Instituto de Estudos da Linguagem. Programa de Pós-Graduação em Teoria e História Literária
Este trabalho pretende investigar a matriz sensível na obra Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa enquanto experiência fundadora do plano existencial. Tal relação será trabalhada a partir das personagens Riobaldo e Diadorim já que esta passa a despertar no outro, antes mesmo do amor incompreendido, uma atenção para singularidades da natureza, fatos e relações anteriormente não percebidas, etapa primeira de uma série de questionamentos que acompanharão Riobaldo por toda sua vida. Partindo de alguns conceitos fenomenológicos, pretende-se analisar como a inegável presença do sensível - face à natureza (beleza natural) e à força lírica da personagem Diadorim - é capaz de conduzir ao plano existencial, à postura existencial, tão consolidada e inquietante em Riobaldo, narrador-personagem. Para isso serão analisadas algumas passagens do romance nas quais o vínculo entre natureza e apreensão sensível parece mostrar-se como mecanismo gerador do questionamento. Nesse trajeto, outros temas importantes, tais como a corporeidade, a percepção, o despertar estético, a função da arte, os efeitos do belo e a transformação através da leitura/arte, também serão abordados. Como e quando surge a atenção sensível no narrador? Quais os mecanismos e fatores que poderiam proporcionar essa espécie de despertar existencial em Riobaldo? Qual o papel da percepção e da natureza nesse processo? São apenas algumas das questões que essa pesquisa pretende abordar. Do ponto de vista de uma obra ficcional - que, portanto, difere do escrito filosófico - a intenção é também abordar Grande Sertão: Veredas como possibilidade de outro tipo de despertar: o proporcionado pela palavra ao nos atravessar como leitores, podendo modificar sensivelmente (transformar) aquele que lê, a partir de uma transformação em curso (a de Riobaldo via Diadorim/sensibilidade/natureza), o que reforça a tese da enorme importância da leitura como processo de experiência e formação.