O trabalho apresenta os primeiros resultados da pesquisa de doutorado em andamento na PUC Minas que busca investigar parte dos arquétipos, mitos e metáforas da Bíblia que podem ser encontrados em Grande sertão: veredas. Segundo Northrop Frye (2004), a Bíblia, com sua imensa quantidade de mitos, arquétipos e metáforas, se constituiu um "universo mitológico" que serviu de inspiração para toda a literatura ocidental, no qual consciente ou inconscientemente escritores têm buscado e reproduzido em suas composições literárias. Para Jung (2000), os arquétipos se definem como expressões do inconsciente coletivo da humanidade que repetem e representam experiências de tempo imemoriais. Essas formas podem ser encontradas nos mitos da cultura coletiva e são buscados e reatualizados, segundo Mirceia Eliade (1972) e também Nietzsche (2012), em seu conceito do “Eterno retorno”. Considerando essas características fundamentais propomos a releitura de dois episódios emblemáticos de Grande sertão: veredas: a travessia do rio com o menino na canoa, e a travessia do Liso do Sussuarão, buscando referências no arquétipo bíblico da travessia do povo hebreu pelo deserto para se alcançar a terra prometida, o qual metonimicamente poderia representar a travessia de toda a humanidade pelo deserto da provação para se alcançar o paraíso e seu criador. Esperou-se assim, enriquecer e lançar novas veredas interpretativas e reflexões, sobre o sertão que habita dentro de cada um de nós e a grande travessia da vida, tal como apresenta Guimarães Rosa.