Instituto de Letras e Comunicação. Programa de Pós-Graduação em Letras
Determinante do conceito de modernidade é o exame do elo que permite unir, sob uma mesma noção, fatores como tradição e ruptura, tônica desta dissertação que pretende discutir o modo como, em "Buriti", novela de Guimarães Rosa (1908-1967) publicada em Corpo de baile (1956), os elementos arcaico e moderno se tornam congruentes. Pela via do erotismo, tomado enquanto tema preponderante dessa narrativa, a dissertação em tela visa elucidar, por meio da interpretação do texto-base rosiano que sustento, o quanto o espaço sertanejo é o lugar onde os ditames sociais que regulam o comportamento das personagens dessa obra revestem o patriarcalismo, em certa medida retrógrado, de um caráter diferenciado, hodierno, isso porque, quando analisados os juízos e as atitudes, sobretudo a conduta sexual de protagonistas como, por exemplo, o latifundiário Liodoro e sua filha mais nova, Maria da Glória, se constata um alto teor erótico, presente nas falas e gestos desses agentes, cuja capacidade de dotar o sertão mineiro com uma dimensão moderna é problemática, na proporção em que, ao que parece, Guimarães Rosa relativiza os valores obsoletos daquela contemporaneidade, circunscrita aos anos de 1930 ou 1940, como que interrogando em que medida seriam eles, de fato, atuais para aquela circunstância. Assim, em termos metodológicos, para cumprir os objetivos aqui propostos, autores como Georges Bataille (1897-1962), Zygmunt Bauman (1925-), Anthony Giddens (1938-) e Marshall Berman (1940-2013) serão oportunos, visto que suas teorias esclarecem tanto as questões que envolvem o tema deste trabalho quanto o seu principal argumento: o de que a modernidade, em "Buriti", se dá como a encenação de contradições que, mais do que opostas, são complementares, sendo, dessa maneira, que categorias consideradas antagônicas, como interdito/transgressão e convenção/novidade serão abordadas. Dessa forma, a investigação empreendida nesta dissertação é dividida em três (3) capítulos, nos quais procurei, no primeiro, expor as supracitadas fontes teóricas de que me utilizei neste trabalho para interpretar, no segundo capítulo, a estória rosiana. Já na terceira porção textual, correspondente ao exame da recepção de "Buriti", meu intuito é indiciar o discurso da crítica, para, com isso, referir as disparidades entre os diversos horizontes interpretativos da trama em pauta, os quais, sob os mais variados aspectos, renovam os estudos de Guimarães Rosa.
Palavras-chave atribuídas pela pesquisa:
Erotismo