Analisando o conto Desenredo, de Guimarães Rosa, este ensaio mostra a importância de algumas de suas estratégias estilísticas, tais como o uso da paranomásia, linguagem infantil, chistes e trocadilhos, como um meio de subverter ou reconfigurar a realidade, relacionando os procedimentos literários de Rosa com O chiste e suas relações com o inconsciente, de Freud, e com Formas simples, de André Jolles. Traído por sua mulher, o anti-herói do conto, Jó Joaquim, arranja para si mesmo uma nova narrativa de seu destino, na qual um final cômico e inesperado reassegura sua felicidade; o papel dos chistes na economia libidinal, revelado por Freud, encontra, assim, no conto de Rosa uma ilustração convincente.
Primeiramente, é apresentada uma releitura de O Estranho sob a luz do Além do princípio do prazer, dois textos de Freud escritos em um mesmo curto período de tempo, que parecem, à primeira vista, tocar-se apenas tangencialmente. Enfatiza-se o estranho enquanto retorno. Segue, então, uma análise de A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa, sob a ótica da repetição diferencial. A repetição não deve ser entendida como reprodução, mas como um retorno do diferente – um paradoxo em termos, tanto quanto o estranho familiar.