Notas

A morte de Otávio Frias Filho, proprietário da Folha de S. Paulo

Otávio Frias Filho, proprietário jornal diário Folha de S. Paulo, morreu neste dia 21 de agosto aos 61 anos, vítima de câncer no pâncreas.

Conhecido por dirigir a implantação da reforma que ficou conhecida como Projeto Folha, Frias Filho teve o mérito de ser o pioneiro de implantar um padrão de produção profissional no jornalismo brasileiro. O momento era especialmente adequado, o final dos anos 1980 quando o país entrava no ciclo de fim da ditadura militar e a implantação da democracia institucional.

O jornalismo é filho direto da democracia liberal. E isto Frias Filho teve a capacidade de fazer a leitura correta: a medida que o país entrasse neste novo momento, a demanda por um jornalismo independente e que se comportasse como o monitor do poder tenderia a aumentar e criar um público potencial. Frias Filho transformou os momentos políticos do cenário brasileiro em uma oportunidade de mercado para o jornal que dirigia. E fez com grande competência, tanto é que a Folha de S. Paulo que era um jornal secundário no panorama do jornalismo brasileiro rapidamente se transformou em um dos principais veículos informativos do Brasil.

O vínculo que a então nova Folha de S. Paulo criou com o movimento das Diretas Já em 1984 cristalizou uma percepção na opinião pública que o diário era a “voz dos novos ventos democráticos”. Com esta legitimidade, o jornal tanto pode trazer para dentro da sua equipe vários profissionais que tiveram passagem nas lutas pela democracia, em particular no movimento estudantil nos anos 1970 e 1980, ao mesmo tempo que implantava processos rígidos de produção que geraram conflitos tensos com a organização sindical dos jornalistas e denúncias de assédio moral. A pluralidade de opiniões nas páginas reservadas à opiniões, particularmente a da página 3 combinava-se com uma tendência à padronização dos procedimentos de produção jornalística, expressos no seu Manual de Redação. Ao mesmo tempo, inovou ao ser o primeiro jornal a implantar o serviço de ouvidor, o ombudsman, que também serviu como reforço aos procedimentos de avaliação interna existentes no jornal.

A legitimidade que Frias Filho buscava garantir dentro de uma certa parcela da intelectualidade, não obstante não esconder seus objetivos claramente empresariais, expressava-se pelos seus trânsitos em áreas artísticas – como, por exemplo, suas aventuras como dramaturgo ou algumas críticas literárias que saiam publicadas no jornal – e as constantes investidas do diário em produtos para este segmento, como os suplementos de ensaios “Folhetim”, “Mais” e depois o “Ilustríssima”. Um intelectualismo que, por vezes, se expressava por um comportamento blasé ante a coisas que discordava. E que, na Folha, legitimava ao desprezo ante a críticas como, por exemplo, de militantes que questionaram a publicação de uma ficha falsa do Deops da ex-presidenta Dilma Roussef um pouco antes das eleições de 2014.

Frias Filho participou de várias atividades na ECA. Em 1984, participou de uma das mesas da Semana de Jornalismo que discutiu “Marx e a Imprensa”, afirmando que discordava do pensamento marxista por colocar, segundo ele, em posições antagônicas “essência” e “aparência”; costumava dar a última aula de uma disciplina optativa que era ministrada no Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) em convênio com a Folha de S. Paulo – ocasião em que agradecia por ter a oportunidade de ouvir críticas ao jornal por parte dos alunos.

Segundo jornalistas que trabalharam diretamente com ele, a sua frase mais comum era que o jornal deveria atender sempre a “sua excelência, o leitor”. Otávio Frias Filho levou ao limite o jornalismo como uma atividade empresarial e um produto comercial.

 

Dennis de Oliveira