Programa de Pós-graduação em Letras: Linguagens e Representações
João Guimarães Rosa, no cenário nacional e também externo, destacou-se pela primazia em traduzir em palavras, o mundo, as coisas, e, indubitavelmente, a representação literária dos seres, do humano e do sertão, universalizando-os. Nos idos de 1954, surge o Grande Sertão: Veredas, numa tessitura ficcional, que evidenciou, em suas estórias e causos pitorescos, a diferença em relação à literatura produzida até ali. Em Rosa, a linguagem, os seres e as personagens fluem num mundo, sem nele estar, percorrendo e assumindo trilhas da representação imaginária, com repercussão psicossocial e cultural, mas também geográfica, da fauna e flora. Nesse sertão roseano, Diadorim e Riobaldo encerram o mundo, em experiências metafísicas da presença na ausência (DERRIDA,2004). Grande Sertão: Veredas é uma das produções literárias mais instigantes de João Guimarães Rosa e da literatura ocidental, indubitavelmente. Considerada como unicum na literatura brasileira, cuja estranheza de escrita, um corpo estranho no que diz respeito às suas obras em totalidade. Destaca-se aqui o problema de gênero repercutido na personagem Diadorim, elegida como nosso objeto de estudo para
elaboração da presente dissertação. Para além de ser uma narrativa que constrói e desconstrói a
categoria de gênero, vemos na personagem roseana a desestabilização dessas categorias, fluindo
do cárcere do naturalizado culturalmente rumo ao empoderamento de direitos, legitima ação imbuída de trazer à baila a repercussão do andrógeno nas agruras do sertão do Rosa, teatralizado no Reinaldo jagunço. Como um organismo vivo, Diadorim é considerada, para essa análise e leitura da ficção do Rosa, a possibilidade de encontrar, nas paragens da representação social, uma mulher investida no poder, encenando a representação do masculino, sem desvencilhar-se do feminino, passando a habitar em seu construto fictício e literário, o mito do eterno feminino, em retorno ao seu empreendimento. Para o estudo em questão, selecionamos trechos da prosa roseana atestando e corroborando nossa hipótese para o que foi eternizado ao longo da história das mulheres, no campo simbólico instituído. Em Diadorim, o corpo é representação para encenar o masculino, resguardando-se do originário – sexo, sexualidade, desejo. O debate acerca dos estudos de gênero encontra na ficção literária do Rosa elementos para compor o funcionamento e as características que definem as mulheres, mas também, as excluem dentro do campo do poder e da política, das decisões sobre seu próprio corpo. Concebendo a opressão sociocultural na esteira que concebeu à mulher a submissão e o lugar reservado da eterna
condição feminina do segundo sexo e frágil, Diadorim com força de atuação invade o campo simbólico numa tentativa de empoderar-se e valer-se do masculino na tomada de decisões, justificando, nessa dissertação, a escolha e a performance, como elementos que propiciam nessa política de tornar as mulheres visíveis, é uma das lutas para possibilitar no campo da política e na sociedade, que os direitos e a visibilidade das mulheres possa se efetivar.