O artigo desenvolve análises de 'Antes das primeiras estórias', livro constituído por quatro contos
escritos por João Guimarães Rosa em sua juventude. Os contos se inserem no campo da literatura
fantástica e, nesse sentido, pretendemos articular reflexões que têm como objetivo compreender a
partir de que temas e elementos narratológicos o insólito é construído, com o intuito de
demonstrar que a composição do espaço apresenta-se como um dos principais recursos para a irrupção
do fantástico nas narrativas.
O artigo tem como proposta a discussão da noção de real maravilhoso, uma das vertentes da literatura fantástica, por intermédio da análise de dois contos de autores latino-americanos: “Um senhor muito velho com umas asas enormes”, de Gabriel García Márquez, e “Um moço muito branco”, de João Guimarães Rosa.
Como se sabe, a literatura é capaz de levar o ser humano a vivenciar emoções intensas e distintas. Todorov (1975) destaca a literatura fantástica, e, em seus estudos, mostra que esta se traduz como vacilação experimentada por um indivíduo que não reconhece mais as regras do mundo real, diante de um fenômeno visivelmente fantástico, o que certamente provoca anseio no leitor. Desse modo, com base em nossas experiências literárias, constata-se que diversas obras literárias aludem ao fantástico, o qual pode variar entre o estranho e o maravilhoso. Portanto, as narrativas fantásticas não devem ser meramente classificadas como tal, mas é indispensável considerar suas mutações, estilos e intenções de produção. Diante disso, o presente artigo propõe a análise do conto “Um moço muito branco”, de João Guimarães Rosa, com o intuito de averiguar aspectos insólitos presentes nessa narrativa e como as mesmas são incorporadas textualmente.
O romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, publicado em 1956,
é, desde sua publicação, objeto de análise de inúmeros estudos acadêmicos. Este artigo
pretende analisá-lo, tendo como foco a famosa cena do pacto com o diabo, que possui
Riobaldo como protagonista, em meio às Veredas-Mortas. A cena, marcada pela incerteza
de sua concretização e pela mudança de atitude do narrador-protagonista, Riobaldo, será
aproximada da literatura fantástica, segundo a teoria de Todorov (2012). Outrossim,
analisar-se-ão outros “causos” contados por Riobaldo, que fazem com que se possa
discuti-los e aproximá-los do realismo maravilhoso e de obras canônicas no estilo, como
o Pedro Páramo, de Juan Rulfo.
Programa de Pós - Graduação em Estudos de Linguagem
A presente dissertação desenvolve uma reflexão sobre o funcionamento da linguagem em um conjunto de contos produzidos por Guimarães Rosa, na perspectiva de uma potencial subversão do real. Para essa abordagem, consideramos que o modo de expressão dos contos em análise transgride e questiona a lógica do real, na medida em que instauram novas leis para o encaminhamento das ações nas narrativas em destaque. Os contos selecionados para análise são “O burrinho Pedrês”, de Sagarana (1946), “O espelho”, de Primeiras Estórias (1962), e “Meu tio o Iauaretê”, de Estas Estórias (1969). Como aparato teórico para potencializar a reflexão, discutiremos a teoria clássica sobre o fantástico, proposta principalmente por Tzvetan Todorov (1970) e as considerações de David Roas em seu estudo A ameaça do Fantástico (2014), em que questiona e problematiza as proposições de Todorov; para a abordagem da produção de Rosa será tomada também a crítica de Antonio Candido sobre o "super-regionalismo" em Guimarães Rosa (1987).