylaardt
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Um crime delicado: conversando aos infinitos - "Um retrato de cavalo"
Cid Ottoni Bylaardt
Aletria: Revista de Estudos de Literatura, v. 20, n. 3, 2010
p. 47-57
Um delito foi cometido: Iô Williãozinho ousou bater uma foto do alvinitoso de Bio, sem aviso nem consentimento. Em “Retrato de cavalo”, de Tutaméia, a instigante indeterminação da escritura de Guimarães Rosa estabelece um paralelo entre um cavalo e seu retrato, a partir dos sentimentos contraditórios de seu dono, que considera um crime aquele clique. Temos aí um retrato, imagem subtraída ilicitamente ao seu dono: escrita, representação. Temos também uma narrativa, escrita do retrato, representação da representação. Este artigo pretende mostrar como Guimarães Rosa manipula as ambiguidades da linguagem literária, levando-a além dos limites da representação, explorando seu fascínio, seu saber, que não é da ordem da compreensão. O cavalo e seu retrato fazem refletir sobre a literatura, sobre seu excesso de verdade que compõe sua mentira. Ao escrever o cavalo e seu retrato, o texto não consegue fixar nenhuma verdade, apenas imagens fugidias que compõem recapítulos: há sempre um escrito a se sobrepor a outro, sem determinar onde está o verdadeiro, onde está o que o nega, a remeter o olhar ao reino da fascinação, onde a imagem perde o valor de significação para se tornar pura paixão da indeterminação, da indiferença.
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